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MS em alerta: feminicídios aumentam e 21 dias de ativismo reforçam a resposta do Estado e dos municípios

Bruna Gayozo (*) –

Os 21 dias de ativismo pelo fim da violência doméstica ganham, em Mato Grosso do Sul, um peso especial em 2025. Enquanto o calendário marca de 20 de novembro a 10 de dezembro como período simbólico de mobilização, os números da violência contra as mulheres no Estado mostram que a pauta segue urgente e exige respostas estruturais – justamente o eixo de atuação da Secretaria de Estado da Cidadania, liderada por Viviane Luiza, e da Subsecretaria de Políticas Públicas para Mulheres, comandada por Manuela Nicodemos.

(Enquanto esta reportagem era escrita, mais um feminicídio foi registrado em Campo Grande, Mato Grosso do Sul — lembrando que a violência, além de estatística, é uma urgência diária.)

Embora os dados consolidados de 2025 ainda não tenham sido divulgados, os indicadores mais recentes já acendem o alerta para o cenário que o Estado carregará para o próximo ano. Só em 2024, o Ligue 180 registrou em Mato Grosso do Sul 9.413 atendimentos, um aumento de 18,7% em relação a 2023. As denúncias formais também cresceram: de 1.777 para 1.999, alta de 12,4%. Na outra ponta, boletins de ocorrência por violência doméstica revelam uma média alarmante: em 2024, apenas nos primeiros 11 dias de janeiro, foram 569 registros – 51 casos por dia. Em 2025, o quadro se mantém grave, com uma ocorrência registrada a cada 25 minutos no Estado.

Entre janeiro e outubro de 2025, o total de feminicídios já havia superado todo o ano anterior, alcançando 36 mortes em contexto de violência de gênero, e hoje, 08 de dezembro, alcançamos a macabra marca dos 39 feminicídios. O recado das estatísticas é claro: a violência continua, e está mais letal.

É nesse contexto que os 21 dias de ativismo, em Mato Grosso do Sul, deixam de ser apenas uma campanha de sensibilização para se tornar vitrine de uma estratégia de governança articulada. Sob a liderança de Viviane Luiza e Manuela Nicodemos, a Secretaria de Cidadania tem o desafio de integrar dados, qualificação e rede de atendimento para transformar denúncia em proteção efetiva.

Um dos pilares dessa resposta é o Programa Protege, política transversal lançada em 2025 com foco em prevenção, proteção e reconstrução da vida das vítimas. O programa estimula ações articuladas entre diferentes áreas do Governo do Estado e incentiva os municípios a assumirem compromissos concretos por meio do Plano de Metas Municipal de Prevenção e Enfrentamento à Violência contra Mulheres e Meninas. A municipalização dos serviços de atendimento especializado e a qualificação de profissionais compõem esse esforço de capilarizar a política pública.

Se o Protege cria diretrizes, é na ponta que a política se materializa – principalmente por meio das gestoras municipais de políticas públicas para mulheres. O 2º Fórum Estadual das Gestoras Municipais e o recém-criado Fórum Permanente, pioneiro no país, reforçam essa articulação, unificando fluxos, fortalecendo a rede e ampliando a capacidade dos municípios de prevenir e enfrentar a violência.

E esse movimento tem se traduzido em boas práticas ao longo dos 21 dias de ativismo em diferentes regiões. Em Batayporã, por exemplo, a campanha foi aberta com a capacitação ministrada pela consultora Bruna Gayozo, com o tema “Fluxos de Atendimento e Política Intersetorial no Atendimento à Violência Doméstica”, fortalecendo a formação da rede local. Em Chapadão do Sul e Dourados, as gestoras municipais têm ampliado o uso dos espaços públicos para ações de conscientização. Em Dourados, as praças centrais se tornarão centros de diálogo, aproximando a pauta do cotidiano da população e ampliando a circulação de informação sobre direitos e proteção. Já em Maracaju, a gestão municipal apostou na autonomia econômica como estratégia de enfrentamento. Em parceria com o SEBRAE, promoveu oficinas natalinas voltadas ao empreendedorismo feminino, reforçando a independência financeira como ferramenta essencial para romper o ciclo da violência. Em corumbá, uma política intersetorial para além dos muros da fronteira tem sido implementada pela gestão, com o intuito de promover um ambiente seguro para mulheres brasileiras e bolivianas. E de passo em passo, cada município tem travado uma luta que é de todos.

A agenda dos 21 dias de ativismo em MS também ganhou projeção nacional com o III Encontro Nacional das Casas da Mulher Brasileira, realizado em Campo Grande, reunindo gestoras estaduais, municipais, representantes do Sistema de Justiça e a ministra das Mulheres. O encontro reforçou a Casa como porta de entrada fundamental para acolhimento humanizado e atendimento integrado.

Além disso, o Estado avança com instrumentos de monitoramento, como o Observatório da Cidadania e o Monitor da Violência contra a Mulher, que oferecem dados detalhados sobre violência doméstica, estupros e feminicídios, subsidiando decisões estratégicas e ajustes de políticas.

Às vésperas de 2026, MS chega aos 21 dias de ativismo com um duplo retrato: de um lado, índices alarmantes de violência; de outro, uma rede de proteção mais articulada, fortalecida e presente nos territórios. O grande desafio é transformar esse esforço em impacto duradouro — para que os dados dos próximos anos contem a história de um Estado que conseguiu antecipar riscos, proteger mais rapidamente e salvar vidas.

(*) Socióloga, especialista em violência doméstica e consultora em políticas de enfrentamento a violência contra as mulheres.

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