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Elairton Gehlen escreve: ‘Xucro, de Minas, de Deus’

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Elairton Gehlen – escritor 

Só fiz requeijão uma vez na vida! É muito trabalhoso e demorado, exige muita dedicação e cuidado com cada detalhe em sua preparação, mas o resultado é maravilhoso! UAI, SÔ! O conhecimento vem das Minas Gerais, esparramado entre as fazendas de gado e as prostitutas da cidade, na lida bruta do xucro peão de fazenda irrequieto que vira investigador de polícia e não tem dó, nem um pouquinho do abestado que ousa enfrentar as leis do sistema que põe em ordem as injustiças institucionalizadas. 

Para fazer o requeijão, só se lavar a coalhada umas quatro vezes na água e na brancura do leite até um sinal de pureza aparecer e daí passar no fogo com manteiga e mexer, mexer, mexer, até dar o ponto! Quem me ensinou? UAI, SÔ, foi um mineiro xucro sem pai nem mãe, lapidado na lida do campo, tirando leite de vaca nelore e juntando três litros por dia até ter os vinte necessários para o queijo de requeijão. Era dura a vida? Era! Tão dura quanto abandonar a prostituição e assumir a santidade. Santidade! O coalho separa o soro da coalhada e o leite que vira queijo encontra o útil e o inútil de si. O soro, vai para os porcos. 

Passa nas águas Mineiro xucro e vai fazer queijo de requeijão com tua belíssima princesa! Agora investiga, SÔ, se teu patrão tem fazenda de gado ou de ovelhas e faz a tua escolha! Não há mal que nunca se acabe! Tem manadas de ovelhas procurando águas de remanso! Tu vês, parecem burros xucros. Quem já foi domado conhece o caminho da doma! Hora de organizar o chicote. A massa de mexer não é mais o leite, a fonte do leite não é mais a vaca. UAI, SÔ! Hora de deixar Minas para trás. A messe é grande e os operários são poucos! 

Quem diria Zé Olímpio que o cajado viria direto para as tuas mãos? Eu, sim, eu mesmo, andava procurando águas de remanso em rios de cachoeira. Nunca pensei em fazer queijo de requeijão. Só senti algo tocando de leve em mim, era o cajado, mal sabia por onde andava e deixei-me levar, quando vi estava lá, UAI! Palavras de sabedoria que me levaram numa linguagem chula! Por que devo seguir um pregador que prega mal e não sabe terminar um discurso sem começar outro inútil e irritar o aprisco? Foi no particular que te corrigi, justo eu, pobre pecador que agora anda pelo vale das sobras. Não me leve a mal, mas naquele dia tu te colocaste muito abaixo de mim, humilhação de quem só pode ser muito, mas muito maior que eu, e tu sempre foste! 

Só uma vez fiz queijo de requeijão. E tu foste meu professor. Só uma vez vi a Glória e tu foste meu pastor! E agora te vás? Não vou ficar triste, tu nos deixaste um rastro de alegria! Recuso vestir o luto, tu nos mostraste o caminho da vida! Mas estou chateado, ah, estou. Quando te foste daqui para o Mato Grosso te fizemos uma belíssima despedida, e agora te vais, assim, sem se despedir? Caro Pastor José Olímpio, não gostávamos de você, mas te amávamos mesmo assim! Já que te vás, vá em paz, a Glória está diante de ti! 

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