“Sargento, capitão, coronel: eleito é eleito. E, no parlamento, quem manda é o povo. Portanto, desçam da bandeira, tirem a farda, e respeitem as cadeiras que ocupam.” (Valfrido Silva/Contraponto MS)
Juca Vinhedo –
Pop corn and ice cream
O vexame que o ex-presidente Jair Bolsonaro deu, no último dia 6 de abril, em manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, continua rendendo. Além de piadas e memes Brasil e mundo afora, a fala incompreensível demonstra um entreguismo jamais visto em toda a história do Brasil, em seus 525 anos desde o descobrimento (que serão completados no próximo dia 22).
Rodovia da discórdia
Deputados estaduais estão se mobilizando para pedir ao Ministério Público Federal a suspensão de leilão que deverá acontecer no próximo dia 22 de maio, o qual poderá garantir a manutenção da CCR MSVia como concessionária da Rodovia BR-163, no trecho que corta Mato Grosso do Sul. Isso porque, segundo os parlamentares, a minuta da proposta da empresa não prevê a duplicação total da via, e prevê aumento no valor do pedágio antes mesmo da implantação das melhorias. Detalhe: a presença da CCR MSVia no leilão foi autorizada pelo Tribunal de Contas da União.
Questionamento pertinente
O município de Dourados assinou, em setembro de 2022, um convênio de cooperação técnica, científica e educacional com a Unifron – Faculdade da Fronteira Oeste. Acontece que somente em maio de 2023 o Ministério da Educação (MEC) fez o credenciamento oficial da instituição, ou seja, mais de oito meses após a formalização do acordo com o Município. Por causa dessa inconsistência, o vereador Inspetor Cabral (PSD) apresentou requerimento solicitando esclarecimentos do Município.
Emendas federais polêmicas
Os deputados federais Rodolfo Nogueira (PL), Marcos Pollon (PL) e as senadoras Soraya Thronicke (Podemos) e Tereza Cristina (PP) destinaram R$ 11,8 milhões em emendas para outros estados, nos anos de 2023 e 2024. Trata-se de uma medida legal, mas o Supremo Tribunal Federal está de olho, uma vez que o normal é que os repasses de emendas sejam para os Estados pelos quais os parlamentares foram eleitos.
Soraya Thronike se justifica
A senadora Soraya Thronike (Podemos) justificou sua emenda de R$ 8 milhões para o Instituto de Desenvolvimento Socioambiental em MS que realiza o projeto “Prospera MS”; outra emenda de R$ 500 mil foi destinada ao Fundo Estadual de Saúde de São Paulo, para investimentos no Hospital de Amor (antigo Hospital do Câncer de Barretos), localizado naquele estado, que recebe pacientes de todo o Mato Grosso do Sul para tratamentos oncológicos.
Rodolfo Nogueira se justifica
O deputado “Gordinho do Bolsonaro” Rodolfo Nogueira (PL) explica que a emenda que destinou ao Fundo Estadual de Saúde de São Paulo, no valor de R$ 1 milhão, na verdade, foi para a construção do Hospital do Amor, que está em obras em Dourados. O repasse aconteceu para São Paulo, segundo o parlamentar, porque o hospital do câncer de Barretos tem o CNPJ paulista.
Não faça o que eu faço
Causou estranheza o fato do deputado federal Marcos Pollon (PL), cuja corrente política critica duramente a Lei Rouanet (de incentivo à produção cultural no Brasil) destinar nada menos que R$ 1 milhão para uma empresa de São Paulo, denominada “Academia Nacional de Cultura”. A justificativa também não convence no item “prioridade”: o valor milionário será destinado à produção de uma série documental chamada “Heróis Nacionais”, que segundo o parlamentar, “contará histórias de personagens importantes para a formação do nosso Brasil”.
Deve estar sobrando
A senadora Tereza Cristina (PP) destinou um total de R$ 1.371.781,00 em três emendas, sendo uma em 2023 e duas em 2024, todas para o Estado de São Paulo. Até o fechamento desta coluna, a parlamentar bolsonarista ainda não tinha apresentado as razões pelas quais preferiu investir no rico Estado de São Paulo e não na unidade da federação que representa, ou seja, no MS.
