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Madrugada

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22/08/2020 08h49 – Por: Folha de Dourados

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Elairton Gehlen – escritor

Tem coisas na vida que não se pode fazer uma afirmação segura, tipo quando se diz que um copo está meio cheio, pode muito bem estar meio vazio com a mesma quantidade de líquido. Assim também parece que é na madrugada quando se perde o sono e fica-se olhando pela sacada para ver se pelo menos mais uma alma viva esteja acordada para fazer companhia, mesmo que de muito longe, uma luz acesa numa janela já é um sinal de esperança de que a solidão não irá depositar todo seu peso nas costas de uma só pessoa.

Perder o sono de madrugada não é bom, mas ficar acordado nessas horas pode ser aquele privilégio que poucos tem de ouvir o silêncio da noite enquanto vive a cidade que dorme quase como se fosse o único morador. Nessa hora daria para dar um golpe de estado e proclamar a sua própria independência sem que houvesse resistência alguma. Foi na madrugada de primeiro de abril de 1964 que os militares deram o golpe contra a democracia.

Às vezes fico acordado até de madrugada e não sei se daí já é tarde da noite ou cedo do dia. Ontem acordei às três da madrugada e achei que era cedo do dia, fiz chimarrão e assumi o controle político da nação. Revoguei a Constituição e fiz uma nova com leis que servem para sociedade em vez de leis que servem para os homens que escrevem as leis. Declarei constituído um Congresso de pobres, revoguei todas as classes dos nobres e institui no Senado todas as classes de favelados, ao lado dos Sem Terra e dos abandonados. Para relator, um analfabeto, Artigo primeiro: É proibido baixar decreto!

Consta, ainda no regulamento, que farão parte do novo parlamento pessoas que não dependam da razão: Poetas, poetisas e cronistas, contistas, chargistas, mas nunca Charlatão. E o segundo artigo antes da publicação no diário oficial proíbe a vida em solidão sob pena de grande mal. Publique-se. Cumpra-se!

Feita a publicação, tomei meu café da manhã e fui ver o noticiário matinal na televisão. Depois de anunciar que o Brasil teve mais de cem mil mortes pelo COVID, mostrou o Bolsonaro reafirmando o acordo com o Centrão. Então percebi que a madrugada se acabara é seria melhor eu ir dormir.

Elairton Gehlen

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