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‘O que de fato quebra o Brasil’, por Wilson Matos

Wilson Matos da Silva (*) –  

Na sociedade douradense, onde transito como advogado e político de origem indígena, não é raro ouvir os “donos do poder” — magnatas históricos, clãs elitizados, latifundiários — e tantos outros que pensam pertencer à elite, ou apenas orbitam ao redor dela, destilarem um discurso repetido, preconceituoso e hipócrita: “os índios são preguiçosos”, “os pobres não querem mais trabalhar”, “o socialismo está quebrando o país com cestas básicas e auxílios”.

Mas eu, ex-cortador de cana, digo com a autoridade do suor: o que os indígenas não aceitam mais é a escravidão moderna disfarçada de trabalho. Não aceitam morrer aos quarenta com a coluna arqueada e a alma esmagada. O que eles querem — o que nós queremos — é respeito, justiça, dignidade. Queremos o direito de viver, e não apneas de servir.

Nestes últimos meses, desde a deflagração da Operação Ultima Ratio, acompanho com indignação a investigação que afastou quatro desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, sob a grave suspeita de vender sentenças e praticar corrupção. E o mais revoltante: continuam recebendo salários de marajás.

O artigo “Toga Suspensa e Justiça em Banho-Maria”, de Alcina Reis, revela o escárnio. Desembargadores afastados seguem recebendo entre R$ 89 mil e R$ 154 mil por mês. Um deles, Sideni Soncini Pimentel, embolsou R$ 926 mil em seis meses — média de mais de cem salários mínimos. Enquanto isso, um trabalhador indígena levaria mais de oito anos para juntar essa quantia — isso se conseguisse viver sem gastar um centavo.

E ainda dizem que o país quebra por causa do vale-gás? A verdade é que quem afunda esta nação são os tribunais que premiam a corrupção, os políticos que cobram comissões de 30% sobre verbas públicas, os altos funcionários que vivem num Olimpo blindado pelo dinheiro do povo. No Congresso, muitos recebem acima de R$ 100 mil mensais — e tratam o orçamento como se fosse um negócio privado.

Enquanto isso, seguem invisíveis os que abriram fazendas na foice, plantaram pastos na enxada, ergueram o Proálcool no suor, e que sustentam a terra com seus corpos curvados e sua história ignorada. Seguimos sendo chamados de entraves ao progresso.

Mas que progresso é esse? O que destrói florestas, expulsa povos e concentra riqueza? Está na hora de despertar. Está na hora de parar de culpar quem recebe uma cesta básica, e começar a investigar quem leva o caminhão inteiro.

(*) É Indígena, Advogado Criminalista OAB/MS 10.689, especialista em Direito Constitucional, é Jornalista DRT 773MS. residente na Aldeia Jaguapiru – Dourados MS. [email protected]

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