João Roberto Giacomini- advogado, cronista e observador das relações humanas.
Em meio ao cerrado, aos rios e às vastidões do Mato Grosso do Sul, nasceu uma voz singular, que cantou a beleza invisível e o encanto do simples. Manoel de Barros, poeta maior da nossa terra, não escreveu versos comuns. Ele criou um universo onde o mundo se faz novo, feito de palavras que brincam, se escondem, e sobretudo, amam.
Se suas palavras fossem uma paisagem, seriam os campos silvestres, as águas tranquilas e as tardes de céu aberto — tudo aquilo que pulsa vida na simplicidade do cotidiano. Manoel não buscava o grandioso, mas o quase imperceptível: o inseto que caminha, a pedra que respira, o silêncio que fala. Por isso, seus poemas são um convite para olhar o mundo com os olhos do encantamento e do amor.
O poeta não escreveu apenas sobre a natureza, mas sobre a ternura com que a contempla. Seus versos falam de um amor profundo, não de paixões efêmeras, mas de uma entrega silenciosa à existência que pulsa no microcosmo de cada coisa. Ele nos ensina que amar é respeitar o pequeno, o esquecido, o frágil — é encontrar no simples motivo para se maravilhar.
Obras como “Livro sobre Nada”, “O Guardador de Águas” e “Memórias Inventadas” revelam essa alma que transforma a língua portuguesa em música para os olhos e para o coração. A poesia de Manoel de Barros é feita de jogos, de mistérios, de palavras que parecem inventadas para contar a verdade que não cabe no dicionário.
Manoel nos lembra que a grandeza da cultura sul-mato-grossense está em seu chão, em seus rios, em sua gente — e que o olhar poético é capaz de tornar o ordinário em extraordinário. Ele é o poeta que ensina a valorizar o que muitos não veem, o amor pelo mundo que nos cerca e pelo qual devemos cuidar.
Ler Manoel de Barros é aprender a amar a vida com a ternura de quem sabe que o essencial muitas vezes é invisível aos olhos — mas não ao coração.

