Juca Vinhedo –
A FRASE
“Tendo vivido e combatido a ditadura, nela é que não havia devido processo legal público e transparente, acompanhado pela imprensa e pela sociedade em geral. Era um mundo de sombras. Hoje, tudo tem sido feito à luz do dia. O julgamento é um reflexo da realidade. Na vida, não adianta querer quebrar o espelho por não gostar da imagem”.
(Ministro Luís Roberto Barroso, Presidente do Supremo Tribunal Federal comentando falas de bolsonaristas no ato de 7 de setembro, em São Paulo, a respeito do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que termina essa semana).
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Bancada dividida
Se dependesse só de Mato Grosso do Sul, a anistia ampla aos condenados pelos atos de 8 de janeiro não passaria. Metade da bancada já disse que não topa. Mas, como Brasília vive de acordos e “meias-soluções”, um projeto que reduza penas poderia até ganhar terreno com os votos sul-mato-grossenses.
Para todos os gostos
Quatro deputados do Estado já assinaram a favor da tramitação da anistia: Beto Pereira (PSDB), Marcos Pollon (PL), Luiz Ovando (PP) e Rodolfo Nogueira (PL). Do outro lado, outros quatro ficaram de fora. Entre eles, Geraldo Resende (PSDB), que avalia a possibilidade de atenuações nas penalidades: “Anistia geral e irrestrita para tentativa de golpe e assassinar lideranças políticas, não dá para aceitar!”
Silêncio que fala
O deputado Dagoberto Nogueira (PSDB) não se posicionou, pelo menos oficialmente, mas em abril já havia dado a deixa: é contra a anistia geral, talvez a favor da parcial, dependendo do avanço das conversações em Brasília. Vander Loubet (PT) e Camila Jara (PT), se pudessem, riscariam a palavra “anistia” de seus dicionários…
Trumpismo libertador
O “tarifaço” de Donald Trump contra a carne bovina brasileira parecia uma punição pesada: 50% de imposto para barrar a entrada do produto no mercado norte-americano. Mas o efeito, ao que tudo indica, foi justamente o contrário. Com exportações batendo recorde em agosto, com US$ 1,19 bilhão até a quarta semana, os frigoríficos brasileiros estão abrindo portas em outros continentes. No fim das contas, o que era pra ser castigo pode virar independência.
Negócios da China
Mesmo sem os Estados Unidos, que até julho compravam em média 28,5 mil toneladas por mês, o Brasil mantém o ritmo de crescimento e garante espaço entre os cinco itens mais relevantes da balança comercial. O mercado chinês, países do Oriente Médio e várias nações asiáticas absorvem a demanda, consolidando o país como potência agroexportadora.
Riedel na frente
Levantamento do Instituto Ranking Brasil Inteligência, encomendado pela Rede de Rádios Top FM, entre 1º e 6 de setembro, em 30 municípios, com 3 mil entrevistados, mostra o governador Eduardo Riedel (PSDB) liderando com folga a corrida pelo comando do Estado. No primeiro cenário, ele aparece com 46,4%, contra 17% de Capitão Contar (PRTB) e 10% de Fábio Trad (PT). Delcídio do Amaral (PRD) surge com 3,6% e Renato Gomes com 1%. O índice de indecisos e brancos chega a 22%.
Segundo cenário
No segundo cenário testado, Riedel amplia a vantagem e chega a 49%. O deputado João Henrique Catan (PL) aparece em segundo, com 15%, seguido por Zeca do PT, com 7%, e Delcídio do Amaral, com 5%. Beto Figueiró soma 1,8%. Mais uma vez, a taxa de indecisos se mantém alta, em 22,2%. Os números reforçam a dianteira de Riedel, mas também mostram que a disputa ainda depende da movimentação dos eleitores que não se decidiram.
Rejeição em jogo
O Ranking também perguntou em quem o eleitor não votaria de jeito nenhum. Zeca do PT lidera a rejeição, com 20%, seguido por Delcídio do Amaral (12,4%) e Capitão Contar (10,3%). O governador Riedel tem 8,4%, enquanto Fábio Trad soma 7% e Catan, 6,6%. Os nomes menos citados foram Renato Gomes (3%) e Beto Figueiró (2,3%). Para 30% dos entrevistados, não há definição sobre quem não merece o voto.
Para o Senado
No mesmo levantamento do Instituto Ranking, o ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB) na frente da disputa pelo Senado, com 12% na espontânea. Mas o número mais barulhento é outro: 64,2% dos entrevistados não sabem em quem votar ou rejeitam todos os nomes apresentados.
