Juliel Batista –
Com uma trajetória que atravessa a educação, a música, a literatura e a política, Paulo Sérgio da Silva Caiano, mais conhecido como Paulo Portuga — ou Paulo Caiano, seu nome artístico —, é um dos personagens que ajudam a construir a identidade cultural e política de Dourados e região. Aos 59 anos, o professor de Geografia acumula experiências que vão desde os estúdios de televisão aos palcos de shows e às salas de aula, e recentemente lançou seu quarto livro, o primeiro voltado ao público infantil: O Caracol Leonardo.
Descendentes de portugueses: a origem do nome
Nascido em família de descendentes portugueses, Paulo chegou a Dourados ainda jovem. O apelido “Portuga”, como ficou conhecido entre os amigos e alunos, acabou se tornando parte da sua identidade.
“Quando cheguei aqui, me apelidaram de Paulo Portuga. Pegou, e hoje eu uso como nome artístico. Como professor, sou o Paulo Caiano, mas todo mundo me chama de Portuga mesmo — e tá tudo bem”, brinca.
A educação como base
Com mais de 35 anos dedicados à educação pública e privada, Paulo é professor concursado em dois processos seletivos do Estado. Atualmente leciona na Escola Capilé, no bairro Água Boa, onde também atua como orientador pedagógico.
“Trabalhar com a educação vai além da sala de aula. A gente usa a música, a poesia, tudo que pode entreter e envolver as crianças. É uma forma de dar um respiro nesse cotidiano escolar tão engessado”, comenta.
A veia artística: música, TV e literatura
Antes de se consolidar como professor, Paulo teve uma passagem marcante pela área da comunicação. Trabalhou por cinco anos na TV Caiuás, uma das primeiras emissoras de Dourados, afiliada à Band.
“Comecei como cabo-man, depois virei cinegrafista. Nessa época, estudava pra vestibular e passei na segunda turma do curso de Geografia da UFMS.”
Mas, foi na música que encontrou uma de suas maiores paixões. Atuou por 20 anos como percussionista e compositor na banda “Dagata e os Aluízios”, um grupo de rock regional que gravou três álbuns autorais. Após o fim da banda na pandemia, Paulo continuou com sua relação com a música, agora de forma mais intimista.
“Comprei vários instrumentos até encontrar o ukulele. Comecei a aprender pela internet, e hoje componho com ele. Participo de eventos menores, especialmente na Academia de Letras e com amigos.”
A literatura como forma de expressão
A carreira de escritor começou em 2011, com o lançamento do livro Mutirão de Ideias, seguido por Versos para a Viagem (lançado durante a pandemia), Lugar de Poesia (2023) e, mais recentemente, o infantil O Caracol Leonardo.
“Esse livro é especial. Sou pai de uma menina que foi diagnosticada com autismo, e quis falar sobre as diferenças de forma leve, com personagens da natureza. O caracol e a perereca são opostos, mas a mensagem é de respeito e convivência”, explica.
No livro, Leonardo é um caracol sonhador que se acha o “Leonardo da Vinci”, e expressa sua arte deixando rastros prateados pelos muros. A história mistura sensibilidade, metáforas e educação ambiental — e já foi lançada oficialmente durante a FELIT (Feira da Literatura de Mato Grosso do Sul), com direito a sessão na Câmara Municipal.
“É minha estreia na literatura infantil, mas tenho planos para continuar nesse caminho.”
Cultura, educação e engajamento político
Além de escritor, Paulo é membro da Academia de Letras do Brasil, Seccional Dourados (ALBD) onde atua em projetos de leitura nas escolas e na valorização de autores regionais. Também escreve semanalmente para o blog do jornalista Alex Fraga, em Campo Grande.
Mas seu envolvimento com a cultura e a educação sempre andou lado a lado com a política. Durante a universidade, foi influenciado por professores progressistas vindos da USP e participou da consolidação do Partido dos Trabalhadores (PT) em Dourados, no início da década de 1980.
“O PT estava nascendo, e a gente ajudou a construir o partido aqui na cidade. Fizemos campanhas com o mínimo de estrutura. Fui coordenador de campanha do Lula em duas eleições, e depois, quando vencemos, fui assessor parlamentar do Tetila, o primeiro vereador do PT em Dourados.”
Embora atualmente não atue diretamente em mandatos políticos, Paulo segue presente nas discussões internas do partido e acredita no potencial de renovação.
“Hoje não sou mais aquele militante fervoroso, mas sigo acompanhando, participando das conversas. A juventude está vindo com tudo e é nela que depositamos muita esperança.”
Próximos passos
Além de continuar lecionando e escrevendo, Paulo já trabalha em um novo projeto literário — ainda em desenvolvimento — e segue promovendo o acesso à cultura e à literatura em espaços educativos e comunitários.
Seja como professor, músico, escritor ou ativista, Paulo Portuga é uma figura essencial na construção de uma Dourados mais plural, criativa e consciente de suas raízes.
Livros publicados por Paulo Portuga:
- Mutirão de Ideias (2011) – Poesia
- Versos para a Viagem (2020/2021) – Poesia
- Lugar de Poesia (2023) – Poesia
- O Caracol Leonardo (2025) – Literatura Infantil
À venda na Canto das Letras, Companhia das Letras (Dourados) e em eventos literários.
