02/10/2018 15h42
Recente relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) trouxe dose dupla de más notícias para o País e aquele ou aquela que assumir a sua condução após o segundo turno eleitoral.
A primeira delas é a revisão para baixo da projeção de crescimento do Brasil neste ano, dos 2% previstos em maio para 1,2%, e a segunda, o alerta de que a expansão econômica global, importante principalmente para os países dependentes da exportação de commodities, parece ter atingido seu pico, com perspectivas de crescimento divergentes em todo o mundo e intensificação dos riscos.
Uma escalada de tensões comerciais, situações de aperto financeiro nos países emergentes e riscos políticos generalizados tem o potencial de minar as esperanças de um crescimento mundial forte e sustentável a médio prazo, alerta o organismo. A OCDE prevê que a economia global cresça 3,7% em 2018 e 2019, pouco abaixo dos 3,8% estimados em maio, com diferenças cada vez maiores entre os países em contraste com a ampla expansão observada no fim de 2017 e no início deste ano.
Siga a FOLHA DE DOURADOS no Facebook
Múltiplos sinais, além daqueles contidos no relatório da OCDE, indicam a exaustão da política que associa liberdade sem limites para a iniciativa privada, em especial para as multinacionais, à derrubada das salvaguardas nacionais, combinação apresentada sob o rótulo neutro de globalização econômica como solução para o mundo cerca de 40 anos atrás.
Embora tenha possibilitado níveis de prosperidade sem precedentes nos países avançados e beneficiado centenas de milhões de trabalhadores pobres na China e em outros lugares da Ásia, analisa o economista Dani Rodrik, ela repousa sobre pilares instáveis. Ao contrário dos mercados nacionais, diz, que tendem a ser apoiados por instituições reguladoras e políticas domésticas, os mercados globais são apenas fracamente incorporados por instituições.
“Não há nenhuma autoridade antitruste global, nenhum credor global de última instância, nenhum regulador global, nenhuma rede de segurança global e, naturalmente, não há nenhuma democracia global. Em outras palavras, os mercados globais sofrem de governança fraca, portanto são propensos a instabilidade, ineficiência e fraca legitimidade popular.
Esse desequilíbrio entre o âmbito nacional dos governos e a natureza global dos mercados forma o ponto fraco da globalização. Um sistema econômico global saudável exige um compromisso delicado entre essas duas dimensões. Dê muito poder aos governos e você terá protecionismo e autarquia. Dê aos mercados muita liberdade e o resultado é uma economia mundial instável com pouco apoio social e político daqueles que supostamente ajuda”, resume o economista.
Só um mundo com muita liberdade aos mercados consegue encarar com naturalidade esta formulação de Percy Barnevik, presidente da sueca Asea Brown Boveri: “Eu definiria a globalização como a liberdade do meu grupo para investir onde e durante o tempo que desejar, para produzir o que quiser, comprando e vendendo onde pretender, atuando com o mínimo possível de leis trabalhistas e sociais e restrições formais”.
Protestos antiglobalização não faltaram, o maior deles em Seattle durante a conferência ministerial de 1999 da Organização Mundial do Comércio, mas não provocaram sequer um tropeço na marcha das empresas gigantes.
O modelo é apresentado pelos ortodoxos como a única solução, mas a experiência do Pós-Guerra prova que instabilidade e desigualdade exacerbadas não são inevitáveis. As primeiras três décadas depois de 1945 foram governadas pelo acordo de Bretton Woods, localidade dos EUA onde economistas e políticos das nações aliadas se reuniram em 1944 para projetar o sistema econômico após a Segunda Guerra Mundial.
O regime de Bretton Woods foi um multilateralismo superficial que permitiu aos formuladores de políticas concentrar-se nas necessidades sociais e de emprego domésticas ao mesmo tempo que possibilitaram que o comércio global se recuperasse e prosperasse, sublinha Rodrik.
“O gênio do sistema era que ele alcançava um equilíbrio que atendia a múltiplos objetivos admiravelmente bem. Algumas das mais notórias restrições aos fluxos comerciais foram removidas, deixando os governos livres para executar suas próprias políticas econômicas independentes e para erigir suas versões preferidas do Estado de Bem-Estar Social.
Os países em desenvolvimento foram autorizados a perseguir suas estratégias de crescimento específicas com restrição externa limitada. Os fluxos internacionais de capital permaneceram fortemente circunscritos. O compromisso de Bretton Woods foi um sucesso estrondoso: os países industrializados se recuperaram e se tornaram prósperos, enquanto a maioria dos países em desenvolvimento experimentou níveis sem precedentes de crescimento econômico. A economia mundial floresceu como nunca antes.”
Fonte: Carta Capital
