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Perspectivas idelógicas do bolsonarismo e as eleições: um aprofundamento político

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Juliel Batista –

A Folha de Dourados entrevistou, o professor em Ciência Política pela UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), Davide Giacobbo Scavo, sobre o bolsonarismo e as perspectivas da nova direita brasileira e internacional, depois de uma crise enfrentada atualmente pelo bolsonarismo, que perpassa o 8 de janeiro, e suspeitas de corrupção.

Para o professor, determinadas posturas podem fortalecer o bolsonarismo, e que a mesma linha ideológica veio para ficar, ao contrário de pensamentos espalhados por parte da esquerda e da própria mídia, que se recusa a compreender esse fenômeno como parte do sistema político brasileiro.

Neste sentido, essa entrevista veio como um alicerce científico para uma maior compreensão dos fatos que ocorrem no país.

Confira a entrevista:

Folha de Dourados – As eleições acabaram em outubro do ano passado, com um país dividido. Porém, episódios como o 8 de janeiro e o escândalo das joias parecem ter enfraquecido a base bolsonarista. Neste sentido, como o senhor acredita que o bolsonarismo saírá dessa crise, ou acredita que um novo processo ideológico surgirá para contrapor?

Professor Davide: parafraseando Antonio Gramsci, precisamos distinguir entre a “pequena política”, aquela do dia a dia, da intriga, das disputas dos corredores e dos bastidores, e a “grande política”. Independente dos escândalos passados e futuros, acredito que a existência do bolsonarismo esteja interligada com a crise de legitimidade e consenso da democracia brasileira, com a desconfiança generalizada do eleitorado no funcionamento das instituições e na atuação dos partidos políticos.

O bolsonarismo para sobreviver deve continuar aparecendo antissistema, continuar criticando o funcionamento da democracia liberal, a divisão dos poderes, os partidos tradicionais, os representantes políticos, as instituições culturais….. Apesar dos escândalos judiciários, a retórica bolsonarista encontrou um eco em uma parcela significativa da população brasileira,

Ainda mais, em tempo de mídias sociais, a linguagem simplista e politicamente incorreta de Bolsonaro se tornou pop, anti-mainstream,  rebelde, diferente, contraponto ao sistema… O que busca Bolsonaro  não é tanto comunicar com o potencial eleitor, mas se identificar com ele, parecer povo,  usando  vocabulário, sotaque, linguagem corporal, vestuário, até mesmo gosto cultural  para marcar a distância entre “nós, povo” e as “elites políticas”.

Para o senhor, esse bolsonarismo é uma dinâmica que veio para ficar, ou é apenas, uma linha ideológica temporal, e portanto, com data para acabar. Esse questionamento, professor, vai no sentido de Bolsonarismo ou de extrema-direita que não necessariamente dependa da figura do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ao entender o bolsonarismo como efeito da crise de legitimidade da democracia brasileira acredito que veio para ficar….. Hoje a maioria da população percebe os políticos como uma casta corrupta e inamovível, protegida por uma linguagem técnica e por práxis burocráticas.

Mas não é uma questão exclusivamente brasileira….no Ocidente, existe um crescente descontentamento popular frente ao progressivo esvaziamento da democracia liberal, reduzida a uma mera forma institucional, que ao longo das últimas décadas, foi usada pelos governos de esquerda e de direita para legitimar um processo de privatização do público, adotando técnicas de gestão do setor privado e critérios mercadológicos para a administração pública, transformando a política em tecnocracia, substituindo a disputa ideológica entre os partidos com um consenso acrítico sobre o Estado excessivamente inflado e sobrecarregado que impede a liberdade individual. Neste modelo de democracia, os políticos não respondem mais aos cidadãos, mas  ao controle da grande finança, dos organismos internacionais, das agências de rating

Em um contexto de descontentamento democrático, lideranças populistas de extrema direita se apresentam como alternativa, buscando canalizar a decepção dos cidadãos com as elites política e culturais.

Em termos partidários, o partido do Bolsonaro, o PL parece que apesar de uma maioria ser ligada ao ex-presidente, vemos em votações no congresso nacional, que cerca de 1/3 dos deputados e senadores estão inclinados a votar junto com o Governo Lula. Isso enfraquece a narrativa de políticos de direita, conservadores e liberais, que tanto se comentou durante esses últimos 4 anos.

Sim é verdade, mas acredito que o que está acontecendo com o PL, reforce a figura populista de Bolsonaro, se apresentando  outsider da política, como o único e verdadeiro representante do povo em oposição aos políticos profissionais, corruptos e ineficientes.

Continuará acusando os partidos tradicionais de conspirar para manter o poder longe das “pessoas comuns”, usando apelos antiestablishment e uma comunicação nostálgica, moralista, anti-intelectual,  

Ainda no sentido de enfraquecimento dessa figura Bolsonaro. Temos eleições para os municípios no ano que vem, e apesar de cientificamente falando não ter peso, o aspecto nacional; como o senhor acredita que será a dinâmica eleitoral dos políticos. Eles vão trazer os posicionamentos ideológicos para o debate, ou vão ficar nas dinâmicas municipais, como ocorrem tradicionalmente?

No bolsonarismo, como nas outras experiências populistas de extrema direita no mundo, há uma aproximação entre a ética neoliberal e a ética  neoconservadora, duas matrizes de pensamento político que tradicionalmente  viviam separadas, mas se encontraram no neopopulismo de direita….

Desta forma, apesar das eleições municipais não ser ideológicas,  aparecerão pautas em defesa da segurança pública, da liberdade de mercado, das tradições, do Militarismo, criticando a corrupção dos políticos, a grande imprensa e a cultura da esquerda.

No que tange ao cenário internacional, figuras como Javir Millei, na Argentina, Meloni, na Itália, entre outros, parecem que têm uma linha muita clara e esclarecida ideologicamente. Qual é a explicação para isso, e qual o papel daqueles que se contrapõem a essas ideias, politicamente falando? O que falta? Teremos mais tensionamentos e polarizações neste mundo?

Como já dito em precedência o Brasil não é um caso isolado. Já na última década, lideranças populistas de extrema direita cresceram eleitoralmente criticando os partidos tradicionais, chefes de Estado, integrantes da mídia jornalística, intelectuais…

É importante  compreender a ascensão de políticos reacionários de direita como o efeito da crise de consenso da democracia liberal   Não é somente uma crise política, mas é uma de hegemonia, que tem outras vertentes – econômica, ecológica, social, cultural  

As transformações das relações de produção, a internacionalização econômica, a financeirização, a mudança dos eixos geopolíticos, os limites ecológicos, reduziram a capacidade dos governos de intervir na economia, deixando o social nas mãos do mercado e transformando o trabalhador em uma anônima força de trabalho, substituível, fundível, deslocalizável, com o dever de se reinventar o tempo inteiro para continuar sobrevivendo  

E para finalizar, a direita e extrema direita brasileira terá papel decisivo na política nacional, ou repito, ficou naquele tempo espaço limitado, e novas configurações ainda vão surgir?

Sim, ao menos que, não se afirme no país, um bloco populista progressista capaz  de super a lógica neoliberal na economia e na política, relacionando as reivindicações das mulheres, negros, indígenas,  pessoas LGBTQ com aqueles das camadas da classe trabalhadora, denunciando o entrelaçamento entre raça e classe no capitalismo financeiro contemporâneo.

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