Com pouco mais de vinte anos, Marcos dava duro no balcão para garantir o salário do final do mês. Era uma figura conhecida na região central, onde trabalhava e também morava. Não muito longe dali, na região da Praça Carlos Gomes, dividia um apartamento com outros jovens. Todos trabalhadores.
Marcos fazia também uns bicos de barman em bares da região de quarta a domingo. Tudo somava para o pagamento do aluguel no final do mês. Marcos era um cara correria, diziam alguns amigos. Só que essa correria toda mudou na mesma velocidade que ele corria do balcão da lanchonete para o bar em que costumava fazer taxas.
O movimento na portaria do antigo edifício onde Marcos morava já levantava suspeitas sobre o apartamento. Naquela época, o livro de visitas era documento. E centenas de pessoas eram registradas semanalmente no apartamento de Marcos. Um entra e sai sem precedentes. O síndico, obviamente, entendeu do que se tratava.
Marcos, questionado pelos amigos, abriu o jogo. No guarda-roupas, tinha muito mais que calças jeans e camisetas. Ciente do risco que expunha os colegas de moradia, decidiu se mudar. Daquele dia em diante, passou a procurar outra morada. Semanas depois, já estava em novo endereço, e os amigos e colegas de trabalho que o conheciam — e que foram fontes da coluna para este texto — só tiveram notícias dele recentemente, pelo noticiário. Marcos, o Marquinhos, havia se tornado Marcos Silas.
De aliado do PCC a chefe do Cartel do Sul
Marcos Silas Neves de Souza, 41 anos, conhecido como Marcos Silas, deixou a vida de trabalhador construída na juventude e escolheu se tornar traficante de drogas. Sua ascensão foi rápida. É inegável que seu talento para negócios e pessoas o levou longe, tanto quanto é irrefutável que ele escolheu usar esses talentos da pior maneira possível.
Ambicioso, Silas cresceu com rapidez dentro do PCC. Foi dele a visão de transformar o Paraná em um centro de operações do tráfico internacional de drogas e da lavagem de dinheiro, via Porto de Paranaguá, tendo o porto como ponto base.
Branqueador de dinheiro
Para dar vida a seu plano, Marcos Silas articulou junto ao núcleo empresarial do PCC o apoio necessário para a abertura de empresas de fachada, principalmente em Paranaguá. Sua preferência eram empreendimentos ligados ao agronegócio, principalmente insumos agrícolas, onde movimentou contratos milionários e, segundo as autoridades, montou um esquema de lavagem de dinheiro eficiente e discreto.
Em paralelo às operações empresariais, “abriu” as rotas de embarque de cocaína para toda a Europa via porto de Paranaguá. Sua atuação era respeitada dentro da facção. Sua reputação chegava longe, e seus crimes eram conhecidos no Brasil inteiro. A Polícia Civil de São Paulo, responsável pela prisão de Silas, o comparou com André do Rap, apontado como uma figura histórica do PCC e poderoso narcotraficante ligado a rotas internacionais.
O poderoso chefão
Marcos Silas deixou o PCC na metade da segunda década de 2000 para fundar sua própria facção, conhecida como Cartel do Sul. Ele queria mais, queria ser dono do próprio cartel de drogas. E assim o fez. Segundo investigações, com o Cartel do Sul, Marcos Silas chegou a faturar R$ 1 bilhão, além de acumular um patrimônio de mais de R$ 2 bilhões em imóveis e bens bloqueados.
Silas foi flagrado controlando um pavilhão inteiro da Casa de Custódia de São José dos Pinhais, cidade onde nasceu o Cartel do Sul. O controle do bloco da prisão custava caro. Investigações apontaram pagamentos na ordem de R$ 1 milhão a servidores do Departamento Penitenciário do Estado do Paraná.
Após a descoberta do esquema, Silas foi transferido para o Presídio Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. De lá, investigações apontam que ele ainda exerce muita influência dentro das operações nas ruas, principalmente em Paranaguá, onde o Cartel do Sul trava uma batalha sangrenta com o PCC pelo controle das rotas de cocaína para a Europa.
Acima de qualquer suspeita
Discreto, estrategista e distante da imagem do criminoso de rua, Silas trocou a vida simples, mas honesta, pela vida do crime. Sua família se distanciou, a irmã, uma serventuária do poder judiciário, chegou a mudar o sobrenome para não ser prejudicada pelo peso de seus crimes. Os amigos lembram do Marquinhos sem acreditar que aquele jovem “ponta firme” se tornou um poderoso narcotraficante internacional.
Se Marcos se importa com tudo isso? Ninguém além dele pode responder. Mas ele não dá entrevistas. Ele evita os holofotes, não quer estar em evidência.
(Informações RIC Notícias)