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‘Pensar globalmente, agir localmente’: visão incompleta da sustentabilidade

Reinaldo de Mattos Corrêa (*) –

A máxima “pense globalmente, aja localmente” se tornou um mantra popular no discurso da sustentabilidade. A ideia central é que, embora os problemas ambientais sejam de escala planetária, as soluções podem ser encontradas em ações individuais e comunitárias em nossas próprias localidades.

Embora essa visão tenha méritos, ao colocá-la como única solução para os desafios socioambientais, corremos o risco de perpetuar uma visão míope e fragmentada da sustentabilidade. Limitar-se a ações locais, sem considerar as conexões globais, pode ser insuficiente para enfrentar as complexas crises que assolam o planeta.

1. Ignorando as Causas Raiz:

Pensar apenas no local ignora as causas estruturais e interligadas dos problemas ambientais. A poluição do ar em sua cidade, por exemplo, pode estar ligada à queima de combustíveis fósseis em outro país, à produção industrial em larga escala ou até mesmo às práticas agrícolas em sua região. Agir apenas em sua comunidade pode reduzir os impactos locais, mas não resolverá a fonte do problema.

2. Perpetuando Desigualdades:

Enfatizar ações locais pode levar a uma falsa sensação de que cada indivíduo é igualmente responsável pela crise ambiental. Ignora-se, assim, o papel desproporcional das grandes corporações e dos países desenvolvidos na degradação ambiental. Essa narrativa pode mascarar as desigualdades sociais e econômicas que contribuem para os problemas ambientais, perpetuando a injustiça climática.

3. Desconsiderando Efeitos em Cascata:

As ações locais, por vezes, podem ter consequências negativas em outras regiões. A produção local de alimentos, por exemplo, pode ser incentivada como forma de reduzir a pegada de carbono do transporte. No entanto, se essa produção não for feita de forma sustentável, pode levar ao desmatamento, à escassez de água e à degradação do solo em outras áreas.

4. Limitando o Potencial de Mudança:

A ação local, por si só, pode ser insuficiente para alcançar as mudanças sistêmicas necessárias para uma verdadeira sustentabilidade. Políticas públicas ambiciosas, acordos internacionais e colaboração em larga escala são essenciais para enfrentar os desafios climáticos e ambientais de forma abrangente e eficaz.

5. Ignorando a Interdependência Global:

No mundo globalizado de hoje, estamos todos interligados e as ações em uma parte do planeta podem ter impactos em outras. A pandemia de COVID-19 é um exemplo claro disso. Pensar apenas no local durante essa crise global teria sido ineficaz.

Abordagem Mais Abrangente:

Em vez de se concentrar apenas em ações locais, precisamos de uma visão holística da sustentabilidade que reconheça as interconexões globais e as causas estruturais dos problemas ambientais. É necessário um esforço conjunto em diferentes níveis, desde ações individuais até políticas públicas internacionais, para alcançar um futuro sustentável para toda a população.

Conclusão:

A máxima “pense globalmente, aja localmente” oferece um ponto de partida importante, mas não é uma solução completa para os desafios da sustentabilidade. Precisamos ir além de ações fragmentadas e pensar em soluções sistêmicas e colaborativas que abordem as causas raízes dos problemas ambientais e promovam a justiça social e ambiental em escala global.

(*) Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.

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