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Mestre Enrique Butti: ‘Deveria haver mais profissionalização do jogo de xadrez’

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Por Tácito Loureiro, especial para a Folha de Dourados –

Nesta entrevista, apresenta-se ao povo brasileiro o paraguaio Mestre de Xadrez Enrique Butti. Abordam-se diversos assuntos, dentre os quais: importância e necessidade de profissionalização do jogo de xadrez. Hoje em dia, por causa da pandemia, muita gente tem procurado conhecer e praticar essa modalidade esportiva, principalmente por permanecer maior tempo em casa.

Tácito Loureiro – Qual é o seu nome completo? Por qual motivo os teus pais te colocaram esse nome?

Enrique Butti – Enrique Manoel Butti Franco. Não há nenhum motivo especial pelo qual me colocaram esse nome. Em meu país, se costuma usar dois sobrenomes: logo, Butti Franco.

Onde e quando você nasceu?

Eu nasci em 23 de fevereiro de 1971, em Assunção-PY. Mais precisamente no Hospital Americano.

Como aprendeu a jogar o xadrez?

Eu aprendi a jogar xadrez aos 11 anos, em 1982. Eu vivia na cidade Luque, vizinha de Assunção, e o meu avô argentino presenteou a mim e ao meu irmão um tabuleiro de xadrez, e nos ensinou a jogar. Assim, comecei a jogar.

Você compreende o idioma português, fala e escreve? Quando o aprendeu?

Como o espanhol e o português são idiomas parecidos, posso comunicar-se com alguém que fale o português, ainda que não fluidamente. Algo compreendo e posso manter uma conversa. Interessa-me o tema dos idiomas. Aprendi o português ao ler livros e revistas, bem como escutar gente que fala português.

Nomeie alguém que teve um grande impacto em sua vida enxadrística. Por que e como essa pessoa influenciou sua vida?

Sim. O Mestre Victorio Riego Prieto (1932-2009), tricampeão do Campeonato Paraguaio de Xadrez (1963, 1972, 1977). Enquanto viveu foi uma eminência do xadrez paraguaio. Ele foi quem mais me ensinou o xadrez. Influencio-me no aspecto enxadrístico e pessoal da minha vida. Porque o via como uma pessoa moralmente íntegra e impecável. Ele dizia que à maioria dos enxadristas falta aprender a última e mais difícil lição: a humildade. E eu continuo a tratar de aprender essa lição que dizia o meu professor Victorio Riego.

Quais traços de caráter você procura nas pessoas que gosta de passar o seu tempo junto?

Enrique Butti – As pessoas que mais me agradam passar o tempo são pessoas não necessariamente muito sociáveis. Mas inteligentes e bondosas, com as quais mantenho uma conversação amena sem conflito de nenhum tipo. Bondosas e inteligentes são as qualidades para passar o tempo com elas e inclusive fazer amizades.

Tácito Loureiro – Como e onde você encontra inspiração?

Eu encontro inspiração à minha vida pessoal e espiritual de duas formas principais: jogando o xadrez e escutando música de boa qualidade. Isso é o que mais gosto. Considero-me um aficionado em música.

Como você gasta seu tempo?

Como sou profissional do xadrez isso me toma quase todo o meu tempo. Eu emprego a maior parte do meu tempo estudando o xadrez ou jogando o xadrez pela internet. Ainda, visito amigos com os quais converso. Exemplo: vou até a casa de um amigo conversar e tomar um tereré, um costume paraguaio. A maioria dos meus amigos são enxadristas e conversamos não apenas sobre o xadrez, mas também a respeito de outros temas.

Você é mestre de xadrez. Onde e quando obteve esse título?

Eu obtive o título de Mestre Nacional de Xadrez no Paraguai, em 2002. O requisito para obter o título naquele tempo era conseguir ser Campeão Absoluto de Xadrez no país. Eu fiquei muito feliz por haver conseguido essa conquista.

Mestre Enrique Butti: ‘Deveria haver mais profissionalização do jogo de xadrez’
Enrique Butti na conquista do Torneio de Xadrez Absoluto do Paraguai-2002
Foto: GM Zenón Franco

Quais foram os melhores resultados que você alcançou como jogador de xadrez?

O meu melhor resultado foi sem dúvida haver sido Campeão Absoluto de Xadrez no Paraguai em 2002. Também em 2006 e 2006 fui Sul Campeão de xadrez, no meu país. Em 1990, fui campeão do Estado de Formosa, na Argentina, onde vivi muito tempo. No Estado argentino Santa Fé, em 1988, fui Campeão Sub-26. Enfrentei grandes jogadores com o título de Grande Mestre (GM) de xadrez: o GM Pablo Zarnicki (argentino), o GM Ariel Sorin (argentino), o Alexander Yermolinsky (russo naturalizado norte-americano). Alguns com o título de Mestre Internacional (MI) de xadrez: o MI Mauricio Dorin (argentino), o MI Alejo De Dovitiis (argentino), o MI Marcelo Villalba (paraguaio), o MI Ricardo Kropff (paraguaio).

