Reinaldo de Mattos Corrêa (*) –
Introdução: O Que É a Teologia do Domínio?
A Teologia do Domínio (ou dominionismo) é um movimento que defende o controle cristão sobre todas as esferas da sociedade—política, educação, artes, mídia, família, religião e economia—para estabelecer um “governo divino” na Terra. Surgida nos EUA nos anos 1970 , baseia-se em uma interpretação de Gênesis 1:28 (“Dominai sobre a Terra”) como um mandato político-teocrático. No Brasil, ganhou força através de líderes neopentecostais como Silas Malafaia e Edir Macedo, e influenciou discursos como o de Michelle Bolsonaro em 2024: “Chegou a hora do Estado civil subordinar-se à fé”.
Três Pilares do Dominionismo e Suas Contradições Bíblicas
- Poder como Imposição vs. Serviço como Sacrifício
- Dominionismo: propõe a conquista do poder para “subjugar” instituições, conforme o Mandato das Sete Montanhas.
- Resposta Bíblica: Jesus redefine o poder como serviço (Marcos 10:42-45): “Quem quiser ser grande, seja vosso servo”. A Cruz invalida projetos de dominação: “O meu Reino não é deste mundo” (João 18:36). A verdadeira autoridade nasce da kenosis (esvaziamento), não da coerção (Filipenses 2:5-7).
- Lei como Controle vs. Graça como Libertação
- Dominionismo: inspirado no Reconstrucionismo de R.J. Rushdoony, defende a imposição da Lei Mosaica (incluindo penas como apedrejamento). Gary North via a democracia como ferramenta para uma futura teocracia.
- Resposta Bíblica: Paulo declara que “Cristo é o fim da Lei” (Romanos 10:4). A Graça supera a letra que mata (2 Coríntios 3:6). O Espírito Santo convence, não o Estado (João 16:8). A fé imposta é idolatria, não aliança.
- Guerra Santa vs. Paz como Testemunho
- Dominionismo: adota a Batalha Espiritual de C. Peter Wagner, que classifica opositores como “inimigos demoníacos”.
- Resposta Bíblica: Jesus proíbe a violência em sua defesa (Mateus 26:52) e ordena: “Amai vossos inimigos” (Mateus 5:44). A “luta do cristão” é contra estruturas espirituais de maldade (Efésios 6:12), não contra pessoas.
Riscos à Fé e à Sociedade
- Idolatria do Poder: o dominionismo substitui a cruz por projetos de hegemonia, transformando o Evangelho em ideologia.
- Ameaça à Democracia: ao negar a laicidade do Estado, inviabiliza a pluralidade religiosa (Artigo 5º da Constituição Brasileira).
- Distorção Escatológica: promete um “reino já” pelo poder humano, ignorando que o Reino é dom escatológico de Deus (Apocalipse 21:1-5).
Conclusão: O Caminho do Servo Sofredor
A Teologia do Domínio falha ao ignorar o cerne do Evangelho: Deus não conquista impérios; ressuscita crucificados. A Igreja primitiva cresceu sob perseguição, não sob controle estatal. Seu poder residia no martírio (testemunho), não na militarização da fé. Como escreveu Bonhoeffer: “A Igreja só é Igreja quando existe para os outros”. Rejeitemos, pois, a sedução do domínio e abracemos a revolução do serviço — única forma de “reinar com Cristo” (Apocalipse 20:6).
“O Cordeiro venceu não pela espada, mas pela palavra de seu testemunho” (Apocalipse 12:11).
*Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.