Desde 1968 - Ano 56

13.6 C
Dourados

Desde 1968 - Ano 56

InícioInternacionalTemos de defender a verdade e derrotar as mentiras, discursa Biden ao...

Temos de defender a verdade e derrotar as mentiras, discursa Biden ao ser empossado

- Advertisement -

Rompendo tradição de 152 anos, Donald Trump não comparece à cerimônia que reúne mil convidados

Em uma Washington sitiada, Joe Biden fez seu juramento em frente ao Congresso americano nesta quarta-feira (20) e tomou posse como o 46º presidente dos EUA, colocando fim à era de Donald Trump.

O democrata, segundo presidente católico na história do país, jurou sobre a Bíblia, como é tradição nos EUA, diante do presidente da Suprema Corte americana, John Roberts. A cerimônia não contou com a presença de Trump —o republicano não aceitou totalmente sua derrota e se tornou o quarto presidente da história do país a não comparecer à posse do sucessor, o que não acontecia há 152 anos.

Biden assume uma nação dividida e devastada por uma pandemia que já matou mais de 400 mil pessoas nos EUA. Por isso, em seu primeiro discurso como presidente, pediu aos americanos o fim do que chamou de “guerra incivil”. Seus principais desafios, além da polarização, serão recuperar a economia, controlar o coronavírus e pacificar um país ameaçado pelo terrorismo doméstico.

O democrata discursou durante 20 minutos e, ao fim da cerimônia no Congresso, seguirá para a Casa Branca, onde assinará decretos que pretendem marcar a mudança de direção de seu governo em relação ao do antecessor, afastando-se do populismo autoritário de Trump e revertendo medidas do republicano.

Na fala no Capitólio, Biden afirmou que “a democracia prevaleceu” e pediu união para derrotar extremistas. “Hoje celebramos o triunfo, não de um candidato, mas de uma causa. A causa da democracia”, disse.

No mesmo espírito de estimular “a cura” de um país dividido, como fez durante toda a campanha eleitoral, clamou aos americanos que fiquem juntos, e não separados. “A história americana não depende de um de nós, mas de todos nós. Nós, o povo, buscamos uma união perfeita”, afirmou. “Devemos acabar com esta guerra incivil que opõe o vermelho ao azul, o rural versus o urbano, o conservador versus o progressista. Podemos fazer isso se abrirmos nossas almas em vez de endurecer nossos corações.”

Em referência indireta a Trump, já que durante todo o mandato o republicano promoveu um sem número de notícias falsas, Biden disse que todo americano tem a obrigação de rejeitar a “cultura da manipulação de fatos”. “Há a verdade e há mentiras. Mentiras ditas por poder e lucro. E cada um de nós tem o dever e a responsabilidade, como cidadãos, como americanos, e especialmente como líderes que prometeram honrar nossa Constituição e proteger nossa nação, de defender a verdade e derrotar mentiras.”

De saída, Biden quer colocar os EUA de volta à OMS (Organização Mundial da Saúde) e ao Acordo Climático de Paris. Promete também vacinar 100 milhões de americanos contra a Covid-19 em 100 dias e aprovar o plano de recuperação econômica no valor de US$ 1,9 trilhão (cerca de R$ 10 trilhões).

O montante inclui US$ 400 bilhões (R$ 2,1 bilhões) para o combate ao vírus, além de pagamento direto aos americanos, auxílio a desempregados, pequenas empresas, e a estados e municípios.

Biden também quer suspender o banimento de entrada nos EUA a viajantes de alguns países de maioria muçulmana, parar a construção do muro na divisa com o México, símbolo inacabado do governo Trump, impedir a separação de famílias na fronteira e abrir caminho para que milhões de pessoas que vivem nos EUA sem documento tenham cidadania americana.

Depois do juramento e posse, Biden passa as guardas em revista, num gesto que busca sinalizar a transição pacífica de poder para o novo comandante-chefe, e visita, ao lado de outros ex-presidentes americanos —Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama—, o Cemitério de Arlinton, em uma homenagem ao Soldado Desconhecido, memorial a militares sem identificação mortos em combate.

Desta vez, a parada na avenida Pensilvânia, em Washington, e o baile de inauguração, tradicionais da posse, serão substituídos por eventos virtuais ou transmitidos ao vivo pela TV.

As credenciais inéditas do novo governo incluem Kamala Harris, a primeira mulher negra a ocupar a Vice-Presidência americana e que vai exercer papel definitivo no que se tornou o principal desafio de Biden nos próximos anos: conseguir, de fato, governar.

O Partido Democrata tem maioria na Câmara, e Kamala terá direito ao voto de desempate no Senado, mas a frágil maioria numérica não é suficiente para aprovar todas as medidas —por isso as ordens executivas, que driblam o Congresso mas podem ser questionadas na Suprema Corte, por exemplo.

Biden escolheu a vice em um aceno simbólico para conquistar dois grupos de eleitores muito importantes na disputa do ano passado, negros e mulheres, mas também sinalizou que, por sua idade avançada, não deve concorrer à eleição, o que abre caminho para Kamala ser a candidata democrata em 2024.

Na política há 48 anos, como vereador, senador e vice-presidente nos dois mandatos Obama, Biden sabe que terá de lançar mão de seu perfil moderado e sua conhecida habilidade conciliatória para negociar com os dois lados do tabuleiro em meio à radicalização insuflada por Trump.

Ao contrário do clima festivo das posses presidenciais americanas, a cerimônia desta quarta foi marcada pela segurança sem precedentes e atos simbólicos, devido às restrições impostas pela pandemia e às ameaças de protestos e atos violentos contra a inauguração do democrata.

Cerca de 200 mil bandeiras dos EUA foram colocadas no National Mall, lugar onde geralmente o público espera para ver o novo presidente, para representar os americanos que não puderam estar presentes no evento. A ordem das autoridades era para que os americanos não saíssem de casa e acompanhassem tudo pela TV. Apenas mil convidados puderam assistir à cerimônia no local, respeitando o distanciamento social e protocolos reforçados de segurança.

Desde 6 de janeiro, quando apoiadores de Trump invadiram o Congresso para tentar impedir a certificação da vitória de Biden, Washington está sitiada e assistiu à chegada de 25 mil soldados da Guarda Nacional. O contingente é maior do que as tropas americanas no Afeganistão, no Iraque e na Síria juntas e foi capaz de mudar completamente o clima e a rotina da cidade.

Na véspera da posse, 12 agentes da Guarda Nacional foram afastados do esquema de segurança da cerimônia após investigações do FBI identificarem ligações de ao menos dois deles com grupos de extrema direita —sentimento que tem crescido nas fileiras das Forças Armadas americanas.

A região central, onde ficam o Congresso, a Casa Branca e os principais pontos turísticos de Washington, virou uma zona militarizada, bloqueada por veículos militares e rifles que dividem espaço com quem vive nas cercanias. Moradores e pessoas autorizadas precisam se identificar aos agentes antes de cruzar ruas, e cada espaço tem sido monitorado pela maciça operação coordenada pelo Serviço Secreto. (Marina Dias/Folha de S.Paulo)

- Advertisement -

MAIS LIDAS

- Advertisement -
- Advertisement -