Lucas Palácio Galhardo Atleta de karatê Kyokushin e kickboxing - Foto: Arquivo pessoal
Maria Eduarda –
Apaixonado pelas artes marciais, o douradense Lucas Palácio Galhardo, de 17 anos, é um dos nomes mais promissores do karatê Kyokushin e do kickboxing em Mato Grosso do Sul. Com títulos nacionais e internacionais no currículo, o jovem atleta acumula vitórias, disciplina e muita determinação — mas também enfrenta, como tantos esportistas brasileiros, o peso da falta de apoio financeiro para continuar competindo.
Em entrevista exclusiva à Folha de Dourados, Lucas relembrou o início da sua trajetória, falou sobre o amor pelas lutas, os desafios do dia a dia e o sonho de representar o Brasil em competições internacionais.
Em abril de 2017, aos 9 anos, Lucas entrou na academia do Shihan Waldeir Berlarmino da Silva, onde praticou karatê por um ano antes de interromper temporariamente suas atividades. Ele retornou às aulas em setembro de 2022, agora sob a orientação do Sensei Marcos da Silva, retomando sua paixão pelas artes marciais e dando início a uma trajetória de conquistas. Lucas permanece até hoje treinando com o Sensei Marcos.
O primeiro contato com o karatê foi marcante. “Meu primeiro contato com o karatê foi algo que me marcou demais. Eu queria muito fazer algum tipo de luta que eu realmente curtisse, e quando conheci o karatê, me apaixonei logo de cara. Desde a primeira vez que pisei no dojo, já senti que era aquilo que eu queria pra mim”, contou.
Lucas em abril de 2017, aos 9 anos, com seu primeiro contato com o karate – Foto: Arquivo pessoal
Algum tempo depois, Lucas começou a treinar kickboxing, esporte que complementou sua formação como lutador. Em fevereiro de 2024, ele iniciou seus treinos na academia Kickboxing Palacio 72 Fight, com o Mestre Evaldo Palacio, onde permanece até hoje. “Eu também curti muito o kickboxing. Vi que ele podia me ajudar no karatê, e o karatê também me ajudava no kickboxing. Acabei me apaixonando pelos dois esportes”, contou.
O que o mantém motivado, segundo ele, é a paixão pelo que faz. “Eu curto demais treinar, aprender coisas novas e ver o quanto eu evoluo. E também tem aquela vontade de sempre dar o meu melhor nas competições.”
“Eu curto demais treinar, aprender coisas novas e ver o quanto eu evoluo. E também tem aquela vontade de sempre dar o meu melhor nas competições.”
Lucas lembra com carinho das primeiras vezes em que subiu ao tatame e ao ringue. A estreia aconteceu em Tacuru, em outubro de 2022, quando participou de um torneio de karatê. “Eu tive três oponentes — ganhei as duas primeiras lutas e perdi a terceira. Foi uma experiência muito doida, eu estava com um monte de emoção misturada: ansioso, nervoso, mas com muita vontade de lutar.”
Já no kickboxing, sua primeira competição foi em Campo Grande, no Brasileiro Centro-Oeste, em fevereiro de 2024. Mais confiante, ele conquistou o primeiro lugar e marcou de vez seu nome entre os destaques regionais. “Foi uma sensação incrível”, recorda.
“Foi uma sensação incrível”, recorda.
Recentemente, o atleta participou do Grand Prix Brasil Kyokushin IKO Matsushima, um dos maiores eventos da modalidade no país. Lá, realizou o exame para faixa preta. Uma conquista que representa anos de treino, dedicação e esforço. “A faixa preta não é o fim, é o começo de uma nova etapa. Significa disciplina, respeito e superação”, explica.
“A faixa preta não é o fim, é o começo de uma nova etapa. Significa disciplina, respeito e superação”, explica.
A cerimônia incluiu o tradicional teste de quebra de gelo, símbolo do domínio técnico e mental exigido pelo karatê Kyokushin.
Lucas na quebra de três gelos para passar pra faixa preta – Foto: Arquivo pessoal
No início da carreira, o maior obstáculo foi conciliar treinos, estudos e vida pessoal. “O mais difícil foi mudar toda minha rotina pra conseguir encaixar os treinos junto com a escola e ainda ter um tempo pra minha vida social. Tive que me adaptar bastante, mas com o tempo fui acostumando e hoje já faz parte do meu dia a dia”, conta.
O esforço rendeu frutos: Lucas soma conquistas expressivas, como o título de campeão mundial de Karatê Kyokushin, além do Campeonato Brasileiro de Kickboxing, realizado em Brasília, e a Copa Brasil, disputada em Cambé (PR). “Foram momentos que marcaram demais pra mim”, afirma.
