João Roberto Giacomini –
Há pouco tempo, bastava uma mesa de bar para fazer amigos. Hoje, basta olhar em volta: rostos iluminados pela luz azul dos celulares, quatro pessoas sentadas juntas — e cada uma num mundo próprio.
O fenômeno é global. Nos Estados Unidos, o número de adultos que dizem não ter nenhum amigo próximo subiu de 3% em 1990 para cerca de 12% em 2021, enquanto os que dizem ter dez ou mais amigos próximos caiu de 33% para 13%. No Brasil, 28% dos adultos afirmam ter no máximo um amigo próximo, e 14% não têm nenhum amigo íntimo. Uma pesquisa internacional revelou ainda que 50% dos brasileiros se sentem solitários, bem acima da média mundial de 33%.
O problema começa cedo. Nas escolas, o uso excessivo de celulares prejudica a atenção e a interação social. Um estudo no Rio de Janeiro mostrou que, após a proibição do celular em sala de aula, 80% dos alunos prestaram mais atenção, e 62% da população apoia a restrição, acreditando que o dispositivo atrapalha mais do que ajuda no aprendizado. Desde cedo, telas roubam tempo que poderia ser dedicado a conversas, brincadeiras e amizades — formando jovens cada vez mais conectados digitalmente, mas socialmente distantes.
O impacto não é apenas social: isolamento e relações superficiais aumentam o risco de doenças cardíacas e mortalidade precoce — efeitos comparáveis a fatores como o tabagismo. Manter amigos, literalmente, faz bem ao coração.
Não é por acaso que a solidão é chamada de epidemia global. Países como o Reino Unido e o Japão já criaram ministérios para combatê-la. A amizade deixou de ser um luxo: tornou-se necessidade.
No livro Os Cinco Maiores Arrependimentos dos Moribundos, Bonnie Ware relata o lamento recorrente:
“Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos.”
A amizade não é feita de mensagens, mas de memórias. Não exige tempo de sobra — exige prioridade.
A cura para a recessão das amizades talvez seja simples: guardar o celular, olhar nos olhos e estar presente. Afinal, nenhuma tecnologia substitui a alegria de ser lembrado, ouvido e acolhido — no mundo real.
Referências
- Cox, D. A. (2021). The State of American Friendship: Change, Challenges, and Loss. American Enterprise Institute. Link
- Holt-Lunstad, J., Smith, T. B., & Layton, J. B. (2010). Social Relationships and Mortality Risk: A Meta-analytic Review. PLOS Medicine, 7(7), e1000316. Link
- Gallup, A. D. (2025). Sharing Meals with Others. World Happiness Report 2025. Link
- Ware, B. (2012). Os Cinco Maiores Arrependimentos dos Moribundos. Editora Cultrix.
- PoderData. (2023). 28% dos brasileiros dizem ter no máximo 1 amigo. Link
- Instituto Ipsos. (2021). Brasileiros se sentem os mais solitários do mundo. Link
- Agência Brasil (2025). Veto a celular leva 80% dos alunos a prestar mais atenção nas aulas. Link
- Datafolha (2024). Proibição de celulares nas escolas: 62% da população apoia. Link


