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Planos de Vander, Simpatia de Camilo, Tereza e a presidência, ‘Fogo zero’ e Cultura quer Teatro

Juca Vinhedo

A FRASE

“A independência judicial não é um privilégio, e sim uma condição republicana. Um Judiciário submisso, seja a quem for, mesmo que seja ao populismo, perde sua credibilidade. A prestação jurisdicional não é espetáculo. Exige contenção”.

(Ministro Edson Fachin, novo presidente do STF, durante sua posse na segunda-feira – 29/09).

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O sistema democrático brasileiro expõe o Supremo a permanente julgamento público e crítico. Portanto, a gente se equilibra recebendo pedrada. E, na vida, é preciso prestar atenção de onde estão vindo as pedras.

(Luís Roberto Barroso, ex-presidente do STF, em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”)

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Figurino impossível

O deputado Paulinho da Força anda equilibrando-se num fio de navalha. De um lado, bolsonaristas pressionam por anistia total aos envolvidos no 8 de janeiro; do outro, ele insiste na tese de apenas reduzir as penas. No meio desse fogo cruzado, Paulinho tenta manter a pose de relator independente, mas corre o risco de sair chamuscado. Agradar gregos e troianos nunca foi tarefa simples em Brasília.

Força e pragmatismo

Enquanto tenta construir consenso sobre a anistia, Paulinho da Força faz malabarismo digno de circo político. Conversa com Valdemar Costa Neto e Sóstenes Cavalcante pela manhã, e à tarde planeja um café com o ex-ministro José Dirceu, de quem é amigo “desde 1980”. Brasília é mesmo um lugar curioso: ontem inimigos, hoje aliados de ocasião. Tudo em nome da tal governabilidade.

Azambuja no comando

O ex-presidente Jair Bolsonaro referendou o que já era evidente: em Mato Grosso do Sul, quem manda no PL agora é Reinaldo Azambuja. A bênção veio direto de Brasília, durante conversa entre Bolsonaro e Valdemar Costa Neto. A filiação do ex-governador, junto com 19 prefeitos, redesenhou o mapa político do partido no Estado. O recado é claro: a direita sul-mato-grossense tem novo general — e o velho capitão, desta vez, apenas aplaudiu.

Valdemar, o escudeiro

Valdemar Costa Neto saiu da visita a Bolsonaro com duas certezas: o ex-presidente segue mandando – mesmo em prisão domiciliar – e o PL vai jogar pesado em 2026. Ao relatar o “sucesso” da filiação de Azambuja, o cacique paulista garantiu que o PL-MS está sob controle. E ainda fez questão de lembrar que Lula também já foi preso antes de voltar ao poder. Ironias da política: em Brasília, até o cárcere é interpretado como ensaio para o Planalto.

O jogo da direita

Com discurso afiado e pretensões de liderança regional, Reinaldo Azambuja afirmou que sua missão no PL é “manter a união da direita e impedir o Lula 4”. A frase tem endereço certo e ecoa o clima de campanha antecipada que já domina os bastidores. Enquanto Bolsonaro sonha com 2026 e Valdemar tece alianças, Azambuja aproveita o vácuo e consolida poder no Estado. No fim das contas, a matemática do PL é simples: dividir jamais, multiplicar sempre.

Jogo duplo

A tramitação da anistia virou um teste de nervos entre Câmara e Senado. Paulinho tenta costurar um texto “light”, enquanto os líderes do PL exigem perdão completo aos condenados. Nos bastidores, Hugo Motta e Davi Alcolumbre ensaiam um armistício institucional, mas o clima é de desconfiança. No fundo, ninguém quer ficar mal com o eleitorado — nem parecer conivente com o radicalismo.

Tabuleiro no MS

O deputado Vander Loubet, presidente estadual do PT-MS, trabalha para garantir dois nomes aliados de Lula na disputa ao Senado, ano que vem. O plano “A” é duplo: ele e mais um petista. O plano “B” inclui a ministra Simone Tebet, do MDB, que virou peça-chave na estratégia de ampliar alianças – mesmo com o emedebismo de André Puccinelli torcendo o nariz.

Entre São Paulo e o Planalto

Enquanto Vander Loubet articula no tabuleiro sul-mato-grossense, a ministra Simone Tebet avalia trocar o CEP eleitoral por São Paulo, atendendo a um pedido direto do presidente Lula. A mudança pode ser estratégica: livra-se da disputa interna do MDB sul-mato-grossense e mantém-se no radar do Planalto. No fundo, a ministra joga em dois tabuleiros: o da política regional e o da sucessão nacional. E Lula, como bom enxadrista, observa de camarote cada movimento.

Em campo outra vez

A senadora Tereza Cristina (PP-MS) voltou ao centro das articulações nacionais. O PL, de olho em 2026, ensaia uma dobradinha com o governador Tarcísio de Freitas – uma “chapa dos sonhos” que, para os bolsonaristas, uniria técnica e apelo eleitoral. Tereza, discreta, ouve mais do que fala, mas sabe o peso de seu nome: mulher, conservadora e símbolo do agro, ela virou ativo valioso num campo político carente de moderação e de rostos novos.

Senado ou vice

Apesar dos rumores sobre uma corrida presidencial, Tereza Cristina mantém os olhos mesmo é na presidência do Senado em 2027. Com Davi Alcolumbre desgastado e a direita sonhando com maioria na Casa, a senadora do PP surge como alternativa viável: firme, mas sem os rompantes que desgastam o discurso da oposição. Para muitos, o comando do Senado seria o palco ideal para uma líder que prefere os bastidores ao palanque.

