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Patrimônio comum ousadamente limitado para continuar sendo gasto com pouco critério

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04/11/2019 07h32 – Por: Folha de Dourados

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Por, Victor Teixeira, colaborador

Mortíferas e destrutivas intempéries eram uma vasta parte do leque de possíveis fadários que os habitantes das Bahamas desejavam ter evitado que se somassem a uma corrente crise na infraestrutura e na retidão percebida no tratamento dado ao bem comum pelas autoridades, com ppssível influência das falhas desta sobre a primeira situação. Mas, já que se concretizou, a tormenta aguçou a sensibilidade do futuro do arquipélago-nação aos passos que seus governantes derem pela recuperação material e psíquica de seus eleitores sobreviventes, inclusive segundo a previsível demanda por acesso a recursos e capacidades para amortecer o impacto de futuros eventos do tipo.

Em cerca de dois meses os habitantes das Bahamas e testemunhas de muitas partes do mundo atraídas por relatos da mídia estrangeira sobre o país já foram deslocados sob o inexorável curso do tempo em relação ao instante em que Dorian, um furacão de categoria 5, fez ventar e chover sobre as Ilhas de Ábaco e Grande Bahama historicamente mais forte do que o tolerável para os humanos que habitam a área, os recursos artificialmente criados lá por eles e os bens naturais tanto vivos quanto biologicamente inertes de que podem gozar e pelos quais devem zelar a fim de fixar residência e gerar riquezas consumíveis a nível local, no resto do país e talvez também nos arredores. Muitos dos que mantiveram consigo, antes de tudo, sua existência (ou seja, não incluídos entre as quase 70 mortes confirmadas e as que poderão ser atestadas para centenas de desaparecidos), no caso de parte dos ocupantes humanos de Ábaco, buscaram abrigo em lugares menos fustigados perto de onde originalmente viviam, enquanto outros embarcaram em voos comerciais e barcos para Nova Providência, ilha que sedia Nassau, a capital do país, onde puderam desfrutar de alojamentos transitórios em ambientes servíveis para tal, como um ginásio esportivo, um centro comunitário e igrejas protestantes.

No âmbito financeiro, preliminares estimativas pela empresa de gestào de riscos Karen and Clark Company (KCC) de um rastro de danos materiais no valor de 70 bilhões de dólares talvez sejam um indispensável ponto de partida para avaliações público-privadas dos prejuízos a ganharem suas definitivas dimensões à medida que os destroços saírem de cena. A mão-de-obra estatal e as organizações voluntárias engajadas nessa tarefa, em cada etapa do re-estabelecimento das capacidades psicológicas e materiais em que os habitantes conseguiam se sustentar ou se preparar intelectualmente para tal e na busca pelos corpos para sua identificação perante as famílias, podem contar com vultosas oportunidades de acesso a recursos financeiros oferecidas por empresas privadas, governos locais de ilhas poupadas por Dorian, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e uma companhia de seguros para grandes catástrofes gerida em parceria com outros países caribenhos.

Com a irrisória velocidade de sua resposta às demandas dos moradores que relutaram em deixar as ilhas, igualmente representativas para o restante que não conseguirá encarar uma longa estadia em ambientes de alojamento provisório, por remoção de detritos e prontidão da polícia para um cerco a ladrões o governo bahamense disponibiliza aos entes doadores uma nuance contra a qual cabe posicionamento destes. Até que se consuma o montante com que contemplaram o Poder Público, há para eles postos de orientadores e monitores dos desembolsos. Tanto quanto no que tange ao que o governo do primeiro-ministro Hubert Minnis (Movimento Nacional Livre, FNM) já tinha em suas receitas antes de a emergência brotar, o proveito das importâncias de procedência caritativa conta ainda com a aptidão para assegurar o íntegro custeio de todas as fases da volta por cima para cujo exercício um editorial do dia 1° do último mês no The Nassau Guardian conclamou o restante da imprensa.

