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O velho fogão a pó de serra, por Ilson Boca Venancio

Culturalmente Falando – 27/05/2012

Outro dia em visita a um velho amigo, uma cena que vi me fez viajar no tempo e refletir. Era a imagem de um velho fogão de lata muito usado nos tempos das serrarias.
Dourados, uma cidade nascida em região de campos e florestas, de matas altas com árvores imensas de madeira de lei, foi povoada durante muitas décadas por gente que vinha para trabalhar na extração de madeira.
Meu personagem de hoje é Nelson Alves Pereira, nasceu no ano de 1954 no Panambi na Colônia Federal de Dourados. Seu pai, Severino Pereira, natural de Birigui, no interior de São Paulo, trabalhava de foguista de caldeira em indústrias. Tendo vendido o sitio aqui retornara a SP, e como as coisas por lá não deram certo, retornou a colônia se tornando arrendatário no sitio do seu avô.
Veio em seguida morar com a família em Dourados, e foi aí que seu pai se tornou foguista de serraria, e foi aqui que nos conhecemos, Maria Alves sua mãe e as irmã Mariazinha e Teresa.
Eu ainda bem menino ia buscar pó de serra na serraria do Seu Mauro Rigotti. Buscar pó de serra e sarrafo (refugo de madeira serradas) era tarefa de meninos.
Neste período em nossa cidade havia muitas serrarias na área central que se localizava no começo da rua Rio Brilhante, na rua Cuiabá onde se encontra o primeiro Distrito Policial, na Joaquim Teixeira Alves entre a Nelson de Araujo e a rua Bahia( atual Hayel Bon Faker, proximidades do supermercado Santo Antonio, outra próximo a Câmara Municipal, no local da viação Motta e muitas outras.
As serrarias criaram na comunidade alguns hábitos culturais, como o fogão de pó de serra, muito comum nas casas mais humildes. Eram feitos de lata de querosene que, depois de vazias, eram vendidas nos ‘bulichos’. Os fogões de lata serviam para cozinhar o feijão, o puchero, o locro, e para ferver as roupas que com o vermelho da terra ficavam muito sujas.
Outra vantagem do pó de serra é que não fazia fumaça, ao contrário da lenha, que se não fosse bem seca e apropriada, a fumaça ardia os olhos. Canela de veado, angico, pitanga era algumas das madeiras que além de não fazer fumaça eram aromatizantes.
Neste período não havia por aqui o fogão a gás, alguns tinha o fogão de ferro a lenha, a maioria era de tijolo com reboco e vermelhão, e tinha uma chaminé que puxado pelo ar avivava o fogo levando a fumaça para cima.
Outra vantagem do pó de serra era o custo zero. Só cabia a você fazer o transporte que era de carroça ou carinho de mão. Quem podia mandava fazer o fogão de tijolos e vermelhão como o da casa do Seu Moacir Djalma Barros, (meu vizinho na época) que mandou fazer para a Dona Maria um belo fogão a pó de serra com forno, tinha um cano de água que passava por dentro da parede de trás do fogão aquecendo água para o chuveiro.
Alem do fogão, o pó de serra servia para ser espalhado na porta das casas nos dias de chuva, devido ao barro. Desde o portão ate frente da porta ia fazendo uma estradinha, que no final tinha o limpa pé, ‘pega paulista’, local de raspar o barro do sapato. Caminhando sobre o pó evitava de sujar a casa.
Outras utilidades tinha o pó, como a extração de tinturas – eu em particular uso na confecção de papel artesanal. Hoje, o pó de serra depois de prensado e recapado é transformado em móveis.
O Nelson, que depois de morar durante quarenta anos num barraco (hoje mora numa casa de alvenaria do projeto social fruto das mudanças na área de inclusão social) recorda comigo esses tempos, e mesmo tendo o fogão a gás preserva consigo o velho fogão de lata. Na falta do pó de serra, utiliza madeira em pedaço.

Fonte: Folha de Dourados

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