Imagem de monumento carioca foi utilizada na campanha de reeleição do presidente dos EUA
06/07/2020 14h40 – Por: Folha de Dourados
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou uma imagem do Cristo Redentor em um dos anúncios de sua campanha à reeleição em novembro. Na propaganda, veiculada no Facebook e no Instagram, o presidente promete proteger a estátua da “esquerda radical”, em mais uma demonstração de sua cruzada contra o movimento que demanda uma revisão de estátuas e monumentos ligados à escravidão e ao colonialismo.
O anúncio, compartilhado pelos perfis de Trump e do vice-presidente Mike Pence, faz parte de uma série de postagens patrocinadas pela campanha de Trump lançadas na semana passada. Não há, no entanto, quaisquer indícios de que a estátua no Rio de Janeiro esteja ameaçada ou seja alvo de manifestantes que demandem sua remoção.
Também não está claro como o líder americano iria protegê-la, já que quaisquer leis que venha a aprovar nesse quesito não seriam extensíveis ao Brasil. Até o momento, o presidente vinha focando seus esforços na preservação de patrimônios públicos em seu próprio território, onde manifestantes vêm derrubando monumentos de generais confederados, exploradores europeus e traficantes de pessoas escravizadas, por exemplo.
“O presidente quer saber quem está ao seu lado contra a esquerda radical. Nós enviaremos para o presidente Donald Trump amanhã logo pela manhã uma lista com o nome de todos os americanos que assinarem”, diz o anúncio, patrocinado pelo comitê de campanha de Trump, recolhendo assinaturas de apoiadores. “Nós iremos protegê-la”, afirma ainda o anúncio, em letras maiúsculas.
Junto com a postagem que usa a imagem do Cristo Redentor, publicada primeiramente pelo portal Daily Beast, há outras com conteúdos similares que utilizam tuítes e fotos do presidente e defendem o emblemático Monte Rushmore, no estado de Dakota do Sul, onde estão esculpidos os rostos de quatro de seus antecessores históricos — George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln.
O debate sobre o significado histórico de estátuas que representam figuras com condutas criminosas ou questionáveis ganhou força com o movimento antirracismo e contra a brutalidade policial que tomou os EUA após o assassinato de George Floyd, um homem negro desarmado asfixiado por um policial branco no dia 25 de maio em Minneapolis. Milhões de pessoas foram às ruas demandando mudanças estruturais nos maiores atos contrários à discriminação racial da História dos EUA, superando os protestos de 1968 catalisados pelo assassinato de Martin Luther King.
Remover estátuas que representam figuras ultrapassadas historicamente não é algo incomum em mudanças de regime — a derrubada da estátua de Saddam Hussein após a invasão do Iraque em 2003 e a queda de diversas estátuas de Lênin em nações do antigo bloco soviético são exemplo disso. A discussão, no entanto, torna-se mais complexa quando as figuras em questão são símbolos de um racismo estrutural até hoje enraizado na sociedade.
Diversas estátuas de figuras como Cristóvão Colombo e de combatentes que lutaram ao lado do Sul escravagista na Guerra Civil americana vieram abaixo. Monumentos como o do ex-presidente Ulysses Grant e do traficante britânico de pessoas escravizadas Edward Colston tiveram o mesmo destino. Nesta segunda-feira, em um artigo para o New York Times, um dos descendentes diretos de Thomas Jefferson defendeu o fim do monumento em homenagem ao terceiro presidente dos Estados Unidos na fazenda sulista Monticello, onde ele empregava mão de obra escravizada.
“O memorial é um templo para um homem que durante a sua vida possuiu mais de 600 escravos e teve ao menos seis filhos com uma delas, Sally Hemings”, escreveu Lucian Truscott IV. “É um templo para um homem que famosamente escreveu que ‘todos os homens são criados iguais’ na Declaração de Independência” que fundou esta nação, mas nunca fez nada para transformar estas palavras em realidade.”
Trump e seus aliados, por sua vez, veem o movimento como uma afronta à História americana. Em um discurso em comemoração ao 4 de Julho, feriado de aniversário da independência dos EUA, o presidente citou sua batalha contra um “novo fascismo de extrema esquerda” que, segundo ele, busca acabar com os valores e a História da nação, e criticou a derrubada de estátuas, em pleno debate sobre os símbolos do país.
Essas tensões são amplificadas por boatos e informações falsas que circulam nas redes sociais. Por semanas, uma página no Facebook chamada “EUA deixados para trás” compartilhou convocações supostamente realizadas pelo movimento Antifa — que reúne de forma descentralizada grupos antifascismo de esquerda — para queimar bandeiras americanas no dia 4 de julho em Gettysburg, palco da batalha que foi ponto de virada na guerra civil americana.
Centenas de grupos de direita se deslocaram para o local buscando impedir a ação, mas quando chegaram lá, constataram que se tratava de uma informação falsa. Episódios similares aconteceram em Nova Jersey, Michigan e Dakota do Sul nas últimas semanas. Não está claro quem está por trás desses perfis, mas nas últimas semanas as redes sociais derrubaram diversos deles, supostamente administrados pelo Antifas, mas na verdade pertencentes a grupos de extrema direita. (O Globo)
