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Oportunidade de tempo da mulher e suas influências no consumo de alimentos

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08/03/2018 12h04

Por: Folha de Dourados

Neste 08 de março, Dia Internacional da Mulher, a entrevista do mês produzida pela Assessoria de Comunicação da UFGD faz a divulgação do livro “Consumo Domiciliar de Alimentos”, de autoria da professora Madalena Maria Schlindwein e publicado pela Editora UFGD.

A autora é professora e pesquisadora da UFGD na Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Economia (FACE) e também atua no Mestrado em Agronegócios. Em “Consumo Domiciliar de Alimentos” ela observou uma significativa mudança nos padrões de consumo alimentar das famílias brasileiras ao longo das últimas décadas, transformações que vêm ocorrendo por causa de fatores como a urbanização, a participação da mulher no mercado de trabalho e até mesmo na estrutura familiar. Além do trabalho fora de casa, as mulheres ainda são, na maioria das vezes, as principais responsáveis pelos cuidados com os filhos e com a casa, isso influencia fortemente o padrão de consumo das famílias. E também é crescente o número de famílias em que o chefe da família é a mulher, famílias com apenas um membro, ou dois, mulheres solteiras que moram com seus filhos.

Na discussão sobre os fatores que afetariam tais padrões, merece destaque o custo de oportunidade do tempo da mulher, que está diretamente relacionado a um aumento na probabilidade de consumo e ao gasto domiciliar com os alimentos que demandam um menor tempo de preparo – como alimentos prontos, pão, refrigerantes e sucos, iogurtes e a alimentação fora do domicílio. Esse custo estaria inversamente relacionado tanto à probabilidade de consumo quanto ao gasto familiar, com os “alimentos tradicionais”, feijão, arroz, mandioca, carnes e farinha de trigo – que, em geral, demandam um maior tempo de preparo.

O livro é um dos resultados da tese intitulada “Influência do custo de oportunidade do tempo da mulher sobre o padrão de consumo alimentar das famílias brasileiras” que Madalena Maria Schlindwein produziu no Doutorado em Ciências (Economia Aplicada) da USP (Universidade de São Paulo). A obra foi publicada no ano de 2014 em está disponível para download em http://files.ufgd.edu.br/arquivos/arquivos/78/EDITORA/catalogo/consumo-domiciliar-de-alimentos-influencia-de-fatores-socioeconomicos-e-do-custo-de-oportunidade-do-tempo-da-mulher-madalena-maria-schlindwein.pdf

Confira a entrevista:

1) O seu livro traz a relação entre o consumo de alimentos e fatores socioeconômicos e demográficos brasileiros. Qual a importância de fazer uma análise com essas variáveis?
Madalena Maria Schlindwein – Tanto o consumo quanto o acesso da população aos alimentos estão diretamente relacionados a fatores como a sua disponibilidade no mercado e seus respectivos preços. Desta forma, questões como o tamanho e a composição das famílias, sua renda, o sexo do chefe da família, a região do país onde residem e a urbanização, além de fatores culturais possuem forte influência sobre a aquisição de alimentos.

Todos esses fatores se mostraram muito significativos na análise de padrões de consumo domiciliar de alimentos. A Urbanização, por exemplo, mostrou que enquanto a probabilidade de consumo de arroz, feijão, mandioca e farinha de trigo (que são alimentos que demandam um maior tempo para seu preparo) foi menor na área urbana em relação à rural, o consumo de alimentos considerados ‘poupadores de tempo’ (alimentos prontos, pães, refrigerantes e sucos e alimentação fora de casa) são mais consumidos na área urbana.

No enfoque desse livro fez-se também a análise do custo de oportunidade do tempo da mulher, que foi medido considerando o nível de instrução da mulher. Essa variável também se mostrou altamente significativa sobre os padrões de consumo alimentar das famílias.

Análises como essa nos ajudam a compreender como os consumidores tomam suas decisões de consumo. Além de apontar tendências, em relação ao consumo, que são úteis na tomada de decisão de indústrias, nos incentivos fiscais e políticas públicas direcionadas à produção de alimentos, entre outros.

2) A sua pesquisa percebeu alguma mudança dos padrões de consumo de alimentos? Qual é o papel da mulher nessas mudanças?
Sim, verificou-se uma mudança considerável na quantidade per capita de alimentos adquiridos para o consumo no domicílio, desde a década de 1970 até a década de 2000. Como exemplo, pode-se destacar uma redução considerável na aquisição de alimentos como feijão, arroz, batata inglesa, açúcar refinado e um aumento na aquisição de alimentos prontos, refrigerantes e sucos e iogurtes.

O papel da mulher é extremamente relevante, o estudo mostrou que a variável nível de instrução da mulher foi diretamente relacionada ao consumo de alimentos considerados ‘poupadores de tempo’ (alimentação fora de casa, alimentos semi prontos, pão, refrigerantes e sucos e iogurtes) e inversamente relacionada ao consumo de alimentos que demandam um maior tempo para seu preparo (feijão, arroz, batata, mandioca, carnes e farinha de trigo). Isso acontece porque a mulher tem uma participação cada vez maior no mercado de trabalho, e com isso seu tempo para o preparo dos alimentos no domicílio fica mais reduzido. Além do trabalho fora de casa, elas ainda são, na maioria das vezes, as principais responsáveis pelos cuidados com os filhos e com a casa, isso influencia fortemente o padrão de consumo das famílias.