Entre as lutas mais memoráveis, ele destaca o Mundial de Karatê no Chile, onde surpreendeu ao vencer adversários mais experientes. “Eu ainda era faixa azul, iniciante, e acabei lutando contra faixas marrom e preta — e mesmo assim consegui vencer. Foi uma sensação incrível!”.
Lucas no campeonato mundial no Chile – foto: Arquivo pessoal
No kickboxing, o campeonato que mais o marcou foi o Brasileiro. “Consegui mostrar tudo que vinha treinando e saí campeão. Foi muito especial pra mim.”
“Consegui mostrar tudo que vinha treinando e saí campeão. Foi muito especial pra mim.”
Lucas no campeonato Brasileiro de Kicboxing – Foto: Arquivo pessoal.
Apesar das conquistas, a caminhada não é fácil. Lucas revelou à Folha de Dourados que em 2025 foi convocado para o Pan American Kickboxing Championships, que acontecerá no dia 17 de dezembro, na Guatemala, mas não conseguirá participar por motivos financeiros. “Infelizmente, por motivos financeiros, não vou conseguir participar dessa vez, mas sigo firme treinando para estar pronto nas próximas oportunidades.”
Segundo ele, a falta de patrocínio é o maior desafio da carreira. “A maioria das vezes eu e minha família que bancamos tudo para que eu possa competir — passagem, hospedagem, alimentação, inscrição… e isso pesa bastante”, lamenta. “Aqui em Dourados a gente sente muito a falta de apoio financeiro. Não sei se é por falta de costume ou de informação, mas é bem difícil conseguir patrocínio.”
“Aqui em Dourados a gente sente muito a falta de apoio financeiro. Não sei se é por falta de costume ou de informação, mas é bem difícil conseguir patrocínio.”
Lucas e o seu pai ( Hugo galhardo) – Foto Arquivo pessoal
Ele reforça que o apoio financeiro é essencial para quem quer continuar evoluindo no esporte. “Sem ele a gente acaba deixando de participar de campeonatos importantes. Infelizmente, os atletas de artes marciais ainda não têm a visibilidade que merecem no Brasil. A gente se dedica muito, treina pesado, mas ainda falta mais reconhecimento e incentivo pra esse tipo de esporte.”
Mais do que medalhas e títulos, o karatê e o kickboxing tiveram um papel fundamental na formação pessoal do jovem douradense. “Pra mim, o karatê e o kickboxing vão muito além das lutas. Eles me ensinaram disciplina, respeito, foco e a nunca desistir, mesmo quando as coisas ficam difíceis. São parte da minha vida e me ajudaram a crescer não só como atleta, mas como pessoa também”, afirmou.
Lucas palacio Galhardo – Foto: Arquivo pessoal
Além de competir, Lucas já começa a trilhar o caminho como instrutor. Ele treina e representa a academia Kickboxing Palacio 72 Fight, onde conduz aulas pra iniciantes sob a tutoria do mestre Evaldo. “Tá sendo uma experiência muito boa e que me motiva ainda mais a seguir nesse caminho. Tenho muita vontade de dar aulas tanto de karatê quanto de kickboxing no futuro e inspirar outras pessoas a começarem nesse caminho também.”
Lucas Palácio, ao lado do discípulo Sebastian, conduz aulas sob a tutoria do mestre Evaldo na Academia Kicboxing palácio 73 Fight – Foto: Arquivo pessoal
Com olhar voltado para o futuro, o atleta sonha em competir internacionalmente e levar o nome do Brasil ao pódio. “Meu grande sonho é representar o Brasil em competições internacionais grandes, tipo um Mundial ou até o Pan-Americano, e conquistar títulos importantes lá fora. Também quero continuar evoluindo e um dia ser referência nas duas modalidades, inspirando outros atletas a seguirem o mesmo caminho.”
Ao ser questionado sobre como resumiria sua trajetória até aqui, Lucas respondeu com uma palavra: superação. “Desde o começo sempre tive que correr atrás de tudo — treinar, estudar, buscar patrocínio, me adaptar aos desafios — e mesmo assim nunca pensei em desistir. Cada dificuldade só me fez querer evoluir mais e provar pra mim mesmo até onde eu posso chegar.”
“Cada dificuldade só me fez querer evoluir mais e provar pra mim mesmo até onde eu posso chegar.”
Lucas treinando na Academia Kicboxing palácio 73 Fight – Foto: Arquivo pessoal
A história de Lucas Palácio Galhardo é a prova viva de que talento e determinação podem nascer em qualquer lugar e que, mesmo sem apoio, o amor pelo esporte continua sendo o maior combustível de quem sonha em ir longe.