Para os reflexos de Dorian não faltam antecedentes negativos referentes ao suprimento de eletricidade e a práticas de gestão pública provavelmente culpáveis por sua feição e capazes de acentuá-la se seguirem de vento em popa. Sustenta-se há décadas a subordinação das ilhas varridas pela recente tempestade, além da que é sede administrativa nacional e de Bimini, à companhia Bahamas Power and Light (BPL) sem possibilidades de busca de contratos com fornecedores fiéis aos anseios nas casas, repartições estatais e empresas por uma transmissão elétrica mais resistente a interrupções. Em vigor sobre mais um território do globo regido por autoridades sabidamente oportunistas na condução de outros deveres, as falhas na entrega dessa assistência são previsíveis frutos de mais algum foco de malversação do patrimônio de todos a se revelar.

Os correntes ocupantes do poder nessas terras caribenhas tiveram em julho revigorada por meio da renúncia de um membro de seu gabinete de ministros, também ocupante de um assento parlamentar, a crise na confiança merecida dos que os elegeram em 2017, gerada em outubro de 2018. Negações por Brent Symonette não debilitam a massiva adesão a teses segundo as quais jogou a toalha temendo colher política e legalmente o que ele e seus filhos plantaram com seus modos de atuar em contratos públicos. Justo a empresa Bahamas Hot Mix, de cujo comando participa a prole de Symonette, é considerada competente entre tantas firmas que se candidataram para licitações de melhorias no fornecimento de água e em pistas de um aeroporto, a despeito da interferência dos últimos trabalhos na pontualidade de voos. Com suas próprias mãos Symonette já tratara de sujar-se há pouco mais de um ano ao disponibilizar uma parte de um shopping center de sua propriedade para sediar o serviço postal do país. Inicialmente relutante, o patriarca havia se rendido à proposta, oferecida por Minnis, a ponto de acertar com ele um valor baixo de aluguel sem incluir isso entre os tenas que o parlamento (Casa de Assembleia) deveria analisar antes de aprovar a resolução que isentava seu membro de renunciar ao cargo para tomar parte no negócio público-privado. Generosidade para com os pagadores de impostos, ademais, não era o que se podia esperar nas despesas a surgirem com a integridade do prédio em virtude de um inesperado desaparecimento de itens elétricos, hidráulicos e de climatização enquanto a referida pauta tramitava no Legislativo, numa credível conspiração vandálica para majorar os custos.

Enquanto a vigente administração não topa com o desfecho dessas aventuras, o Partido Liberal Progressista (PLP), que a antecedeu no comando das Bahamas, também fica à mercê de consequências das corrupções em que se metera, que deverão sobretudo instigar uma vigilância popular e jornalística do renascimento pós-Dorian por englobar uma pretérita ocorrência de fissura na legalidade a ser observada no socorro financeiro a vítimas de catástrofes naturais. O egresso parlamentar e ex-ministro Shane Gibson e duas pessoas que no começo de 2017 lhe entregaram subornos vislumbrando o acesso de uma delas, um empresário, a compensações ainda não se encontraram com a iminência de penalidades graças à vagareza na definição pela polícia do que lhe é útil nos depoimentos dos envolvidos, pela qual estará sendo cimentado o encaixe entre uma hipotética desembocadura na impunidade e as pretensões de que se pode suspeitar quando Deborah Thompson, uma oficial do órgão, fala em “limpar” elementos divergentes nos pronunciamentos.

O transcurso da restituição a infraestruturas de uso comum da integridade obliterada pela agitação climática e do amparo aos cidadãos na conquista de novos bens pessoais para se sustentarem está ao alcance de demandas para que uma revigoração da misericórdia da natureza seja buscada a partir de um aumento na disciplina com que seus recursos são extraídos e utilizados. São um útil substrato para seu pensável brotamento o derrame de petróleo resultante de danos causados por Dorian a um terminal de armazenamento e transbordo em Grande Bahama e associações causais do fenômeno com as tão debatidas mudanças climáticas.

Mas a corrupção, com seus injustos efeitos reconhecidos por 80% dos bahamenses interpelados pela Transparência Internacional numa ocasião em que também se deparara com a confissão de entrega de vantagens indevidas a autoridades por uns 20%, fica a postos para delimitar a amplitude com que o arquipélago fortalecerá sua adesão a condutas sustentáveis. As contemporâneas vivências da nação caribenha paralelizam-na entre outras que, por causa do mencionado vício administrativo, de limites nos tipos de recursos naturais úteis para o desenvolvimento sustentável ou de um tíbio empenho do Estado para acrescer o espaço a ser dividido com os empreendedores individuais na partilha do poder decisório sobre como tornar seus produtos acessíveis ao público, nas quais pensar é prudente aos movimentos sociais e organizações burocráticas de mando supranacional antes de seguirem conduzindo campanhas de pressão por correção ecológica em doses populistas no estilo Greta Thunberg.

