Professora Myla Meneses (*) –
O Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado em 20 de Novembro, transcende a data de lembrança e protesto para se firmar como um vibrante palco de celebração da cultura afro-brasileira. Esta data, marcada pela memória de Zumbi dos Palmares, o último líder do Quilombo dos Palmares, nos convida a reconhecer e honrar a inestimável contribuição do povo negro na formação de um Brasil mais rico, diverso e, inegavelmente, mais cheio de cor e amor.
A Paleta da Ancestralidade
A cultura afro-brasileira não é um aditivo, mas sim a própria espinha dorsal de nossa identidade nacional. Pense no Samba, que pulsa em cada esquina do país, do Rio de Janeiro à Bahia, carregando a melancolia e a resistência transformadas em ritmo. Pense na Capoeira, que disfarçou a luta em dança, tornando-se um patrimônio imaterial da humanidade, síntese perfeita de força e arte. Pense no Axé, na energia, na gastronomia que nos presenteou com o Acarajé, o Vatapá e o tempero único que se espalhou por nossas mesas.
A religiosidade de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda, tece uma tapeçaria de crenças, rituais e filosofias que oferecem um profundo senso de comunidade, respeito à natureza e conexão com a ancestralidade. Os Orixás, com suas histórias e arquétipos, inspiram nossa arte, nossa literatura e a maneira como nos relacionamos com o divino e o mundo.
Por Um Brasil com Mais Cor e Amor
Falar em cultura é falar em pertencimento, em dignidade. No 20 de Novembro, celebramos a beleza da diáspora africana que floresceu em solo brasileiro. Contudo, essa celebração é indissociável da necessidade de combater o racismo estrutural que insiste em apagar ou marginalizar essa mesma cultura.
Um Brasil com mais “cor” não significa apenas a miscigenação física, mas o reconhecimento pleno e igualitário de todas as culturas que nos formam. Um Brasil com mais “amor” é aquele que abraça a diversidade, que garante oportunidades justas para jovens negros e negras, que investe na educação antirracista e que promove a reparação histórica.
O legado de Zumbi não foi apenas de combate físico, mas de construção de uma comunidade onde a negritude era livre e produtiva. Hoje, esse legado se traduz no imperativo de construir uma nação onde o mérito e o potencial não sejam barrados pela cor da pele.
Que este 20 de Novembro seja, portanto, um dia de profunda reflexão, mas também de alegria e afirmação. Que a nossa música toque mais alto, que a nossa história seja contada com orgulho e que o calor da cultura afro-brasileira continue a nos inspirar a construir o país que queremos: um Brasil plural, justo, radiante e, sobretudo, repleto de amor.
(*) Mestra em História, especialista em Direitos Humanos e Relações Étnico-Raciais e Quilombola. Militante do Movimento Negro, pesquisadora da área de Educação Escolar Quilombola, Feminismo Negro e Educação para Relações Étnico-Raciais.


