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Nossa Feira Livre, personagens e suas trajetórias de vida: Seu Nonato e Dona Chica

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Ilson Boca Venâncio –

Primeiro eu conheci a Chica, mulher trabalhadora e consciente das coisas da vida, por isso participa dos movimentos alternativos da agricultura familiar. Depois ‘Seu Nonato’, o esposo, homem simples e trabalhador que sabe muito bem onde dói o calo, e das cirandas que tem que dançar para sobreviver.

Para eles, quem tem só uma ‘chacrinha’ para produzir, tem que organizar a produção de maneira que possa ter produto que dê para encher a banca todo final de semana.

Nonato Silva de Souza e Maria de Fátima da Silva são alguns daqueles que resistem a sobreviver com um pequeno pedacinho de terra produzindo alimentos de forma natural, contrapondo a esse universo de monocultura mecanizada.

Ele me contou que seus pais vieram para Dourados em 1948 e quando chegaram por aqui, conheceram uma senhora que tinha uma lavanderia e tinturaria próxima a Praça Antônio João que lhes ofereceu trabalho.

Como eles tinham que esperar um tempo até a liberação do lote da colônia aceitou o trabalho, um dos motivos foi porque eles poderiam morar no local de trabalho. 

Era 1948 ano em que nasceu sua irmã mais velha. Quando o lote foi liberado, seu pai, todos os dias, saia dali da Praça Central da Matriz a pé, indo até o travessão da Figueira com a finalidade de abrir a frente do lote e construir a casa. 

Conta que os primeiros colonos que chegaram, ainda ganharam casa, mais os outros, tinham que construir as suas moradias.

Para isso, usava material alternativo como pau a pique, barro e palha (Taipa).  O sapé era o capim mais usado para fazer a cobertura.

Ele me disse que seu pai era um homem simples da roça e que só sabia plantar e colher, mais não tinha jeito para o comércio.

Já ele era diferente, tinha disposição a venda, com isso assim que ficou adulto começou com negócio na feira. A princípio com a venda de carne de porco, melancia, tomate. Aos poucos a produção ia aumentando.

Muita gente vinha trazer as coisas do spitio para vender na feira onde tinha um grande movimento.

Donato me revela casos dos tempos que se faziam pontos de venda para comercializar os produtos.

Conta que antes de se estabelecer em um local definitivo para o funcionamento da feira, os colonos procuravam os de maior movimento de comércio para fazer seu ponto de venda.

Um deles era na frente da Casa Mariano, um armazém forte onde muita gente vinha fazer compras de materiais para a lida no campo.

Vai lembrando os seus vizinhos e contando um pouco sobre cada um deles.  O Anésio e Rivaldo vinham vender mandioca, eles traziam o produto e despejavam na calçada, enquanto um vendia o outro voltava até o travessão do Castelo para buscar mais produtos.

“Quando acabava a mandioca deles, compravam as do meu pai para vir revender”, lembra.

Outro que ficou muito bem guardado na sua memória foi o Sr. Agripino, que matava porcos. Ele os colocava dentro de uma bacia e fazia um rolete de pano. Depois colocava a bacia em cima da cabeça e vinha lá do “Bolicho Queimado” andando a pé, batendo a sandália de couro e cantarolando até a Praça Antônio João vender seu produto.

Esse ritual servia de relógio para eles, pois quando ele passava em frente das casas, todos já sabiam que era hora da feira, já que por vir a pé, saia primeiro, e aí vinha alertando os demais feirantes do horário.

Já o Sr. Inácio matava o porco e se utilizava do seu cavalo como meio de transporte, colocando o animal sobre o arreio para o transporte até a cidade.

Nonato diz que a feira livre é uma mãe para quem tinha chácara, pois podia vender tudo o que produzia e para quem apesar das mudanças no formato atual deseja continuar.

Destaca que a padronização de comércio para um só produto é complicada, pois quem vende o que produz, se vira bem, quando não tem um produto vai vendendo outro.

Hoje por exemplo, eles têm uma banca e um carrinho de churros, ficam em duas pessoas, quando um precisa sair o outro faz o atendimento das vendas. Se tiver que separar um produto em cada setor, aí vai ficar difícil para conciliar o trabalho.

Destaca que o colono nordestino tem a cultura de fazer feira, o hábito de andar e, por isso, eles logo começaram a vir a cidade vender seus produtos e fazer ponto na cidade para as vendas.

Isso foi um dos fatores que impulsionou a criação da feira livre pelo poder público e espera que o local para aqueles que iniciaram o trabalho vendendo os produtos na calçada sejam garantidos na estrutura nova que está se definindo.

Eu da minha parte, só tenho que agradecer ao Nonato e a Chica pela contribuição com o meu trabalho.

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