Equilíbrio calculado

Moderada no tom, mas fiel às pautas da direita, Tereza Cristina vem costurando apoios entre PL, Republicanos e setores do agronegócio. Defende a anistia aos condenados do 8 de janeiro e não fecha os olhos às críticas ao STF, mas sem o fervor dos radicais. Seu estilo é outro: trabalha em silêncio, aguarda o momento que considera adequado para falar.

Fogo sob controle

A “Fogo Zero”, criada para reforçar a cultura de prevenção a incêndios florestais, agora faz parte do Calendário Oficial de Mato Grosso do Sul. A iniciativa do deputado Pedro Pedrossian Neto (PSD) dá caráter permanente a uma mobilização que antes dependia da boa vontade de governos e órgãos ambientais. A lei chega em boa hora: enquanto o país arde em queimadas recordes, MS tenta mostrar que fogo bom é só o da consciência ecológica.

Sem fumaça

O deputado Pedro Pedrossian Neto marcou um gol de política pública com a lei que institucionaliza a Campanha Fogo Zero. Ao transformar o programa em compromisso de Estado, o parlamentar se posiciona num terreno cada vez mais cobiçado: o da sustentabilidade com gestão. Em tempos de fumaça e polarização, falar de meio ambiente com seriedade é uma das poucas pautas que ainda unem — e rendem bons dividendos políticos.

Cultura pede passagem

O Fórum de Cultura de Dourados usou a Tribuna Livre da Câmara para dar um grito de alerta: a cidade precisa, com urgência, reabrir o Teatro Municipal e elaborar o Plano Municipal de Cultura. Sem esse instrumento, Dourados fica de fora de editais e recursos federais, o que trava o desenvolvimento artístico local. Em bom português: enquanto o palco segue fechado, a cultura espera, nos bastidores, a sua vez de entrar em cena.

Compromissos e promessas

Os vereadores douradenses receberam o documento do Fórum de Cultura com uma lista detalhada de demandas. Prometeram analisar e levar o debate ao Executivo. A classe artística, calejada de tantas audiências e poucos resultados, aguarda ações concretas — não mais discursos ensaiados. Afinal, cultura se faz com política pública, não com aplausos vazios.

Gente da gente

A presença do ministro da Educação, Camilo Santana, na inauguração do novo prédio da reitoria da UFGD, no dia 29 de setembro, foi marcada por um detalhe raro em tempos de solenidades protocolares: simpatia genuína. Camilo encantou professores, alunos e servidores com sua postura acessível, tirando fotos com todos os que pediram e distribuindo sorrisos por onde passava. Nada de pompa nem distância: um ministro que trocou a formalidade pelo calor humano.

Do discurso ao ping-pong

Depois do discurso e das fotos, o ministro Camilo Santana almoçou no Restaurante Universitário, como todo mundo: bandejão e conversa leve. E ainda sobrou energia para rápidas partidas de ping-pong, nas quais venceu, com bom humor, todos os desafiantes: alunos animados, o vice-governador Barbosinha, o deputado federal Geraldo Resende, entre outros.

Quem é Camilo Santana

Nascido em Crato (CE), engenheiro agrônomo e professor, Camilo Sobreira de Santana (PT) construiu uma carreira marcada pela gestão pública e pelo diálogo. Foi governador do Ceará por dois mandatos, reeleito em 2018 com a maior votação proporcional do país, e em 2022 tornou-se o senador mais votado da história cearense. Antes de chegar ao Ministério da Educação, comandou secretarias estratégicas, como a de Cidades e a de Desenvolvimento Agrário. Simples no trato e técnico na fala, Camilo é a prova de que política e serenidade ainda podem andar de mãos dadas.

BASTIDORES DO PODER

O Réveillon que o mar engoliu

Na noite de 31 de dezembro de 1988, o Rio de Janeiro parecia um cartão-postal vivo. O céu explodia em fogos sobre a Baía de Guanabara, a Bateau Mouche IV (um antigo barco de pesca adaptado para turismo) deslizava sobre as águas, cheia de sonhos, brindes e promessas de um novo ano. Eram 142 pessoas sorrindo, acreditando que o futuro seria generoso – empresários, casais, famílias inteiras. Mas o mar, que tantas vezes é cúmplice da beleza carioca, naquela noite resolveu mostrar sua face trágica e indiferente.

Pouco antes da meia-noite, o luxo do barco virou desespero. A embarcação, sobrecarregada e malcuidada, começou a inclinar, lentamente, até ser engolida pelas águas escuras da baía. Os gritos misturaram-se aos estampidos dos fogos, e por alguns instantes ninguém na orla entendeu o que estava acontecendo. Quando o barulho cessou e a fumaça se dissipou, a cidade acordou para uma tragédia: cinquenta e cinco vidas haviam sido arrancadas no instante em que o Brasil festejava a chegada de 1989.

Nos dias seguintes, o glamour deu lugar à perplexidade. O naufrágio da Bateau Mouche virou símbolo de um país que, às vezes, prefere maquiar suas fragilidades com purpurina.

Um país que celebra a passagem do ano com promessas de mudança, mas esquece de olhar o que afunda debaixo da superfície. E até hoje, cada vez que os fogos iluminam a Guanabara, é impossível não lembrar daquela noite em que o mar devolveu, em silêncio, o preço da negligência humana.

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