“Anistia” divide MS
A proposta de se votar um projeto de lei que conceda anistia ampla, geral e irrestrita a todos as pessoas envolvidas com a tentativa de golpe na democracia brasileira divide a bancada sul-mato-grossense no Congresso. Metade é a favor e a outra parte é contrária, ou pelo menos, não assinou o pedido de urgência para a matéria. Votaram “sim” ao casuísmo os bolsonaristas Luiz Ovando (PP), Marcos Pollon (PL), Rodolfo Nogueira (PL) e Beto Pereira (PSDB). Não assinaram o requerimento: Geraldo Resende (PSDB), Camila Jara (PT), Dagoberto Nogueira (PSDB) e Vander Loubet (PT).
O mundo precisa saber
Até o fechamento desta edição, o deputado federal Glauber Braga (PSol-RJ) completava oito dias de greve de fome, em uma sala da Câmara dos Deputados. O motivo: protesto contra a aprovação de pedido de cassação de seu mandato, por ter empurrado e chutado um militante do MBL (Movimento Brasil Livre) que, nos corredores da Câmara xingou, aos gritos, a mãe do parlamentar, que acabou falecendo poucos dias depois.
Coerência é isso
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-RJ), que está nos Estados Unidos desde 27 fevereiro último, supostamente para denunciar “as injustiças” que são cometidas no Brasil, não falou, até agora, um “a” sobre a situação de seu colega de parlamento Glauber Braga. Detalhe: Eduardo Bolsonaro pediu licença de seu mandato, oficialmente, no dia 20 de março, mas recebeu, no mês passado R$ 4,2 mil de auxílio-moradia pela Câmara.
Também nos “States”
Outro parlamentar federal que participa, essa semana, de missão oficial nos Estados Unidos é Geraldo Resende (PSDB), cuja viagem foi custeada pela Associação Nacional de Hospitais Privados. O objetivo, segundo o parlamentar, é conhecer novas metodologias de pesquisa, aprimoramento de políticas de governo na área da saúde e desenvolvimento de ações relacionadas à gestão de redes hospitalares públicas e trazer esses conhecimentos para a sua vivência como parlamentar envolvido com a área da saúde.
A morte é democrática
“Tataravô da moral e dos bons costumes”. Foi esse o adjetivo que o professor e advogado Tiago Botelho (que foi candidato a prefeito de Dourados pelo PT nas últimas eleições) deu ao deputado estadual Coronel David (PL). Tudo porque o parlamentar pediu, e o governador Eduardo Riedel atendeu: retirou a função de confiança de um servidor que desejou, em postagem numa rede social, a morte do ex-presidente Jair Bolsonaro. Botelho cobrou o fato de deputado não ter se pronunciado quando o próprio Bolsonaro torceu publicamente pela morte da ex-presidente Dilma Roussef “infartada ou com câncer”.
Justa indignação
A deputada estadual Lia Nogueira (PSDB) reagiu, indignada, a um caso de agressão e bullying contra um aluno com Transtorno do Espectro Autista (TEA) do município de Três Lagoas. Ela cobrou resposta urgente e efetiva das autoridades estaduais, e enfatizou que, como mãe atípica, entende profundamente o impacto que episódios de violência escolar podem ter na vida de uma criança. Segundo ela, “é dever do Estado assegurar um ambiente escolar inclusivo, seguro e respeitoso, especialmente para alunos com deficiência”.
Contraponto ao popcorn
Iniciativa que também merece destaque é da deputada estadual Gleice Jane (PT). Ela propõe que as línguas indígenas faladas em Mato Grosso do Sul sejam consideradas patrimônio cultural imaterial. Para tanto, protocolou na Assembleia, essa semana, o Projeto de Decreto Legislativo 05/2025, que prevê o tombamento das línguas Guarani, Kaiowá, Terena, Kinikinau, Kadiwéu, Guató e Ofayé.
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BASTIDORES DO PODER
Tem gato na linha
Flagrado numa cena inusitada fuçando o telefone do gabinete da Câmara Municipal, o então presidente Mariano Cândido de Arruda levantou suspeitas de paranoia com vazamentos para a imprensa.
O jornalista Sidney Gomes, que presenciava a cena, não perdeu a piada e alfinetou: “Chefe, esse fio do telefone vai até à mesa do Vander Verão, lá no ‘O Progresso’!”
Mariano, constrangido se engasgou, ficou vermelho, e bradou seu bordão: “Isso é um absurdo!”
A frase ecoou pela sala – e, ironicamente, anos depois viraria o grito de guerra do vereador Eduardo Marcondes em protestos contra a gestão petista em Dourados.
Quem viu a cena teve que segurar o riso. No fim, fica a dica: nos bastidores da política douradense, confiança é artigo de luxo e a paranoia corre solta.
(Trecho do livro “Como se vira jornalista”, que será publicado em breve)