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InícioColunista'Tenho uma solidão aqui, quer ver?', crônica de Elairton Ghelen

‘Tenho uma solidão aqui, quer ver?’, crônica de Elairton Ghelen

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Elairton Ghelen –

– Oi, você pode falar agora? 

Estou diante do computador, mas sempre tem um tempo… Assim começou uma conversa pelo WhatsApp que me deixaria sem o capítulo que pretendia escrever para meu livro que, de tanto que espera pelos acontecimento imaginados pelo autor, quase que desiste de imaginar o desfecho do caso que fez a personagem Laura a ter uma visão e ser levada para dentro do espelho até um lugar chamado Início, na Vila Menor. 

– É que eu estou precisando falar, você tem tempo? 

Sim, tenho quase todo o tempo do mundo, aliás, tenho mais tempo que vida, que depois da vida o tempo continua existindo. Então pode falar. 

– Você sente solidão? 

Tem pergunta que pega a gente de surpresa! Quem não sente? A solidão sempre me faz companhia e se ajunta comigo até quando estou rodeado de pessoas, tem uma espécie de solidão que se destaca no meio da multidão e faz a gente pensar que está só.  

– As crianças estão na sala e meu marido está assistindo televisão… 

Crianças são boas em disputar espaço com a solidão, elas falam com a gente sobre qualquer assunto e ficam perguntando sobre coisas que ainda não são capazes de entender e sempre perguntam: ‘Por quê?’ Porque sim, oras! Mas, tem um tempo em que a solidão se impõe e aí a gente dá um grito e as crianças vão pro seu canto dizendo uma para a outro que o pai ou a mãe está braba! 

– Crianças é modo de dizer, já estão adolescentes e nem querem mais que eu fique com eles, é só o celular e o computador, às vezes assistem filmes, mas não querem que eu fique lá na sala. 

E, eu em silêncio, só ouvindo, quer dizer, lendo as frases que pululam no Whats. Vão brotando como alfaces no canteiro da horta. E eu vou regando canteiros de pensamentos de solidão, esperando qual vai ser o próximo legume a ser cultivado. Não demorou e veio como um vendaval: 

– Quero te mostrar umas fotos que fiz hoje, você quer ver? 

Olhei para o Drummond que me olhava da estante com sua Boca de Luar. Não resisti, porque um escritor está sempre à procura de uma história e, fotos, assim, feitas hoje, e ainda mais com pergunta, quero te mostrar, você quer ver? Olhei outra vez para o Drummond, a Boca de Luar era pura sensualidade. Como pode alguém desenhar uma boca assim? Seria uma foto? Eu amo ler Drummond… 

– Sim, quero. Quero ver!  

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