10/01/2014 09h02
Murilo num beco sem saída
(*) Valfrido Silva
Se correr (de Delcídio do Amaral) o bicho petista do Planalto pega os 52 de milhões de reais com os quais pretende dar um upgrade em sua administração e redistribui a outros companheiros; se ficar o bicho peemedebista ainda ameaçador e zombeteiro à sombra do pé de Chico Magro do Parque dos Poderes come seu fígado sem farofa. E ainda tem o pernambucano cujos olhos de tão verdes e expressivos as más línguas chegaram a dizer ser filho de Chico Buarque de Holanda – Eduardo Campos, a quem deve obediência partidária, e que talvez por assustar a hegemonia petista por estes passou a ser chamado de playboy mimado e traíra, já que é tido como obra da boa vontade de Dilma Rousseff e de Lula da Silva. Este o beco em que se meteu o prefeito douradense, Murilo Zauith.
Seu ainda secretário de Planejamento, Gerson Schaustz, que grudou como um carrapato em deputados e senadores em busca não só dos tão alardeados 52 milhões, mas de outros recursos que até agora nem mesmo os parlamentares haviam descoberto (talvez por não renderem tantos retornos), garante que toda essa dinheirama sai agora em meados de 2014, independentemente do posicionamento político do chefe. Durante todo o 2013 formou-se a convicção de que haveria um “acordão” entre PMDB e PT, com o governador André Puccinelli dando toda a pinta de que poderia se acertar com Delcídio do Amaral, o que deixava Zauith numa posição política menos desconfortável, não só como administrador dependente dos governos estadual e federal, chefiados por ambos os partidos, como também para capitalizar sem maiores constrangimentos as eventuais rebarbas, com o aproveitamento dos descontentes do PMDB (leia-se família Trad), tucanos e demos, já que não haveria lugar para todo mundo no mesmo palanque.
Mas catorze, como diz o presidenciável Eduardo Campos, chegou e, com ele, a consolidação de números de rodadas e mais rodadas de pesquisas dando como suicídio coletivo um palanque entre petistas e peemedebistas em Mato Grosso do Sul. Moral da história, Nelsinho Trad vai mesmo para o brete. Nelsinho Trad, candidato peemedebista apoiado por André Puccinelli, a âncora da administração Zauith enquanto não sai a pacoteira de dinheiro de Brasília que dependeria do aval da bancada petista, Delcídio à frente.
Passado o burro, depois de preterido na eleição para o Senado, uma vez prefeito e consciente do tamanho do pepino deixado pelo Valdecir Artuzi e do cabidão de empregos herança dos agora companheiros petistas, o ex-vice-governador de Puccinelli foi levado pelas circunstâncias a rever conceitos em relação ao titular do posto por ele tão almejado. Isto, sem levar em conta a gratidão a Nelsinho Trad que, como prefeito da capital, foi fundamental para que ele fincasse a mais firme das estacas da política douradense nas arenosas terras campo-grandenses.
Agora, com a deflagração da guerra eleitoral entre PMDB e PT, o que deve acontecer no retorno de André Puccinelli das férias, Murilo Zauith vai ter que buscar em seus arquivos a cartilha tucana com a qual iniciou na lida política, para encontrar um jeito de descer do muro sem maiores riscos. Isto, depois da pragmática passagem pelo PFL, que virou demo, o que pode ter provocado a guinada à esquerda, daí a contingência de se agarrar agora às asas da pombinha branca que paira no Brasil sob a inspiração dos bons fluídos do espírito de Miguel Arraes para o que seria um ousado voo rumo ao Parque dos Poderes.
(*) Jornalista e blogueiro
Por: Folha de Dourados