A pertinência das mobilizações contra o aumento da temperatura global por adição à atmosfera de gás carbônico oriundo do trabalho humano ao volume proveniente dos processos biológicos desenvolvidos no organismo da crescente população antrópica e dos outros seres vivos atingirá os patamares em que é indiscutível quando o alvo são as moléstias trazidas pelo desperdício de água ou poluição desta, do ar e do solo pela agricultura, pecuária, mineração ou a indústria para os contingentes demográficos que exercem ditos trabalhos ou residem perto de onde acontecem só se os Estados mais exitosos na exploração de fontes de energia menos poluentes e cuja existência sempre se renova expandirem interações com as terras menos afortunadas em que lhes oferecem uma amostra de sua sabedoria e frutos materiais dela tanto quanto for justo o acesso nos lugares destinatários. A mesma humanidade que precisa salvar-se do preço cobrado pela natureza motivada por excessos em seu proveito não merece ficar ainda mais na mira de esgotamentos econômicos semeados por hipotéticas rupturas de acordos comerciais com países incapazes de entrar no ritmo de metas impostas para radicalmente diminuir a incidência atmosférica dos gases do efeito estufa nem testemunhar reflexos da inclusão do interesse de países evoluídos em evitar altas na demanda populacional por energia e bens de consumo como justificativa para se fecharem mais ao recebimento de imigrantes, entre outros opróbrios a emergirem de meios de inculcar na humanidade a nova consciência ambiental que atem os governados à sanha pelo poder de que governantes e aliados sociais destes venham a se apossar graças à maneira como assumirem as rédeas de mais essa inquietude de inegável legitimidade.

Ao redor da projeção que a adolescente sueca proporciona ao ecologismo cabe um parênteses por causa do vínculo entre seu apego à causa e a Síndre de Asperger, uma variedade de autismo. Sua visão do quão agilmente nossas atuais tecnologias de transporte, comunicação e produção de bens devem ser aprimoradas à luz do cuidado com o ambiente converge com a de governantes dispostos a proteger a humanidade de um perigo em troca da aceitação por ela de freios inflexíveis ao atendimento de necessidades igualmente valiosas, abrindo caminho para mais rejeição a jovens rotulados pela medicina com essa condição. As injustiças já começam ao se atribuir caráter patológico à escolha de certos adolescentes e jovens por, para além de quando são considerados úteis (as rotinas escolares, acadêmicas e laborais), consumir tempo com atividades criativas e de reflexão e busca de conhecimentos sobre a sociedade e a natureza a seu redor em busca de quem os ampare objetivando uma gratidão, mesmo tardia, por suas descobertas e invenções do restante da sociedade que os vem rejeitando em detrimento a exemplos de vida superficiais e promíscuos naturalizados pela desestrutura familiar e governamental e boa parte da cultura de massa.

Com seu trajeto pelas Bahamas o furacão levou a uma estaca zero, mensurável a partir de sua intensidade, o acumulado do que em matéria de qualidade de vida a população conquistou pelo uso remunerado de suas faculdades braçais e cognitivas, obedecendo aos comandos legítimos do governo e sendo por vezes auxiliada pelo dito cujo. Se enraíza na precedente realidade de que nem tudo era colorido na relação entre o Poder Público e os cidadãos o cabimento ao primeiro de livrar-se do impacto de más práticas e integrantes na ética de seu funcionamento com o auxílio da crítica e denúncia construtivas pelo povo e a mídia aos nocivos elementos componentes das instituições ou aspirantes a tal em futuras eleições. Só nessa classe de circunstâncias os dois setores podem reerguer seu país e torná-lo mais fácil de regenerar após novos cataclismos mediante um sábio discernimento do que fazer e permitir que pretensas almas caridosas estrangeiras façam.

Victor Teixeira

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