O pai de santo de 40 anos acusado de torturar e ameaçar duas mulheres durante um ritual espiritual realizado em julho deste ano, em um terreiro no Jardim Nhanhá, em Campo Grande, foi indiciado pela Polícia Civil. Com o indiciamento, a investigação entra em uma nova fase: o caso foi encaminhado ao Ministério Público, que agora avaliará se apresenta denúncia, propõe acordo legal ou solicita novas diligências. O processo seguirá para análise no Juizado Especial Criminal da Capital.
A polícia também apurou que o acusado possui antecedente por violência doméstica, registrado em 2019, quando a vítima obteve medida protetiva contra ele.
As denúncias
Duas mulheres, de 21 e 44 anos, relataram terem sido vítimas de tortura e ameaças durante um ritual espiritual conduzido pelo pai de santo. Segundo o boletim de ocorrência, elas participavam de um trabalho tradicional da casa quando o líder religioso afirmou ter incorporado uma entidade chamada “João Mulambo”.
Sete mulheres, todas filhas de santo, participavam da cerimônia. Conforme as denúncias, elas foram submetidas a práticas consideradas abusivas sob ordens do pai de santo, que teria proibido que se sentassem por cerca de duas horas.
Ainda segundo o relato:
- O pai de santo teria rodado uma garrafa de cachaça e obrigado todas a beberem.
- Duas das mulheres foram forçadas a permanecer de joelhos por mais de uma hora, segurando velas acesas.
- Ele teria ameaçado dar “cabeçadas até abrir a cabeça” caso alguma delas incorporasse uma entidade sem autorização.
A vítima de 44 anos relatou que, ao pedir para sair após sentir forte dor de cabeça, foi proibida e informada de que precisaria ser “punida”. Ela contou que todas foram obrigadas a participar de um ritual no qual pólvora era colocada na palma da mão e acesa com um charuto, causando queimaduras. As mulheres não puderam lavar os ferimentos e, segundo o depoimento, o pai de santo tentou despejar uísque sobre as queimaduras — ação recusada por ela, mas supostamente aplicada em outras participantes.
Após o ritual, abalada, a denunciante conseguiu pegar a filha e deixar o local. Ela afirma que todas foram submetidas à tortura sem qualquer justificativa, e que o religioso tentou legitimar os castigos como parte dos “fundamentos” espirituais da casa.
Atendimentos após a denúncia
Mesmo após as acusações, o pai de santo teria retomado trabalhos espirituais em setembro, em Campo Grande. Nas redes sociais, ele divulgou um perfil oferecendo atendimentos com banhos, búzios e tarô, informando que só atende com hora marcada.
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