Desdobramento da “farra da publicidade” vira caso de polícia com graves implicações do prefeito e aliados
Por Valfrido Silva, do blog Contraponto MS –
Como se fosse pouco quase um milhão de reais para salvar da insolvência o jornal de seu mais íntimo assessor e guru, o colunista social Alfredo Barbara Neto, escândalo que ficou conhecido como “farra da publicidade” do tempo em que era presidente da câmara municipal, mais uma grave denúncia contra Alan Guedes, agora como prefeito: ele teria mandado oferecer meio milhão de reais para cooptar a ex-assessora da vereadora Lia Nogueira, Patrícia Brandão, para que ela forjasse uma denúncia de assédio moral como forma de tentar impedir a escalada de denúncias de sua chefe. Este, o abacaxi que Lia Nogueira deu para o titular do primeiro DP, delegado Gustavo Mussi, descascar nesta segunda-feira. Para robustecer um eventual processo judicial, a vereadora entregou à polícia vários prints de conversas dos envolvidos em grupos de WhatsApp, na esperança de que haja a quebra sigilo telefônico e bancário da ex-assessora, para que a verdade venha à tona.
Como se os envolvidos nesse escândalo estivessem acometidos por uma profunda amnésia, tudo acontecendo concomitantemente com a publicação das sentenças condenatórias – 125 de prisão, no total – de mais um lote dos cerca de sessenta uraganos, entre os quais outro guru de Alan Guedes, o ex-vice-prefeito Carlinhos Cantor, os ex-presidentes da Câmara Júnior Teixeira e Sidlei Alves, além de ex-secretários do falecido Artuzi, como o de governo Alziro Moreno, que pegou pena maior (21 anos de reclusão) e a ex-secretária de Fazenda, Ignez Boschetti Medeiros. Ou seja, pelo modus operandi, Alan Guedes e sua turma parecem ter a mais absoluta certeza de impunidade.
O ex-vice-prefeito Carlinhos Cantor não é o único elo de ligação entre a Uragano, o maior escândalo de corrupção da história de Dourados, e a administração Alan Guedes. Nos prints das conversas da ex-assessora Patrícia Brandão com uma ex-colega do gabinete de Lia Nogueira, além da gravidade da alusão ao valor envolvendo sua eventual cooptação por Alan Guedes – “era pra mim estar com meio milhão na minha conta agora” – ela fala da pressão que estaria sofrendo por pessoas ligadas ao prefeito – “o povo do Alan jornalista (sic), todos na minha porta, atrás de mim”, para, enfática, nominar aquele que seria o emissário do prefeito – “o broca foi na minha casa” – referindo-se ao repórter policial Sidney Bronca. Lembrando que Bronka (FM-94), dublê de Oswaldinho Duarte (FM 92), é homem da mais alta confiança do radialista-deputado Marçal Filho, envolvido até o talo na operação Uragano, depois de flagrado falando dos valores que exigiria como “retorno” do então prefeito Ari Artuzi para desistir de sua candidatura a deputado federal. Outra preposta de Marçal Filho, à época, sua colega de trabalho, Keliana Fernandes, também foi flagrada na Uragano com a faca no pescoço do então secretário de governo de Artuzi, Eleandro Passaia, exigindo dinheiro da prefeitura para um evento da emissora que ajudava a tocar com Marçal Filho. Daí a expertise de Sidney Bronka, “alansista” de carteirinha, para cuidar desse tipo de negociação.
Mesmo apostando na impunidade, o prefeito Alan Guedes não está tão indiferente, assim, às denúncias de Lia Nogueira. Por meio de aliados na Câmara, ele sonha cassar o mandato da ferrenha opositora e já começou a sinalizar nesse sentido, encarregando o presidente da Casa, Laudir Munaretto, da caça às bruxas. A ordem é para pôr todos os assessores e aliados de Lia no olho da rua, operação que começou neste fim de semana. Enquanto isso, ganha tempo para continuar alimentando, com muita grana, os veículos subservientes à sua administração. Falando em transparência, mas só na propaganda enganosa da TV, e dando a entender estar respaldado pelo MP, em nível local, e pela maioria dos vereadores, não abre, nem que a vaca tussa, do quanto gasta com a mídia subordinada. Tal qual fazia com Alfredo Barbara Neto, que mesmo com um jornal cambaleante, levava o grosso da verba publicitária da câmara em seu tempo como presidente. No que depender de Lia Nogueira e dos insubordinados da imprensa, entretanto, Alan Guedes não deve ter dias fáceis pela frente. A guerra está só começando.