E essa condição dificilmente irá se alterar, precisamos nos adaptar. Cada vez mais as mulheres participam do mercado de trabalho e, além disso, a estrutura das famílias está mudando. É crescente o número de famílias em que o chefe da família é a mulher, famílias com apenas um membro, ou dois, mulheres solteiras que moram com seus filhos. Com isso aumenta o consumo de uma alimentação mais prática, fácil e rápida para ser preparada, aumenta também o número de refeições realizadas fora do domicílio.

3) O seu trabalho diferencia os alimentos com base no tempo que demandam para seu preparo. Você pode apontar alguns dos principais prejuízos do consumo de alimentos poupadores de tempo?
Madalena Maria Schlindwein – Não necessariamente o consumo desses alimentos considerados ‘poupadores de tempo’ devam ser considerados prejudiciais à saúde, tudo depende da frequência de consumo desses produtos, dos ingredientes, etc. Beber refrigerante e comer pizza ou hambúrguer diariamente pode afetar a saúde, com problemas como obesidade, pressão alta, entre outros. Mas se consumidos esporadicamente provavelmente não tenham um efeito negativo.

Quando se fala em consumo alimentar é preciso ter em mente que a saúde das pessoas e sua qualidade de vida estão diretamente relacionados aos alimentos que ingerem. O consumo excessivo de produtos industrializados, lanches rápidos, refrigerantes e sucos industrializados e, inclusive, a alimentação feita de uma forma muito rápida, podem ter um efeito nocivo à saúde das pessoas.

Nesse sentido, é preciso ter bom senso, escolher bem os alimentos que a nossa família está ingerindo. Uma população bem alimentada, bem nutrida, terá menos problemas de saúde, e qualidade de vida bastante superior. O que, no final das contas, é o mais importante, que as pessoas tenham uma vida feliz e saudável. E para isso são muito importantes fatores como uma boa alimentação e a prática de atividades físicas, preferencialmente ao ar livre, em contato com a natureza.

4) Diante dessa situação, o que aponta como necessário para combater os riscos de uma alimentação inadequada?
Madalena Maria Schlindwein – Bem, é possível destacar algumas coisas. Por exemplo, a meu ver não tem problema em fazer as refeições fora de casa e consumir alguns produtos industrializados, desde que sejam escolhidos os alimentos ideais para a saúde. Além disso, pela facilidade, os pais acabam comprando lanches prontos e sucos industrializados para seus filhos. Isso não é saudável se for utilizado no dia a dia, mas se for somente de vez em quando não tem tanto problema. É preciso ter em mente que preparar os alimentos da família é bem trabalhoso, mas com a ajuda de todos pode se tornar uma tarefa agradável, que pode unir mais a família. Pode inserir valores de uma alimentação saudável nas crianças.

Não podemos esquecer que a obesidade está se tonando um problema sério no Brasil. E a alimentação tem uma grande influência nisso. Mas também é preciso considerar que as mudanças no estilo de vida das pessoas tem sua parcela de contribuição. Ou seja, a vida urbana, com a correria do dia a dia, o uso de transporte público ou a utilização de automóveis para nos deslocarmos, desde a ida ao trabalho, até a ida à padaria, alteram a necessidade de ingerir alimentos bem como a quantidade ideal para a nossa saúde. Já as crianças ficam menos tempo brincando em parques, correndo, andando de bicicleta, subindo em árvores, e mais tempo em frente à TV, com jogos eletrônicos, celular entre outros. Todas essas mudanças fazem com que se eleve cada vez mais o número de crianças e adultos obesos.

A informação é uma grande aliada em termos de saúde pública, um consumidor informado, em relação a importância da qualidade dos alimentos, será também um consumidor exigente, e que não compra mais qualquer produto. Há uma tendência ao consumo de alimentos orgânicos, por exemplo, consumo esse que precisa ser mais incentivado. Sendo seu preço ainda um dos grandes entraves ao aumento no consumo. Para resolver isso, é preciso linhas de crédito, e ações de assistência técnica disponibilizados aos agricultores, principalmente os familiares, para o incentivo ao aumento na produção. O aumento na oferta desses produtos pode levar a uma redução no seu preço final e assim afetar positivamente o consumo desses produtos.

Por fim, eu acredito que o nível de consciência das pessoas sobre a importância de uma alimentação saudável está crescendo. Com isso, a exigência em relação aos produtos adquiridos aumenta, e as indústrias precisam se ajustar. Desta forma, se terá cada vez uma maior variedade de produtos à disposição dos consumidores, e a própria disputa pelo mercado fará com que essas empresas se adequem, e ofereçam produtos mais saudáveis, com menos elementos nocivos que possam prejudicar a saúde das pessoas.

Oportunidade de tempo da mulher e suas influências no consumo de alimentos

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