Desde 1968 - Ano 56

31.9 C
Dourados

Desde 1968 - Ano 56

InícioPolíticaMarqueteira diz que faz parte do folclore falar em manipulação de pesquisas...

Marqueteira diz que faz parte do folclore falar em manipulação de pesquisas eleitorais

- Advertisement -

Pesquisadora e marqueteira, Maria Antônia Gonçalves atribui aos outsiders os equívocos de alguns “institutos”

Por Valfrido Silva, no Contraponto MS –

Com escritório em Dourados há treze anos, mas antes já atendendo a uma grande clientela em toda a região, políticos principalmente, a pesquisadora e marqueteira Maria Antônia Ribeiro Gonçalves sai em defesa dos Institutos de Pesquisas, nunca antes tão criticados em vésperas de eleições, até pelo desserviço do presidente Jair Bolsonaro e seu time. Proprietária do Instituto Televox, temporariamente fora do mercado, por conta da incompatibilidade com o trabalho da 2Mil Publicidade, por ela também administrada, Maria Antônia diz que a pesquisa continua sendo a base necessária para toda estratégia de marketing

Educada, evita falar em “picaretagem”, mas atribui alguns equívocos à presença de muitos outsiders nos últimos processos eleitorais. Outro fator para algumas “viradas” de tendências, segundo ela, é o medo do eleitor de perder o voto, quando percebe que seu candidato não tem mais chance, normalmente descarregando em quem está liderando a disputa.

Maria Antônia, cujo escritório é uma espécie de confessionário para políticos, publicitários e jornalistas, vê como folclore a tão propalada questão da manipulação das pesquisas. E falando em folclore, compara as famigeradas enquetes a bandeirinhas de festa junina. “Não existe eleição sem enquete, sem aposta”. Veja a entrevista exclusiva ao ContrapontoMs.

Toda véspera de eleições é a mesma coisa: os Institutos de Pesquisa de pesquisas em xeque? A que atribui todo esse descrédito?

Com a grande mudança na comunicação que vivemos nos últimos 20 anos, as pesquisas precisam cada vez mais serem realizadas com menor espaço de tempo. O descrédito é mais observado pelas pessoas e não pelo cliente que contrata. Os erros verificados em períodos eleitorais são sempre marcados por pequenas margens, que são alteradas por fatos novos ou tendências que não foram analisadas, investigadas ao longo das pesquisas. Por exemplo, começa a dar diferença de poucos pontos percentuais de um candidato em crescimento, mas tem outro que está bem a frente, o correto é parar e investigar aquele crescimento. Se você menospreza porque tem um candidato bem à frente pode errar porque aquela subida pode virar um grande crescimento.  A presença de outsiders nos últimos processos eleitorais, também leva a esses erros de virada nos dias finais antes das eleições. Agora a velocidade da comunicação é proporcional a imagem e a formação de opinião então, não se pode fazer uma pesquisa sem considerar o tempo.

Isso tem de ver com a troca de nome do IBOPE, por exemplo?

Não, o IBOPE é na verdade o pai das pesquisas, ele começou com a audiência e virou inclusive um termo ou gíria na nossa língua e várias mudanças empresariais acabaram fazendo com que esse Instituto deixasse a parte de pesquisas de opinião pública e mercado.

Até que ponto, manipuladas ou não, as pesquisas influenciam no resultado de uma eleição?

Veja as pesquisas alteram o resultado quando demonstram que um candidato que eu gosto muito não parece ter chance, aí esse eleitor que não quer “perder o voto” caminha para outro candidato e a justificativa é porque as pesquisas apontavam que ele não teria chance. Se acontece um fato inusitado ou uma posição do candidato e isso é perguntado em pesquisa e a maioria reprova, acaba influenciando para que esse candidato perca votos. 

Sabemos que existe uma diferença de metodologia, por exemplo, entre a do antigo IBOPE, e a do Datafolha, isso não deixa o eleitor ainda mais confuso?

Na verdade, em pesquisa de opinião no Brasil todas são feitas por cotas, os dados são os do IBGE e TSE e se leva em consideração também o número de eleitores de cada local. O nível de confiança é calculado pela amostra total, geralmente em torno de 95%, o que significa que vamos ter uma margem de erro oscilando entre 2.0 e 2.5 para mais ou para menos. Quanto maior a amostra for menor será a margem de erro e o influencia aqui, é a distribuição da coleta. A Exemplo, quando eu faço uma pesquisa nacional com uma amostra de 2.500 entrevistas e sigo o sistema de cotas e a proporção de eleitores por região, posso usar diferentes métodos de coleta, pode ser entrevista domiciliar, pode ser por telefone. Dependendo da urgência da resposta que eu preciso posso também fazer pontos de fluxo em várias cidades diferentes. Mas o que quero deixar claro é que é um pouco de folclore vejo infinitas discussões sobre isso exatamente com períodos parecidos não iguais e com coleta de dados diferente e o erro são percentuais inexpressivos, mas que podem dar a vitória a outro candidato.

Agora que está, temporariamente, fora do mercado, a ética te permite afirmar que ainda dá para acreditar nas pesquisas eleitorais?

