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Marciano Melgarejo, o Branco, uma das lendas do futebol douradense e regional

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Ilson Boca Venâncio –

Meu personagem de hoje, retratado através de história oral, é uma ótima pessoa, amigo fiel de seus amigos. No futebol foi um craque, no trabalho, um servidor competente e gentil! Esse é Marciano Melgarejo, ou simplesmente “Branco”.

Quando me convidaram para relatar, através do meu conhecimento, a história do futebol douradense, e da nossa região, comecei a pensar sobre diferentes fatos acontecidos no tempo da minha adolescência e juventude. Nunca fui bom para jogar bola, mas sempre acompanhei grandes clássicos douradenses e regionais e aí foram surgindo no meu pensamento pessoas que com certeza me ajudariam nesse resgate.

Escolhi para iniciar esse trabalho, o Marciano Melgarejo, a meu ver, está entre os melhores jogadores da nossa história, uma lenda, e de gravador em punho fui procurar o “Branco” para a minha entrevista.

Marciano Melgarejo, o Branco, uma das lendas do futebol douradense e regional
Marciano Melgarejo, o Branco, foi craque de bola

Ele me contou que seu pai, Senhor Ramão Melgarejo, viera do vizinho país Paraguai para a cidade de Guairá-PR na empresa Mate Laranjeira, e foi lá que ele conheceu sua mãe, Eugenia Gonzales, uma viúva com quem se casou.

O primeiro marido de sua mãe era ervateiro, e morreu de forma violenta, coisa muito comum naquele período, deixando-a com quatro filhos. Do segundo casamento com o pai de Branco, ela teve mais seis filhos.

A vinda de seu pai para morar no Brasil foi devido as discordância com a ditadura paraguaia, da época, assim como tantos outros que tiveram que deixar seu país de  origem.

Seu pai, que era caldeireiro por profissão, no Paraguai construía chata,  barcos, navios, era uma espécie de construtor naval prático, vindo a se instalar em um núcleo da companhia Mate Laranjeira em Guairá.

Foi lá que, em 27 de novembro de 1947, nasceu Marciano e foi ali onde ele viveu a fase de menino e, assim como todo menino, jogava muita bola na rua.

Quando tinha 07 anos seu pai foi transferido para Porto Epitácio-SP, porque lá a companhia tinha uma base com um estaleiro onde seu pai foi trabalhar. No local havia uma vila de casas para os funcionários, onde eles foram morar.

Foi na década de 60, mais precisamente em 1966, que sua irmã veio morar em Ivinhema, devido a transferência de seu cunhado Aldo Vera, que viera trabalhar na implantação daquela cidade pela colonizadora Someco.  Marciano veio junto para trabalhar no escritório da firma, e jogava no time da companhia colonizadora.

Ele me contou que a casa de sua irmã ficava localizada a cinquenta metros próximos ao alojamento dos operários. O seu cunhado Aldo Vera, fronteiriço de Campanário, criado com a família Acosta, de Ponta Porã, de tradicional família de músicos tocava muito bem o violão. Foi quando conheceu, vindo de Vila Rica-PR, aquele que viria ser o grande Zé Rico (da dupla Milionário e Zé Rico). O artista veio trabalhar na Someco e jogava bola com eles e, nos finais de tardes, ia a casa da sua irmã cantar e tocar com o seu cunhado Aldo.

Marciano Melgarejo, o Branco, uma das lendas do futebol douradense e regional
Branco e Zé Rico

Tinha ali um ambiente festivo e alegre, mas ele sentia falta de movimento das cidades paulistas onde tinha muita diversão, e assim manifestou a vontade de voltar para Porto Epitácio.

Porto Epitácio fica numa região de muitas cidades, em todas tinham bons times, e ele como fruto da casa podia jogar em muitos deles. Em Ivinhema, haviam duas empresas a Someco e Pirajuí,  e tinha o Casarotti, que era  gerente da Someco, jogava em Dourados, no Ubiratan. Ao saber do seu desejo de retornar para o estado de São Paulo, lhe pediu que esperasse um pouco mais pois havia conversado com a direção do Ubiratan, e que logo os diretores viriam buscá-lo, para jogar em Dourados.

Dias depois, recebera a visita do senhor Walter Brandão, presidente e treinador de futebol do Leão da Fronteira, acompanhado do jornalista João Natalício, que na época trabalhava no Jornal O Progresso e também membro da diretoria do Ubiratan.

Branco conta que eles chegaram em um Jeep amarelo e relembra com saudade de alguns amigos dessa época, como Pitu, Mercês, Paulo Kamimoto, Miro Faker, Waldessi Carbonari, Leba e Mauro Alonso.

Marciano Melgarejo, o Branco, uma das lendas do futebol douradense e regional
Waldessi e Branco

Quando veio para Dourados, ficou morando no Hotel Lisboa, junto com outros jogadores que vieram de fora. Pitu e Mercês eram seus companheiros de time que moravam no Hotel.

Começou a jogar no Ubiratan e trabalhar na tesouraria do time, que era quase profissional – “tinha até dois jogos de camisa”.

Walter Brandão era bem organizado. Naquela época o clube tinha muitos associados e a sede estava sendo construída, e isso requeria muito trabalho e recursos, e aí se promovia festas e bingo, para gerar  tais proventos.

Marciano trabalhava na tesouraria e, por esse motivo, acompanhava a parte de finanças do clube e ia aos vários bancos existentes na cidade, movimentando os recursos para a construção da sede.

