(Após a Roda de Conversa realizada na ASL na última quinta-feira, um texto brotou…compartilho com vocês.)
Ana Maria Bernardelli –
Nas dobras do tempo, repousam as lembranças de uma geração moldada pela sabedoria de uma professora singular, cujas virtudes se entrelaçavam em um mosaico de aprendizado e inspiração. Em cada sala de aula, ela não apenas transmitia conhecimento, mas também tecia laços de empatia e respeito, construindo um espaço onde os sonhos podiam florescer.
Sua presença era como uma brisa suave que acariciava as mentes inquietas, guiando-as através dos labirintos do pensamento crítico e da descoberta pessoal.
Com paciência infinita, ela desvendava os mistérios da literatura, das artes e também os segredos da vida, compartilhando não apenas fatos, mas lições de integridade, compaixão e perseverança.
Cada aluno guarda em seu coração um tesouro de momentos preciosos: as palavras encorajadoras que ecoavam nos corredores da mente, os sorrisos que iluminavam os dias cinzentos, os gestos de apoio que sustentavam os sonhos mais audaciosos. Pois essa professora não era apenas uma mestra, era uma mentora, uma guia que ajudou a desbravar os caminhos do conhecimento e da autoconfiança.
E hoje, quando olham para trás, para os anos passados em sua companhia, é com gratidão que recordam as lições que ela lhes ensinou não apenas sobre os assuntos da escola, mas sobre a arte de viver com gentileza e coragem. Sua influência transcendeu as paredes da sala de aula, deixando uma marca indelével em suas vidas e moldando-os nos cidadãos singulares em que se tornaram.
Nas aulas dessa professora especial, a riqueza cultural era como um festim para a mente e a alma dos alunos. Através do teatro, eles mergulhavam em diferentes épocas e culturas, vivenciando as emoções intensas dos personagens e descobrindo a magia da performance ao vivo.
Ao explorar as entrelinhas literárias, descobriam que cada palavra era um convite para desvendar os segredos mais profundos da condição humana, enriquecendo sua compreensão do mundo e ampliando seus horizontes mentais.
A música os transportava para além das fronteiras do tempo e do espaço, despertando emoções que transcendiam as palavras e os conectavam a algo maior do que eles mesmos. Enquanto isso, a estética das artes plásticas os desafiava a ver o mundo com novos olhos, descobrindo beleza em cada traço, cor e forma.
A professora também nutria em seus alunos uma profunda devoção à sua terra, transmitindo-lhes o amor pela história, pela cultura e pelas tradições que os cercavam. Essa conexão com as raízes os capacitava a compreender melhor quem eram e de onde vinham, fortalecendo sua identidade e seu senso de pertencimento.
Além disso, ela os inspirava a ultrapassar limites, a acreditar em si mesmos e em seu potencial para alcançar grandes feitos. Com sua orientação amorosa, eles aprendiam que não havia sonho grande demais ou obstáculo intransponível quando se tinha determinação e fé em si mesmo.
Essa crença inabalável no poder do indivíduo os impulsionava a perseguir seus objetivos com fervor e confiança, sabendo que, com trabalho árduo e dedicação, tudo era possível.
Originária da terra nordestina, vibrante, resiliente e determinada, a professora especial tomou para si essas qualidades pulsantes e plantou suas raízes no cerrado, onde floresceram tanto sua paixão pelo conhecimento quanto seu inconfundível “savoir-faire” de educadora por vocação.
Mulher inteligente, logo percebeu que aquela região exuberante estava ávida por conhecimento. Encontrou aí uma terra pronta para semear toda a sua sapiência.
Os ares da Cidade Maravilhosa, por sua vez, acolheram-na com sua energia cativante, enriquecendo ainda mais sua jornada.
Seu sotaque era uma das muitas marcas que a tornavam única, ecoando as histórias e tradições de sua terra natal em cada palavra que pronunciava. E mesmo enquanto caminhava pelas ruas movimentadas, seu andar ligeiro refletia a determinação e o entusiasmo que a impulsionavam a deixar sua marca por onde passasse.
Mesmo agora, longe dos dias de sala de aula, as lembranças persistem, como uma suave presença que pulsa na mente e no coração.
A urgência em fazer cultura, em forjar espíritos e enriquecer almas permanece viva, como um legado que essa professora deixou para seus alunos e para a sociedade sul-mato-grossense.
Cada lição aprendida, cada insight compartilhado, cada momento de inspiração continua a ecoar, guiando aqueles que tiveram o privilégio de serem seus alunos em sua própria jornada de crescimento e descoberta.
A Professora Maria da Glória Sá Rosa plantou sementes de conhecimento e colheu glórias nos corações de seus alunos.
No final das contas, é o impacto duradouro que se torna a verdadeira medida do sucesso de um educador.
Em tempo: Infelizmente não tive o privilégio de conhecê-la. O texto é fruto do que ouvi com tanta eloquência vinda de Marisa Serrano, Américo Calheiros e Henrique de Medeiros.
(*) É poeta, ensaísta, crítica literária e palestrante. Graduada em Letras, é professora especialista em Literatura Brasileira e Portuguesa, atuando por mais de 40 anos como professora de Literatura e Produção Textual e exercendo magistério desde o ensino básico até a Universidade. Também é Musicista certificada pelo Centro de Artes do Rio de Janeiro. Formada em Língua e Literatura Francesa pela Université de Nancy, França. É Membro da Comissão sul-mato-grossense de Folclore e da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras – Cadeira nº 27.