A melhor maneira de tomar decisões e planejar ações é ouvir a opinião do seu público. Medir a satisfação dos clientes ou da população, suas vontades e padrões de consumo e/ou hábitos é algo essencial. Com certeza tanto a pesquisa de opinião pública que mede a tendência do posicionamento das pessoas, como a de mercado que mede consumo e satisfação, são a base necessária para toda estratégia de marketing.

Arriscaria a dizer que o presidente Bolsonaro contribui para o descrédito das pesquisas?

Quando uma pessoa que é líder põe descrédito em algo, lógico que isso influência na formação do pensamento e conceito das pessoas.  E outra coisa, temos Institutos que só aparecem em época de eleições para confundir a cabeça do eleitor.  As fake news em campanhas que circulam informações por rede sociais e por vezes tem crédito, muitas vezes são quadros com dados falsos, e aparecem como pesquisas reais.

Como é essa relação cliente-candidato com os Institutos. Até que ponto, ou em que ponto do processo eleitoral, o cliente manipula a amostragem, no caso, para a divulgação.

Então no começo da entrevista você falou em Ibope e Data Folha esses dois Institutos fazem pesquisas para grandes veículos de comunicação, porém eu particularmente acho que o candidato precisa ter pesquisas para organizar a sua estratégia.  A publicação de dados que não são verdadeiros é um risco grande e isso realmente vira descredito para o Instituto de pesquisas, as vezes são dados mal coletados e que são registrados no TRE, porém o tribunal não tem como periciar a pesquisa, não existe uma comissão para isso. Se o candidato publica e depois na urna o resultado sai diferente duas coisas podem ter acontecido manipulação dos dados ou erro.  Mas penso que isso é uma questão ética do contratante e do Instituto.

Pode-se dizer que esse índice de manipulação vai sendo aferido e diminuindo conforme vai se aproximando a data dos pleitos, para preservar a credibilidade do contratante?

A pesquisa é a fotografia do momento, usar bola de cristal não costuma dar certo. Se temos um cenário de disputa acirrada o eleitor só muda a posição se houver acontecido um fato grave de véspera os números da pesquisa correta serão os números da urna. O certo é que se você tem um candidato “A” 15 dias antes da eleição ganhando força e um candidato “B” que mesmo que por pequena diferença está perdendo força, essa tendência vai até a urna. O que não dá para confiar e nem fazer comparações são de campos de pesquisa realizados em dias diferentes, com amostragem e entrevistas feitas de forma distinta. Então falar é fácil, ah tal instituto estava dando uma coisa e foi outra, só é possível fazer comparação se toda a metodologia for igual.

Como em todas as áreas de comércio, existem Institutos e “institutos”, inclusive os de fundos de quintal. Seria o caso de dizer que existem políticos que são como marido traído?

Olha se eu contratar um Instituto para fazer pesquisa para eu montar a minha estratégia de campanha eleitoral eu não posso ter riscos, eu preciso de confiança nos dados. Se o Instituto não tiver uma experiência é melhor não contratar, porque vou perder tempo e errar mais.

Seu Instituto de Pesquisas é especializado em pesquisas qualitativas, até que ponto este método ajuda na construção de uma candidatura?

A pesquisa qualitativa é diferente do método de entrevistas a campo, pressupõe um questionário prévio, para eu poder entender e separar os grupos. Quando eu tenho por exemplo um grupo que é de eleitores do candidato A, eu vou investigar se existe possiblidade de mudança de voto, essa informação vai me ajudar a construir um discurso mais assertivo e isso é claro ajuda na construção da candidatura. Como disse no começo da entrevista a comunicação passa por uma revolução total de canais de informação para o eleitor, não consigo com a pesquisa moldar totalmente um candidato agora construir uma candidatura é diferente porque são histórias pessoal e política, proposta, a capacidade de execução de um projeto, a eleição é um debate diário até chegar o dia da eleição.

Muitos veículos de comunicação trabalham com enquetes em seus conteúdos e muitos candidatos costumam se guiar por esse método. Até que ponto isso pode influenciar numa eleição?

A enquete não é uma pesquisa, mas ela é a “bandeirinha da festa junina”, não tem eleição sem enquete e nem sem “aposta”, geralmente o foco são eleições proporcionais e é sempre feita num reduto como uma cidade e seus distritos, apenas, não serve para o candidato se guiar.

Segure a emoção e nos fale, para fechar, sobre o legado de Paulo Catanante, o pioneiro, um dos ícones das pesquisas no estado.

Paulo Catanante, uma tristeza essa perda e ainda mais para essa doença que nos abalou tanto. Bem foi o professor de todos que fazem pesquisa no nosso estado, conhecido e respeitado pelo Carlos Augusto Montenegro do IBOPE, referência nacional em pesquisa de opinião e mercado, para quem realizou muitos trabalhos no estado. O Paulo era uma pessoa inovadora, muito trabalhador, amava novas tecnologias nessa área, e que gostava muito de política. O seu último trabalho foi aqui na nossa cidade nas eleições para prefeito, eleição que ele se dedicou   e sua estratégia e orientação de acordo com as pesquisas deu a vitória ao Alan Guedes; morreu com esse troféu na mão. Estivemos muitas vezes juntos durante a campanha eleitoral, guardo ainda vários áudios dele com previsões que se concretizaram, uma pena ter nos deixado tão cedo.

- Advertisement -

MAIS LIDAS

- Advertisement -
- Advertisement -