O Ubiratan contava com uma diretoria bastante ativa, liderada por Walter Brandão Silva. Além dele, Branco cita outros membros bastante ativos como Janjer Gebara Sater, Décio Rosa Bastos, José Paulo Teixeira entre outros.

Ele relembra que o time chegou a ser vice-campeão do estado de Mato Grosso, e por ser a equipe bem organizada, a comunidade participava de todo e qualquer evento organizado pelo clube.

Conta que em período que o Estádio da LEDA (Liga Esportiva Douradense de Amadores) passou por reforma, aconteceu uma disputa no Campo do Floresta – uma quadra nas imediações da Escola Imaculada Conceição e de propriedade do ex-deputado federal Weimar Torres. O campo recebera este nome pela existência de uma mata nativa em um de seus lados, com árvores altas e sombrias que serviam de vestiário para os jogadores.

O Ubiratan já estava mais estruturado e tinha um local na cidade para a troca de roupas, a casa do Kanashiro, que era da diretoria, chegando lá estava tudo arrumado: camisetas, meias, chuteiras, calção tudo muito bem organizado.

Era o ano de 1966, e neste ano o Ubiratan foi o campeão vencendo na final Clube 21 de Abril, de Fátima do Sul.

Mas, sua primeira passagem pelo Ubiratan durou pouco, pois quando o treinador do Esporte Clube Loanda (Paraná) veio a Dourados buscar os jogadores Miruca e Queijo, ao vê-lo jogar decidiu levá-lo também. No ano seguinte o time foi campeão disputando com Nova Londrina em um torneio paranaense.

O ex-craque relembra que tinha uma namorada que morava em Diamante do Norte e atraído pela forca do coração, foi jogar no time daquela cidade para ficar perto da amada. Ele me diz que nunca se iludiu pelo dinheiro, que gostava mesmo era de jogar futebol e ter muitos amigos, de boa música, e sempre ouviu a voz do coração.

De lá voltou para Porto Epitácio, para jogar na segunda divisão paulista, onde se sentia em casa. Naquela região as cidades são próximas umas das outras, e todas tinham bons times, que jogavam da 2ª Divisão do futebol paulistas, como Diamantina, Sertãozinho, Ibitinga, Dracena, entre outras.

No time Epitácio ele jogou com Geraldão, que foi o artilheiro da segunda divisão e que depois jogou e fez sucesso no Corinthians. Relembra de outros jogadores de muita qualidade da época, como Waltinho, da Francana, Carata, goleiro da Prudentina.

Marciano me disse, que apesar de não ser profissional, podia contar com brecha do regulamento da segunda divisão que permitia a atuação de quatro amadores em cada time profissional.

Em 1970, quando jogava de volta no Grêmio de Porto Epitácio, Cutia, que jogava no 21 de Abril, foi quem o trouxe para jogar no time de Fátima do Sul.

Naquele ano, jogando pelo Esporte Clube 21 de Abril, foram vice-campeões disputando com o Operário que fora o campeão da Liga.

Em 1971, retorna a Dourados para jogar no Ubiratan e foram novamente campeão numa disputa como Operário.

No ano seguinte foi procurado por “Cutia”, que também era diretor de Futebol do 21 de Abril, retornou ao time de Fátima do Sul, porque gostava muito da equipe: “Era uma grande equipe”, relembra com saudade e vai citando alguns companheiros: Nica, Pacau, Cutia, Vando, Arilho, Vermelho, de Indapólis, o lateral Wilson Gonçalves. 

Na sua estreia contra o rival Vasconcelos Futebol Clube, do Barreirão, pelo campeonato Douradense, ganharam de 7×0, com cinco gols dele.

Terminaram o campeonato em segundo lugar, disputando com o Operário que foi o Campeão em 72. No ano seguinte, voltou para o Ubiratan. Para ele o futebol era uma paixão, não uma profissão e, por isso, onde ia jogar logo arranjava emprego.

Quando morou em Fátima do Sul, trabalhou na prefeitura no tempo do prefeito Manfredo Correia. Quando em Dourados, trabalhou na prefeitura, no departamento financeiro, e depois foi cedido para o Cartório Eleitoral.

Ainda relembra os companheiros de trabalho na Prefeitura de Dourados Ilma Venâncio e Manuel Capilé. Depois foi cedido para o cartório e com saudade fala de Dona Délcia, sua chefe e de seu marido, Merliton Braff.

Por falar em saudade, o Esporte Clube Saudade – formado por veteranos com passagens por vários clubes – foi seu último time, onde jogou até ter uma entorse séria no joelho o que o tirou do campo em definitivo.

Apesar de não poder jogar mais, Marciano continua convivendo com o futebol, só que agora fora dos gramados. Só entra em campo para tirar fotografias nas festas de homenagens que participa junto com os amigos veteranos.

Marciano Melgarejo, o Branco, uma das lendas do futebol douradense e regional
Branco entre craques da velha guarda

Ele me disse que a maior riqueza que existe é a amizade, quando é amigo de verdade, a amizade nunca se acaba.

Penso que talvez seja por isso, que sempre que Zé Rico vinha a Dourados visitava o Branco, e o levava com ele para assistir o seu show, pois quando moravam lá em Ivinhema esses laços foram feitos através de música e amizade.

Eu que também sou veterano do mundo do futebol douradense como apreciador, fiquei feliz em participar de mais essa partida de boas lembranças.

Marciano Melgarejo, o Branco, uma das lendas do futebol douradense e regional
Zé Rico e Branco
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