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‘Dois dias na ala Covid’, crônica do escritor douradense Elairton Gehlen

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Elairton Gehlen – escritor –

Érica é uma enfermeira muito simpática e competente, assim também o Dione. Onde eles trabalham? Na Ala COVID do hospital Rondon, eu estou nessa Ala cuidando da minha querida, minha querida mãe no alto dos seus oitenta e seis anos de idade, com uma memória brilhante de quem joga canastra quase diariamente, lê livros e escreve diário há vinte anos e só falha quando está assim, tipo na Ala COVID. 

Essa ‘Ala’ é um lugar meio assustador para quem assiste noticiário na televisão. Quando cheguei, antes de ontem, quase meia noite, me disseram na recepção que se eu entrasse, e eu teria que entrar, não poderia sair por nada até que minha mãe tivesse alta, se tivesse. Não tinha ninguém à vista na Ala até que abri a porta e lá estava ela, nenhuma linha escrita no diário, dois tubos de soro na veia ligados ao mesmo tempo e aquele canudinho que entra pelo nariz para levar oxigênio ao corpo que dormia depois do remédio calmante. 

O quarto que entrei não era um quarto comum, a placa na porta indicava algo absolutamente ameaçador: COVID-19 – SUSPEITO! Bem assim, em letras garrafais que é para todos saberem que ali estava alguém muito perigoso, para se aproximar eram necessários todos os cuidados e paramentos, aproximação só em caso de extrema necessidade, tipo os trabalhos dos enfermeiros e uma vez por dia um médico que ostenta orgulhosamente o título de doutor! 

Mal o dia clareou e o doutor apareceu, leu a paciente e relatou o parecer: Tua mãe está aqui porque apresentou sintomas parecidos com os dos contaminados pelo vírus dessa pandemia. O teste, ainda não foi feito, mas será se o quadro se agravar ou quando tiver alta, aí é só esperar o resultado em casa, em isolamento. Saiu para só retornar no dia seguinte. Antes que o dia seguinte cheguasse, por um dia inteiro convivemos com incansáveis cuidados da Érica e do Dione. 

Mas, o que fazem neste lugar perigoso a Érica que tem dezesseis anos de profissão e o Dione que antes de ser enfermeiro era, isso mesmo, caminhoneiro? Sim, eles fazem a mesma coisa que eu vim fazer, dar a vida pela minha mãe! O doutor acabou de fazer sua visita pelos pacientes. Auscultou cuidadosamente o batimento cardíaco e o barulho da respiração, daí falou do resultado da tomografia que recomendara desde ontem. O quadro é favorável, logo mais à tarde será dado alta. O teste para a COVID será feito e o resultado pode ser esperado em casa, em isolamento claro. 

Eu vou para casa, em isolamento por duas semanas, na torcida por não estar infectados e daí a vida segue. No campo de batalha deixo os guerreiros Éica, Dione, Angélica, o doutor e todos que dia a dia enfrentam a COVID com a graça de um dançarino e a determinação de um comandante. 

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