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Wilson Matos: ‘Candidato com a cara de Dourados pode surpreender baronato da Capital’

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José Henrique Marques

O advogado e jornalista Wilson Matos da Silva, de 59 anos, que já foi cortador de cana e boia fria entrou para a história de Dourados. É o primeiro índio candidato a prefeito do segundo município mais populoso de Mato Grosso do Sul e que tem a maior concentração de população indígena do País, com cerca de 15 mil pessoas confinadas em uma área de apenas 3,5 mil hectares a poucos quilômetros de distância do centro da cidade.

O feito de Wilson Mattos não é pouco para um descendente de povos originários, num município colonizado a partir do final do século 19 por migrantes gaúchos, paulistas e mineiros. É filho de mãe Terena, Theodora da Silva, de 109 anos, lúcida e moradora da Aldeia Jaguapiru, e de Ataliba de Matos, já falecido e membro de tradicional família de Dourados de origem gaúcha.

Wilson Matos é casado, pai de seis filhos, nasceu e vive até hoje na Aldeia Jaguapiru. Já trabalhou na Funai de 1999 a 2000 e a militância política começou em 1996 quando conquistou 196 votos para vereador.

Nessa entrevista exclusiva à Folha de Dourados ele disse que sempre sonhou em contribuir com Dourados, levando “um olhar diferente para a gestão municipal, onde o meio ambiente e a família sejam o centro de todas as políticas públicas gestadas pelo município”.

Ele disse que “a política do baronato comandada por Campo Grande por vezes se surpreende com um candidato com a sua cara. Foi assim com Ari Artuzi, contrariando todo os ‘poderosos’ chefões da Capital”, ao defender a eleição, mais uma vez, de um prefeito que se identifica com as minorias e os menos favorecidos.

Sobre o preconceito que os indígenas sofrem por parcela considerável da população, o candidato a prefeito do PTB afirma que “somente as pessoas muito inseguras não tem capacidade de conviver com os outros e aceitar as diferenças naturais entre os seres humanos”.

Na entrevista ele ainda discorre sobre a presença de ONGs na Reserva Indígena, das necessidades estruturais das aldeias e da administração da prefeita Délia Razuk.

Leia a seguir, na íntegra, a entrevista.

Folha de Dourados – Há algum tempo o senhor preparava a candidatura à Câmara Municipal e com expectativa de chegar lá. Surpreendentemente entrou na disputa pela sucessão da prefeita Délia Razuk. Por que tomou essa decisão repentina?

Wilson Matos –  Minha campanha política para vereador iniciou em 1996 quando obtive 196 votos. Em 1998 entrei na universidade e me formei em ciências Jurídicas em 2003. Em 2008 já como advogado obtive nas urnas 480 votos; em 2012, 824 votos; e na última disputa, em 2016, tirei 1.084 votos. Sempre me recusei a “comprar votos”, sempre levei uma mensagem ao eleitor de que o vereador é um amigo das pessoas de seu bairro. Nesta eleição de 2020 estava tudo pronto para a tão sonhada conquista da vaga somente com o apoio dos amigos. Fui lembrado para encabeçar a chapa do PTB exatamente por aglutinar muitas pessoas que se identificam o nosso pensamento de fazer política e tive a grata satisfação de receber a indicação do Professor Leonardo Pescinelli Martins (Prof.Léo), do PDT.  Aceitei o desafio, já que a ficha de filiação da prefeita Delia Razuk não havia sido inserida no sistema de filiação do TSE. Sou contra a compra e venda de votos, pois está pratica alimenta a corrupção. Eu sempre sonhei contribuir com a minha cidade de Dourados, levando um olhar diferente para a gestão municipal, onde o meio ambiente e a família sejam o centro de todas as políticas públicas gestadas pelo município.

Folha de Dourados – História já fez, sendo o primeiro indígena e morador de aldeia candidato a prefeito de Dourados. Como contextualiza esse fato na política douradense?

É um momento impar para a humanidade, essa pandemia nos impôs tristezas, mas também nos propiciou momentos importantes como reencontro com a família. Precisamos pacificar os nossos espíritos e acalmar as nossas almas, se conscientizar que o capitalismo selvagem não nos levará a nada na política. Temos que voltar os nossos olhos ao ser humano, à família que é o mote deste planeta. A política do baronato comandada por Campo Grande por vezes se surpreende com um candidato com a sua cara. Foi assim com Ari Artuzi, contrariando todo os “poderosos” chefões da Capital. O momento é agora de Dourados se identificar com um indígena, que hoje é advogado, mas que já foi cortador de cana, boia fria e reside na Aldeia Jaguapirú, momento de nos irmanamos por esse importante instrumento que é o nosso voto e elegermos um prefeito que se identifica com as minorias e os menos favorecidos.

Folha de Dourados – É público e notório que parcela considerável da população de Dourados é preconceituosa em relação aos indígenas. Pretende debater esse tema na campanha para ultrapassar a barreira e conquistar votos dos ditos “brancos”?

Preconceito é uma opinião que formamos das pessoas antes de conhecê-las. Tenho certeza que nestes dias que estaremos levando a nossa mensagem de fé de otimismo e esperança, o eleitor de Dourados não fará julgamento apressado e superficial a meu respeito. Terão oportunidade de me conhecer melhor, até porquê, minha administração não será feita plantado em Gabinete. Nós estaremos nas comunidades das periferias ouvindo e buscando atende-las da melhor forma possível. Somente as pessoas muito inseguras não têm capacidade de conviver com os outros e aceitar as diferenças naturais entre os seres humanos – no final somos todos irmãos.

