– 27/08/2007
Na segunda matéria da série de reportagens que a folha está fazendo sobre a prostituição em Dourados, nossa equipe foi às ruas para conversar com as garotas “caça níqueis”, prostitutas que fazem das ruas seu local de trabalho e que não recebem mais que R$ 30 reais por programa.
Elas são jovens, possuem baixa escolaridade (algumas se dizem semi-analfabetas), famílias desestruturadas e, que na maioria dos casos, começaram a se prostituir ainda menor de idade. Disputando as esquinas escuras da cidade com travestis, elas enfrentam frio, chuva, e os perigos da noite, de domingo a domingo, das 19 às 24 horas.
Embora reservadas, a reportagem ouviu algumas destas “garotas de programas” que povoam as noites, principalmente, das ruas Onofre Pereira de Matos e Joaquim Teixeira Alves, e constatou que o valor de suas relações com os clientes não chega a 30 reais.
Contabilizando um lucro de não ultrapassa R$ 300 por mês, suficientes para comer e pagar os quartos em que passam a noite, elas se dizem satisfeitas com o ganho e com a vida que levam.
A.M.R, a “Aninha”, 19, disse que veio de Glória de Dourados para trabalhar de empregada doméstica e estudar, há cerca de três anos. Mas, como ganhava pouco (80 reais por mês), entrou por “livre espontânea vontade” na prostituição.
“Aqui na rua ganho cerca de 250 reais por mês. Dá pra viver”, disse a jovem, acrescentando que não é usuária de drogas, porém, adora bebida alcoólica, e que assim como a maioria das mulheres, mantém suas relações sexuais em hotéis na área central da cidade ou em um terreno baldio existente nas proximidades.
Entretanto, elas asseguram que o que arrecadam por mês dá para pagar seus quartos, que em sua maioria ficam em repúblicas e quitinetes existentes em bairros da periferia, e que todas elas buscam a utilização de preservativos com seus pares.
Questionada se um dia gostaria de mudar de vida e se casar, Aninha diz, sem pestanejar, que jamais se acostumaria com a vida de dona de casa. “Estar livre e desimpedida é o melhor negócio; sem essa de ter de cuidar de macho e filhos”. Nem as violências físicas e os “bolos” (clientes que usam e não pagam) que já sofreu a fazem mudar de idéia.
F.C, afirma ter 18 anos, mas aparente ter menos. Douradense, ela diz que está na prostituição há três anos. Uma conta simples mostra que a garota começou a se prostituir com 15, isso se hoje ela realmente tem 18.
Seu ganho fica abaixo da média. “O quanto eu ganho depende muito; tem mês que é bom e até sobra dinheiro” diz a jovem que também revela que mal aprendeu a ler e escrever.
FC teve uma filha aos 14 anos. A menina, hoje com quatro, mora com o avô na região de Bataguassu. Assim como a sua colega Aninha, a jovem alega que não vale a pena trabalhar como empregada doméstica ou em outra atividade na cidade. “Por sermos pobres e sem estudo, as patroas pagam pouco. Aqui na rua, mesmo sendo arriscado, dá para ganhar um dinheiro melhor”, afirma resignada.
Drogas e álcool também fazem parte do cotidiano dessas meninas. FC conta que já fumou “baseados” (maconha), e que adora beber cerveja ou uma bebida preparada com refrigerante e cachaça, preferida por ser de baixo custo e entorpecer o corpo mais rapidamente.
Já M.J.R, de 21 anos, outra que disputa a “clientela” com outras colegas e com os travestis na prostituição no centro da cidade, afirma que nasceu mesmo para ser mulher da vida, uma vez que, segundo ela, nunca serviu para ser mandada.
Despreocupada com o futuro, MJR afirma que não pára para somar sua renda com a prostituição: “o que ganho é para pagar meu quarto, comprar comida e gastar com outras coisas; não sou de guardar dinheiro, não”, resume.
M.J.R diz que já tentou viver uma vida de dona de casa, porém, não foi bem sucedida nessa experiência. “Morei com um campeiro quase um ano em uma fazenda na região de Ponta Porã e tive de deixá-lo, pois quando ficava bêbado ele me agredia com palavrões, chutes e socos”, diz a jovem.
Para fugir do companheiro e entrar na vida, ela que percorreu a pés quase 30 quilômetros, da fazenda até a rodovia que dá acesso a Ponta Porã. “Esperei ele dormir e cai fora”, disse ela, que veio para Dourados por medo.
Fonte: Folha de Dourados