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Mulheres Kaiowá em destaque no evento promovido pelo Multimedia Anthropology Lab de Londres

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Durantes três dias as mulheres Kaiowá e Guarani de Mato Grosso do Sul entraram na rede mundial de computadores em transmissões ao vivo para fazer soar o som do Mbaraka e do Takuapu em forma de reza, luta, clamor e celebração, esse foi o VIII Kuñangue Aty Guasu Grande Assembleia das Mulheres Kaiowá e Guarani que reuniu criança, jovens, anciãs, matriarcas e convidados dos territórios Panambizinho, Guapo’y Amambai, Guyra Kamby’i, Rancho Jacaré, Limão Verde, Nhanderu Marangatu, Bororó, Laranjeira Nhanderu e Tekohá Jaguapiré, que lutam em defesa dos direitos originários do povos indígenas.

Com apoio de organizações locais e internacionais foram instalados pontos de internet, inclusive em território sem energia elétrica, como no caso da área de retomada Laranjeira Nhanderu, pois devido o isolamento social provocado pela pandemia a assembleia, que acontece todos os anos de forma presencial, foi adaptada para o mundo virtual, sendo esse evento um marco revolucionário no processo de comunicação e expansão das vozes e rezas das mulheres indígenas transmitida em três idiomas o Guarani, Português e legenda em inglês.  

Para as matriarcas Nhandesys da retomada de Guyra Kamby’i, Adelina Ramona, Jacira, Adelaide, Neusa e Aparecida que participaram efetivamente do Kunangue este foi um momento de descoberta e proximidade com o mundo digital, sendo encantador ver seus parentes e amigos que há muito tempo não via e conversar com eles assuntos importantes para os povos indígenas.  “Nós tínhamos uma vontade enorme de falar coisas que estavam guardadas, opiniões que estavam amadurecendo durantes todos os meses de isolamento e com esse encontro virtual conseguimos falar ao vivo com nossos parentes e isso fez com que ficássemos mais tranquilas, foi um desabafo e saímos mais leves depois” comentou a Nhandesy Adelina que soltava um sorriso enorme todas as vezes que ouvia seu nome, inclusive por pessoas que nem conhecia, e por seus amigos e parentes. A anciã disse ainda que não teve medo de estar na frente da tecnologia do Karai (homem branco) mas se o tempo não está bom, ou seja, chuvoso, a tecnologia do Karai pode prejudicar o corpo e alma delas, então fizeram muita reza e por isso não choveu durante todo evento online em Gyura Kambiy/Douradina. 

Foram discutidas e encaminhadas pautas sobre a demarcação e homologação das terras indígenas, uma problemática complexa no estado de MS. Saúde, as barreiras sanitárias e a ausência do estado, além da perseguição politica a agentes indígenas, efetivação e garantia dos programas sociais com proteção para as crianças, Nhandesys e mulheres indígenas que passam fome. A necessidade de manutenção e respeito as parteiras e seus rituais, pois para a manutenção do espirito e que tenha novos rezadores seguem-se rituais como, segundo dona Adelaide na cultura guarani, é necessário enterrar a placenta, e na kaiowá a mesma deve ser colocada no rio. “Neste ritual das Nhandesys as mulheres precisam alcançar uma idade para poder acompanhar e como as mais idosas estão deixando de fazer o ritual, pois nos partos realizados nos hospitais não há informação sobre a destinação das placentas, e assim estamos perdendo uma cultura milenar, sendo um desrespeito o que os brancos fazem com as gestantes da nossa cultura” comentou Val uma futura Nhandesy da comunidade Panambizinho.

Na apresentação do Mapa da Violência “Corpos silenciados, vozes presentes: a violência no olhar das mulheres Kaiowá e Guarani” encabeçado por Jaqueline Araduhá, foi uma tarde de muita dor ouvir os relatos e os dados compilados em cem páginas, com fotografias de extrema violência, na ocasião da apresentação uma das participantes foi ameaçada pelo marido, que a proibida de participar do evento. Nas fotos mulheres queimadas, estranguladas, com cabelos cortados por facão e sexualmente violentadas. “A Kuñangue Aty Guasu condena todos os tipos de violência contra a vida das mulheres indígenas, e todos os pacotes de leis que ferem os nossos corpos, nos violam, nos assassinam e retiram o nosso direito à vida” comentou Jaqueline Araduhá. A participante convidada da mesa online a Dra. Neyla Mendes, Defensora Pública se colocou a disposição para agilizar e solicitar um atendimento rápido aos casos de violência contra as mulheres indígenas. “Meu telefone está a disposição e no ato de violência quero ser contactada imediatamente para agiliza os encaminhamentos do boletim de ocorrência e as medidas protetivas necessárias”, comentou a defensora que ofereceu apoio e proteção para liderança feminina de linha de frente, que sofrem perseguição, injustiça, pelo poder judiciário sendo torturadas psicologicamente física por machistas, equipes de capitão das aldeias, policia e estado brasileiro.

“Estamos enfrentando um governo que vem retirando todos os nossos direitos legais, nos impedindo de existir, vendendo tudo o que é nosso, privatizando a terra que nos resta, acabando com o meio ambiente, aos olhos do capitalismo tudo virou mercadoria, se esquecem que todos os recursos naturais também acabam e a vida no planeta está ameaçada. As políticas anti-indígenas avançam no congresso nacional. Aplicar a tese do marco temporal é a morte do povo Guarani e kaiowá, é invalidar os nossos direitos pela demarcação de terras indígenas” esse foi o discurso geral das anciãs referente ao Marco Temporal, e complementam falando sobre o avanço do desmatamento, queimadas e altas doses de veneno, a medicina tradicional está bem enfraquecida, as árvores choram, os rios sangram, a terra arde em chamas e com elas morre lentamente a população indígena desse país. Isso é resultado do avanço do capitalismo que tem a terra como mercadoria, que busca o dinheiro e poder, diferente de nós povos indígenas que somos os protetores da terra sagrada, por isso nós mulheres indígenas reafirmamos a nossa luta e a nossa resistência na VIII Kuñangue Aty Guasu – Grande Assembleia das Mulheres Kaiowa e Guarani de Mato Grosso Do Sul”. 

Durante o evento foi construída uma Rede Jurídica entre juízes e defensores de Direitos Humanos,  foi criada uma Aliança de Luta com a participação de lideranças de mulheres indígenas de todo Brasil e uma rede internacional de Articulação de Comunicadoras Indígenas, incialmente com 36 participantes na expectativa de ampliação. Foi lançada as Casas de Medicina Tradicional e Telemedicina, além do site www.kunangue.com em três idiomas Guarani, Português e Inglês, onde serão disponibilizadas informações, imagens, documentos, agenda e uma loja virtual para arrecadar recursos para ações efetivas nos territórios, como a instalação de poços artesianos, para que seja garantida água potável, uma necessidade básica duramente violada nas aldeias o que fere profundamente os  Direitos Humanos.

A força do futuro é inserir as mulheres Guarani e Kaiowá no mundo digital e para seguir neste processo a Vaquinha arrecada recursos para as despesas na realização do Kuñangue, e demais ações revolucionárias, colabore! https://www.vakinha.com.br/vaquinha/apoio-a-kunangue-aty-guasu



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