19/03/2017 09h46
Um bom livro, uma ótima leitura
Por: Folha de Dourados
(*) Waldir Guerra
Nessa angústia na Lava Jato de que vai acontecer e não acontece nada; nesse intervalo entre vai acontecer e não acontece nada com as reformas deste novo governo decidi parar e me dedicar ler o livro “O Futuro Chegou” do escritor Domenico de Masi. E fiz bem ao fazer isso.
Livro de 750 páginas, meio desajeitado para mantê-lo nas mãos durante a leitura, mas a curiosidade em saber um pouco mais sobre a propalada era pós-industrial que segundo Domenico e outros sociólogos já estaríamos vivendo, me encorajou ler a obra toda. A leitura dele foi consumida como uma sobremesa, quanto mais avançava mais queria.
Foi mais uma boa aula acerca da evolução da humanidade desses últimos dez mil anos. Desde o período essencialmente agrícola e pastoril; mais a descrição minuciosa do período industrial que durou duzentos anos, e já acabou, pois agora já estamos vivendo uma nova era, a pós-industrial.
Na página 549 Domenico De Masi me situou e me descreveu: “As novas tecnologias têm agido como teste para colocar em evidência a progressiva dicotomia entre um número decrescente de pessoas que continua a viver conforme modalidades industriais, senão ainda rurais, e um número crescente de pessoas que começa a viver de modo cada vez mais coerente com a cultura pós-moderna. Simplifico chamando de “analógicos” os primeiros e “digitais” os segundos”.
Faltou apenas citar meu nome quando no parágrafo seguinte continuou: “Em princípio, os “analógicos” são mais velhos que os digitais e irão demograficamente desaparecer nos próximos decênios. Não têm facilidade com a informática …” e vai por aí afora descrevendo como analógicos todos aqueles que estão agarrados com os valores do passado industrial, mas que irão desaparecer para dar lugar aos digitais.
Aproveitei como boa lição de Domenico sua descrição da vida e luta de Karl Marx e de Friedrich Engels – companheiro de Marx por toda sua vida. Os dois fundaram o socialismo científico e em coautoria criaram o Manifesto Comunista. Fiquei com outra opinião acerca da luta de Marx na defesa dos operários durante o período mais tenebroso da era industrial, no começo dela. Continuo com o mesmo pensamento de sempre quanto a utopia dos sonhos de Marx e Engels para implantar o comunismo no mundo todo.
Pela influência que o comunismo teve para grande parte da humanidade e já que entre os sociólogos há certa discordância sobre a data a ser considerada para o fim da era industrial, parece-me justo concordar com os que afirmam ela seja fixada na derrubada do muro de Berlim. Afinal, ali naquele momento da história morreu também o sonho marxista: o comunismo. Ficou provado que ele não é viável como forma de conduzir uma nação, ali também a era industrial começou a dar lugar a pós-industrial.
Na parte final do livro Domenico se dedica a uma bela dissertação sobre a formação sociológica do povo brasileiro e gostei quando discorda de Stefan Zweig que diz que indígenas não influíram na formação do povo brasileiro: “não existe uma poesia pré-histórica brasileira, nem uma religião brasileira, nem uma música brasileira antiga…; e Domenico replica: “Mas de quem crê Zweig que os brasileiros de hoje tenham herdado sua doçura, brandura e tolerância senão dos progenitores indígenas? Como poderiam tê-la herdado dos portugueses, dos holandeses que abriram caminho com tiros de canhão contra gente desarmada que não conhecia nem a roda? Realmente é um bom livro e uma ótima leitura.
(Em tempo: Obrigado meus bons amigos Peterson e Carini pelo belo presente: o empolgante livro “O Futuro Chegou” de Domenico De Masi).
(*) Membro da Academia Douradense de Letras; foi vereador, secretário do Estado e deputado federal ([email protected])