Quais as maiores dificuldades que você precisou enfrentar e superar enquanto jogador de xadrez ao longo da carreira enxadrística?

A principal dificuldade é a econômica. Dificuldade que têm a maioria dos enxadristas desta parte do mundo (América Latina). Pela falta de dinheiro para poder viajar, não obtive títulos enxadrísticos mais importantes. É o caso, por exemplo, de excelentes jogadores de xadrez que carecem de meio econômico.

Por que você considera importante aprender a jogar o xadrez?

A principal importância é se desenvolver como pessoa. É possível comparar o xadrez como uma disciplina artística ou arte marcial. Ajuda a se desenvolver interiormente e a formar a personalidade de uma boa pessoa, quando se tem a intenção de conseguir isso.

Onde você vive atualmente?

Eu vivo na cidade Luque, 15 quilômetros da capital paraguaia.

Você trabalha como professor de xadrez? Qual é a metodologia que você usa nas aulas?

Enrique Butti – Eu sou Professor de xadrez. Eu ensino pela internet e presencialmente. A metodologia é a que incorporei do GM Oscar Panno (Argentina), o melhor docente de xadrez que conheci na minha vida. A metodologia é comentar detalhadamente partidas de xadrez jogadas por grandes jogadores: a estratégia, a tática, a abertura, o meio jogo, o final.

Mestre Enrique Butti: ‘Deveria haver mais profissionalização do jogo de xadrez’
Enrique Butti com Enzo Viñales (Campeão Nacional Paraguaio de Xadrez Sub-10) – Foto: José María Quevedo

Onde quem quiser aprender a jogar xadrez ou até mesmo melhorar o nível de jogo pode encontrá-lo? Você tem redes sociais?

Na internet. Eu tenho redes sociais. Qualquer pessoa interessada em fazer contato comigo pode utilizar o meu número de WhatsApp: + 595 982 869651. No Facebook, é só procurar o meu nome: Enrique Butti. E-mail: [email protected]

Se você puder dar a uma criança e a um adolescente que se interessam pelo xadrez só um conselho, qual será?

Primeiro, amem profundamente o xadrez. Segundo, usem o xadrez para se desenvolverem como melhores pessoas. Não apenas para superarem o adversário e considerarem-se melhores. Mas para serem melhores pessoas e amarem profundamente o xadrez.

Quais são os livros sobre o xadrez que você mais gosta?

É difícil encontrar um livro que seja o que mais gosto porque li muitos. Dois mais marcaram a minha carreira, e gostei: na minha adolescência, “Jogue como um grande mestre” (Alexander Kotov); e na fase adulta, “Segredos da moderna estratégia de xadrez” (John Watson).

Tácito Loureiro – Você pode compartilhar aqui uma partida de xadrez que jogou e considera importante divulgar?

Enrique Butti – A partida que joguei de brancas contra o MI Ricardo Kropff, em 2006, em um torneio de xadrez nacional no qual fui vice-campeão. A partida pode ser acessada nos seguintes endereços virtuais:

https://old.chesstempo.com/gamedb/player/31251

Eis a anotação da partida:

Abertura: Siciliana, Defesa Najdorf (B90-99): 1. e4 c5 2. Cf3 d6 3. d4 cxd4 4. Cxd4 Cf6 5. Cc3 a6 6. Ac4 e6 7. Ab3 Ae7 8. Ae3 O-O 9. g4 b5 10. g5 Cfd7 11. Axe6 Axg5 12. Axf7+ Txf7 13. Ce6 Axe3 14. Cxd8 Axf2+ 15. Re2 Ce5 16. Cxf7 Ag4+ 17. Rxf2

Onde quem for a Assunção poderá encontrar os jogadores de xadrez?

Há diferentes lugares, em Assunção, para jogar o xadrez. Atualmente, à tarde, o local onde se joga o xadrez mais conhecimento fica no Centro da cidade e se chama: A Escada situada entre as ruas Antequera e Castro (em espanhol: Escalinata Antequera o bien, Escalinata José de Antequera y Castro).

Mestre Enrique Butti: ‘Deveria haver mais profissionalização do jogo de xadrez’
Jogo na Praça da Escada, em Assunção. À esquerda, Marcos Miranda (Campeão Nacional Paraguaio de Xadrez Sub-12). À direita, o Mestre Enrique Butti – Foto: José María Quevedo

Tem mais alguma informação que pensa ser relevante divulgar nessa entrevista?

Deveria haver mais profissionalização do jogo de xadrez, principalmente na América Latina onde jovens talentosos não podem se dedicarem ao xadrez por motivos econômicos. Não há dinheiro no jogo. O futuro do xadrez, já dizia o GM Robert James “Bobby” Fischer (1943–2008) passa pela profissionalização do jogo.

Mestre Enrique Butti: ‘Deveria haver mais profissionalização do jogo de xadrez’
Na Praça da Escada: no centro, Mestre Nacional de Xadrez Enrique Butti joga o xadrez às cegas (sem ver o tabuleiro). À direita, em pé (camiseta roxa), o Mestre Internacional de Xadrez Marcelo Villalba – Foto: Luis Agüero Wagner

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