Folha de Dourados – As três aldeias de Dourados (Bororo, Jaguapiru e Panambizinho) têm cerca de 8 mil eleitores, mas até hoje elegeram apenas um vereador: Aguilera de Souza, em 2012. A sua inédita candidatura a prefeito será capaz de unificar as forças políticas internas das aldeias?

Temos falado muito entre nós, conscientizando os nossos patrícios que somos um potencial político eleitoral considerável, já que as aldeias superam todos os distritos de Dourados, em número de eleitores aptos a votar nestas eleições. Com certeza, pois pregaremos o voto indígena e como candidato a prefeito não temos adversário nas aldeias. 

Folha de Dourados – Na Reserva Indígena de Dourados a Aldeia Jaguapiru parece ser mais próspera do que a Aldeia Bororo. Isso é verdade e por que?

A Jaguapirú esteve sempre mais próxima do Posto Indígena antes da sua mudança em frente a Tengatu’í Marangatu, mais próxima do Hospital Indígena Portal da Esperança e da primeira Escola da Missão Caiuá, dos bairros Vila rosa, Vila índio e adjacências. Por isso, foi estratificando econômica e culturalmente a população. Agora isso mudou com a proximidade dos condomínios e bairros de luxo que se instalaram as margens da Bororó, aproximando com a cidade universitária e por certo impulsionará também a Bororó.  

Folha de Dourados – A rigor, quais são as necessidades estruturais das aldeias indígenas de Dourados?

Tudo! Mas temos que começar pelas essenciais, como a distribuição de água, a construção e instalação de CEIMs, habitação no formato de conjunto habitacional com toda a infraestrutura, abertura, construção e recuperação de vias de tráfego interno, cobertura das quadras esportivas das escolas municipais, dentre outras.

Folha de Dourados – A propósito, o senhor é favorável a presença de ONGs nas aldeias?

Até hoje só conheço uma que deu certo que é a Missão Caiuá. Há algumas que também prestam relevantes serviços à comunidade, mas não se pode negar que a grande maioria das ongs, seus criadores vivem no bem bom às custas das desgraças do nosso povo. Para mim ONG tem que prestar contas à comunidade e ao Tribunal de Contas da União!

Folha de Dourados – Ao longo do mandato, a prefeita Délia Razuk enfrentou e enfrenta muitos problemas, alguns do quais crônicos herdados de administrações passadas como a saúde e conservação da malha asfáltica urbana. De uma maneira geral como avalia a administração da prefeita?

Tenho dito que a prefeita Delia Razuk administrou tipo “arroz com feijão” de uma forma simples. Enquanto muitos municípios em nosso estado atrasaram o pagamento dos servidores, aqui ela se esforçou para cumprir em dia. Delia foi obrigada a honrar um TAC – Termo de Ajuste de Condutas – que não foi cumprido pela administração anterior sobre o PCCR, que virou uma Ação Civil Pública. Logo nos primeiros dias da administração, a prefeita Delia foi abrigada a cumprir o que vinha sendo postergado (empurrado com a barriga) desde 2012. Assim, para honrar dívidas do passado ficou sem o necessário para os investimentos  

Folha de Dourados – Quais as principais propostas que o senhor apresentará durante a campanha?

Em síntese, nossa proposta é fazer uma administração com o foco no meio ambiente sustentável, priorizando o desenvolvimento sustentável é aquele que responde às necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras, buscando qualidade de vida das famílias de Dourados, evitando obras faraônicas que são amontoados de concretos sem nenhuma serventia, hospitais sem equipamentos, postos de saúde sem médicos. Melhorar a educação com foco na valorização dos professores, criar um ambiente escolar agradável aos alunos em que o profissional da Educação possa sentir ali uma extensão de sua família.  Fazer uma a administração descentralizada visitando os bairros conversando com os moradores. Não faremos uma administração de gabinete. Vamos despachar na parte da manhã e à tarde visitar os bairros, ouvir os moradores… fortalecer as associações de moradores para ser o elo entre os bairros e a gestão municipal. Fortalecer e ampliar criando 04 UPAS regionalizada para que o atendimento se aproxime mais da periferia, onde está a comunidade mais carente.

Folha de Dourados – Dentro da atual conjuntura o PTB, seu partido, deve eleger dois ou três vereadores. Uma vez eleito, que métodos utilizará para construir uma base de sustentação na Câmara cooptando vereadores de outros partidos?

Nós faremos amplo debate com as instituições de classes públicas e privadas de tal forma que todas as nossas ações estejam sempre voltadas ao bem comum de todos. Vamos estabelecer um diálogo franco, aberto e respeitoso de forma institucional com o poder legislativo, com objetivo de conquistar o apoio dos parlamentares de todas a siglas para a execução das principais necessidades da população de Dourados     

Folha de Dourados – Deixe uma mensagem ao povo de Dourados.

O povo de Dourados pode se identificar comigo, pois sou nascido nesta cidade, quando vim ao mundo Dourados era uma jovem cidade de 26 anos. Nela constitui a minha maior riqueza, a minha família minha esposa e meus seis filhos. Quero cuidar de Dourados como minha grande família. A luta é de Davi contra Golias, do tostão contra o milhão, mas nós temos que acreditar na prata da casa. Vislumbro um grande futuro para a nossa Dourados, sei que com já disse Rui Barbosa, o futuro é por demais vasto para comportar minha grande esperança, já tivemos outras oportunidades quando elegemos um pobre com a nossa cara, mas o baronato da Capital o destruiu e o derrubou, temos agora nova oportunidade de usarmos a arma mais poderosa que é o nosso voto e ter um de nós com a nossa cara a administrar o destino da nossa Dourados que queremos.  

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