Dr. Reinaldo de Mattos Corrêa (*) –
Em dois artigos jornalísticos recentes, publicados no Jornal Folha de Dourados, apresentamos elementos da ancestralidade comum entre os povos indígenas do Brasil e os japoneses: Conexões Ancestrais: Reconstrução de Laços Entre Povos Indígenas e Japoneses (18.02.2024), Parentesco Genético Entre Povos Indígenas do Brasil e o Povo Japonês: Jornada Ancestral do DNA (19.02.2024).
Agora, afirmamos que a comunidade nipo-brasileira, com mais de 1,5 milhão de pessoas, é a maior população de descendentes de japoneses fora do Japão. A história dela no Brasil marcada por migrações, trabalho árduo e integração à cultura local. No entanto, um aspecto crucial da identidade nipo-brasileira ainda é pouco explorado: a ancestralidade indígena.
Embora historicamente subestimada, a ancestralidade indígena é parte fundamental da identidade nipo-brasileira. Negar essa herança significa negar parte de si mesmo e perpetuar estereótipos e desigualdades.
A negação da ancestralidade indígena pode ter diversas consequências negativas, como:
- Perda da identidade: impede a comunidade nipo-brasileira de se sentir completa e integrada à sociedade brasileira;
- Dificuldade em reconhecer o racismo: dificulta o combate ao racismo e à discriminação, tanto em relação à ascendência asiática quanto à indígena;
- Perpetuação de estereótipos: reforça a visão negativa e discriminatória sobre os povos indígenas;
- Perda de sabedoria ancestral: impede a reconexão com a sabedoria e os ensinamentos ancestrais sobre a relação com a natureza.
Reconstruir a identidade nipo-brasileira e reconhecer a ancestralidade indígena é um processo fundamental para:
- Fortalecer a identidade: reconhecer a riqueza e a complexa história da comunidade nipo-brasileira;
- Combater o racismo: unir-se à luta contra o racismo e a discriminação contra todos os povos marginalizados;
- Desconstruir estereótipos: contribuir à desconstrução de estereótipos e preconceitos contra os povos indígenas;
- Reconectar-se com a sabedoria ancestral: reconectar-se com a sabedoria e os ensinamentos ancestrais sobre a relação com a natureza.
É crucial superar o racismo internalizado e externo que permeia a sociedade brasileira e que pode estar presente na comunidade nipo-brasileira, como em qualquer outro grupo social. Isso significa:
- Evitar generalizações: reconhecer a diversidade de pensamentos e experiências dentro da comunidade nipo-brasileira;
- Questionar estereótipos: combater os estereótipos sobre os povos indígenas e promover a valorização da diversidade cultural;
- Adotar a perspectiva intercultural: reconhecer a riqueza da interconexão entre diferentes culturas e promover o diálogo intercultural.
A reconstrução da identidade nipo-brasileira, o reconhecimento da ancestralidade indígena, é um processo coletivo que envolve:
- Diálogo intercultural: diálogo aberto e respeitoso entre diferentes grupos étnicos e sociais;
- Educação antirracista: educação que promova o respeito à diversidade e combata o racismo em todas as formas;
- Valorização da história e da cultura: valorização da história e da cultura dos povos indígenas e da comunidade nipo-brasileira.
Reconhecer a ancestralidade indígena não significa negar a ascendência japonesa ou a cultura nipo-brasileira. Significa abraçar a riqueza e a complexidade da identidade nipo-brasileira, construindo uma comunidade mais justa, inclusiva e intercultural. Por meio do diálogo, da educação antirracista e da valorização da história e da cultura, podemos construir um futuro mais justo e igualitário.
A Constelação Familiar pode ser uma ferramenta útil para auxiliar os nipo-brasileiros no processo de reconhecimento da ancestralidade indígena. Por meio da recriação de dinâmicas familiares, é possível identificar os padrões e crenças que impedem a reconexão com essa parte da história.
A ancestralidade indígena é a herança valiosa que deve ser reconhecida e celebrada. Reconstruir a identidade nipo-brasileira, reconhecer essa ancestralidade, é um passo fundamental à construção da sociedade mais justa, igualitária e intercultural.
(*) É Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.