Trad em segundo
O senador Nelsinho Trad (PSD) aparece com 5,4% e ocupa a segunda posição. O dado o coloca como o principal adversário de Azambuja neste início de corrida, mas ainda sem fôlego para encurtar a distância. No ritmo atual, a disputa segue aberta e à espera de quem consiga quebrar a apatia do eleitorado.
Pelotão embolado
Logo atrás, um bloco de candidatos aparece tecnicamente empatado: Gerson Claro (PP), com 3,8%, Vander Loubet (PT), com 3,6%, e Capitão Contar (PRTB), com 3,4%. Mais abaixo surgem Marcos Pollon (PL) e Simone Tebet (MDB), ambos com 2%, além de Gianni Nogueira (PL), com 1,6%, Soraya Thronicke (Podemos), com 1%, e Luiz Ovando (PP), com 0,6%. Números pequenos, mas em cenário de alta indefinição, qualquer detalhe pode virar oportunidade.
PF na cola
A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira (9) a Operação Assédio, que apura crimes de perseguição e violência política de gênero contra mulheres em cargos públicos. Entre as vítimas está a senadora Soraya Thronicke (Podemos), além da deputada federal Silvye Alves (União Brasil-GO). Um mandado de busca e apreensão foi cumprido em Duque de Caxias (RJ). O investigado está proibido de acessar a internet, contatar as vítimas ou deixar a região metropolitana sem autorização da Justiça.
Voz da vítima
Em nota, a assessoria de Soraya Thronicke confirmou que a senadora é alvo do suspeito, acusado de enviar mensagens de cunho sexual. A parlamentar afirmou que confia no trabalho da PF e lembrou já ter sido vítima de ameaças de morte contra ela e sua família. Para Soraya, os ataques refletem atitudes sexistas e criminosas ainda comuns contra mulheres na política.
Orelha a orelha
Todo serelepe está o deputado federal Geraldo Resende com a previsão de inauguração, no próximo dia 29, de obras que ele sonhou e viabilizou para a saúde de Dourados: o Centro de Especialidades Médicas e o Centro de Diagnóstico. Construídas com emendas do parlamentar e recursos do Governo do Estado, as duas unidades foram construídas na mesma área, ao lado do futuro Hospital Regional e vão receber o nome de “Policlínica Cone Sul”, porque vai atender aos 34 municípios da Região da Grande Dourados.
Transparência na pista
Na sessão desta segunda (8), o vereador Inspetor Cabral (PSD) voltou a cobrar da Agesul resposta sobre a ampliação da Avenida Coronel Ponciano. Disse que já protocolou pedido de cópia do projeto, mas até agora não obteve retorno. Nem mesmo as idas presenciais ao órgão surtiram efeito.
Mobilidade no limite
Com o trecho principal bloqueado, a Coronel Ponciano empurra o trânsito para as marginais e acumula reclamações. Para Cabral, a via é uma das mais críticas de Dourados e exige urgência. Ele promete continuar cobrando até que o projeto avance e a obra saia do papel.
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BASTIDORES DO PODER

A Elba da discórdia
Em 1992, o Brasil mergulhava em seu primeiro grande escândalo de corrupção após a redemocratização. O presidente Fernando Collor de Mello, eleito em 1989 como o “caçador de marajás”, foi acusado de se beneficiar de um esquema milionário comandado por seu tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, o PC Farias. A denúncia ganhou corpo quando a imprensa revelou que um Fiat Elba, carro simples da época, havia sido comprado com dinheiro desviado do esquema — a chamada “peça que faltava” para incriminar o presidente.
A prova parecia banal, mas teve impacto devastador. O depoimento do motorista Eriberto França, confirmando que Collor usava bens pagos com recursos de PC, desmontou a defesa oficial de que tudo não passava de intriga. A imagem do carro se tornou o símbolo concreto da corrupção presidencial, transformando um automóvel comum em evidência histórica.
O episódio acendeu o estopim da mobilização popular. Nas ruas, os estudantes (os famosos “caras-pintadas”) ganharam protagonismo ao exigir o “Fora Collor!”. Em 29 de setembro de 1992, a Câmara dos Deputados aprovou o pedido de impeachment, e Collor acabaria renunciando em 29 de dezembro do mesmo ano. O Fiat Elba entrou para a memória política brasileira não como carro de família, mas como o veículo que acelerou a queda de um presidente, que curiosamente hoje encontra-se em prisão domiciliar, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, mas desta vez, como senador, cargo que exerceu por dois mandatos: de 2007 a 2014 e de 2015 a 2022.