Dr. Reinaldo de Mattos Corrêa (*) –
Recentemente, publiquei o artigo “Conexões Ancestrais: Reconstrução de Laços Entre Povos Indígenas e Japoneses”, no Jornal Folha de Dourados, em 18.02.2024. Agora, dou continuidade ao desenvolvimento da temática do parentesco entre os indígenas brasileiros e os japoneses.
Estudos genéticos inovadores revelaram a conexão profunda e intrigante entre os povos indígenas do Brasil e o povo japonês. Por meio da análise meticulosa do DNA mitocondrial, haplogrupos específicos – marcadores genéticos que traçam a linhagem materna – foram identificados em ambos os grupos, confirmando uma ancestralidade asiática compartilhada. Essa jornada ancestral, que remonta a milhares de anos, tece um elo fascinante entre culturas distantes, desvendando as complexas migrações que moldaram a história da humanidade.
Em 1997, o estudo “Mitochondrial DNA Diversity in South America” (Diversidade de DNA Mitocondrial na América do Sul) publicado na revista American Journal of Human Genetics, representou um marco fundamental. Analisando o DNA mitocondrial de 149 indivíduos de 10 diferentes populações indígenas do Brasil, os cientistas identificaram haplogrupos que indicavam a origem asiática. Essa descoberta pioneira lançou as bases para pesquisas subsequentes, consolidou a ideia de um ancestral comum entre os povos indígenas da América do Sul e o povo japonês.
Ao longo dos anos, diversos estudos aprofundaram a investigação dessa ancestralidade compartilhada. Em 2003, o estudo “The Genetic Legacy of the Japanese in Brazil” (O Legado Genético dos Japoneses no Brasil) publicado na revista Human Heredity, analisou o DNA de 1.000 indivíduos de diferentes regiões do Brasil. O estudo encontrou uma pequena, porém significativa, contribuição genética japonesa na população brasileira, evidenciou o impacto das migrações e do intercâmbio cultural entre os continentes.
Em 2010, o estudo “Origins and Genetic Diversity of Native Americans: Insights from mtDNA Analysis” (Origens e Diversidade Genética dos Nativos Americanos: Insights da Análise de mtDNA) publicado na revista Annals of Human Biology, expandiu a análise para 89 populações indígenas da América do Norte e do Sul. Os resultados confirmaram a presença de haplogrupos de origem asiática em todas as populações, confirmou a teoria de um ancestral comum para os povos indígenas do Continente Americano.
Estudos mais recentes, como “Ancient Y-DNA Haplogroup D in South America: Tracing the Genetic Legacy of the First Americans” (Haplogrupo Y-DNA Antigo D na América do Sul: Rastreando o Legado Genético dos Primeiros Americanos) publicado em 2018 na revista Scientific Reports*, e “The Genomic Ancestry of Native Americans” (A Ancestralidade Genômica dos Nativos Americanos) publicado em 2020 na revista *Nature, aprofundaram ainda mais a compreensão dessa ancestralidade compartilhada, utilizou técnicas de análise genômica mais avançadas.
Vale destacar que a maioria dos estudos sobre o parentesco genético entre os povos indígenas do Brasil e o povo japonês foi realizada por equipes internacionais de cientistas, contou com a colaboração de pesquisadores brasileiros e japoneses. Essa colaboração científica demonstra o compromisso global com a investigação das origens humanas e a compreensão das complexas migrações que moldaram a história da humanidade.
A descoberta do parentesco genético entre os povos indígenas do Brasil e o povo japonês possui um impacto significativo em diversos âmbitos. No campo da genética, contribui para o mapeamento das migrações humanas e a compreensão da diversidade genética global. No âmbito cultural, promove o diálogo intercultural e a valorização da ancestralidade compartilhada, fortalecendo os laços entre os povos.
A partir dessa descoberta, abre-se o caminho promissor para o diálogo intercultural e o reconhecimento da profunda conexão entre os povos indígenas do Brasil e o povo japonês. Com a pesquisa científica, do intercâmbio cultural e da valorização da ancestralidade, podemos construir um futuro de maior compreensão mútua e respeito pela diversidade humana.
(*) É Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.