Bosco Martins – É jornalista e escritor –
O caso do jovem Gerson, 19 anos, que pulou a cerca do zoológico de João Pessoa para entrar no recinto de uma leoa, virou manchete como ato de insanidade. Mas a história começa antes: no abandono. Filho de mãe com esquizofrenia e criado em ambiente de vulnerabilidade extrema, Gerson cresceu entre violações de direitos, fome emocional e ausência de qualquer rede de proteção.
Seu gesto não foi aventura, mas desespero. Enquanto se discutia a segurança do zoo, ignorava-se as grades invisíveis que o aprisionaram por toda a vida: pobreza, doença mental não tratada e negligência afetiva. O sonho de “domar leões” soava delírio, mas simbolizava a tentativa de controlar as próprias feras internas.
Mais que invadir um recinto, Gerson pediu socorro. Tornou-se visível apenas ao arriscar a própria vida – reflexo de um sistema que falha com seus mais frágeis. A leoa está a salvo. Quem segue em risco é a nossa humanidade, incapaz de enxergar antes que a tragédia escale as grades.

