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Geraldo Resende: ‘Minha posição é de que não haja a liberação do Carnaval em MS’

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José Henrique Marques

O secretário de Estado de Saúde Geraldo Resende é categórico: é contra a realização de festas de carnavais públicos em Mato Grosso do Sul. Contudo, podera: “Nós da Saúde temos uma posição, mas é preciso construir consenso para quer seja um posicionamento de todo o governo”, disse em entrevista exclusiva à Folha de Dourados. Ele pretende debater com prefeitos e dentro do comitê do “Prosseguir” para depois definir a posição a ser tomada.

Na entrevista, o secretário diz que a luta contra a covid-19 não chegou ao fim, mas que o “resultado tem sido positivo, tanto que nosso Estado desponta entre os primeiros lugares no ranking da vacinação em âmbito nacional”.

Geraldo Resende, que é médico, atribui aos negacionistas a queda do quantitativo na vacinação em MS. “Chegamos a vacinar cerca de 26 mil pessoas no Estado, e hoje conseguimos pouco mais do que mil pessoas sendo vacinadas”, por dia. 

“Essas pessoas (negacionistas) têm que ser colocadas em seu gueto. Nós, democratas do mundo todo e os adeptos da ciência, temos que fazer esse enfrentamento com mais altivez”, defende o secretário.

Ainda na entrevista, Geraldo Resende se diz preocupado com nova cepa da covid-19 surgida na África do Sul, a Ômicron, faz um balanço de seu trabalho de combate à pandemia e da importância da vacinação. Leia, a seguir, na íntegra. 

Folha de Dourados – Qual o seu balanço sobre o combate a pandemia, até aqui, em Mato Grosso do Sul?

Geraldo Resende – Assim como o apóstolo Paulo afirma a seu discípulo Timóteo, em uma passagem da Bíblia, faço a mesma colocação, porém no plural, porque em Mato Grosso do Sul, como em outros Estados brasileiros, somos milhares de pessoas. Então eu digo que combatemos o bom combate e guardamos a fé. Fé em que? Fé em Deus e na Ciência, cujo conhecimento é disponibilizado pelo próprio criador ao ser humano, para construir uma vida melhor aqui na Terra. Porém, diferentemente do que disse o apóstolo, ainda não encerramos a carreira, porque a luta contra a Covid-19 não chegou ao fim. Mas, no geral, o resultado tem sido positivo, tanto que nosso Estado desponta entre os primeiros lugares no ranking da vacinação em âmbito nacional.

Mas por que MS deu uma parada na vacinação? Foi superado por São Paulo e os estados do Sul estão perto entre aqueles que mais vacinam.

Nós ficamos mais de oito meses na primeira colocação no processo de vacinação. Fomos ultrapassados recentemente por São Paulo. E há outros Estados que estão muito próximos de atingir o mesmo índice que alcançamos. Isso vai acontecer com todos os Estados, à medida em que estamos numa espécie de “corrida” pela vida. Mato Grosso do Sul foi o primeiro a atingir a chamada imunidade coletiva. Quanto mais avançado for o processo de imunização, menos pessoas vão se vacinar daqui para frente, porque já estamos atingindo o percentual necessário em todos os grupamentos. É como se estivéssemos numa corrida de mil metros, tivéssemos atingido os 980 metros e agora quem vem atrás está chegando muito próximo, porque estamos num terreno que apresenta mais dificuldades para finalizarmos a corrida.

Qual seria esse terreno? E o que fazer para superar essa fase e chegar ao que o Sr. chama de “final da corrida”?

É o terreno dos negacionistas, aqueles que não querem tomar vacina. São aqueles que não buscaram a segunda dose por qualquer reação, mínima que fosse. Há também resistência de filhos ou netos em levarem seus pais ou avós para tomar o reforço e isso só vai ser vencido se tivermos uma ação muito forte com os setores de educação, assistência social e também com todos os prefeitos, prefeitas e equipes de imunização dos municípios para que possamos fazer a chamada busca ativa, ou seja, ir atrás, com todo o aparato da saúde em todos os municípios, a fim de vencermos essas resistências. De tal sorte, que nós fizemos uma corrida, Mato Grosso do Sul foi exemplo no país e agora enfrentamos dificuldades num processo em que chegamos a vacinar cerca de 26 mil pessoas no Estado, e hoje conseguimos pouco mais do que mil pessoas sendo vacinadas.  É um processo normal de quem está à frente da Saúde pública e que sabe muito bem quando teremos apenas grupos residuais que, por várias razões, não buscam as vacinas que hoje existem em quantidade. Certamente aqueles que têm preocupação em manter sua vida, vão procurar.  É o apelo que eu faço: vacinar, vacinar e vacinar. Esse o único antídoto que temos para evitar novos casos, novas internações e óbitos. Inclusive para evitar que a variante da África do Sul chegue aqui ao Mato Grosso do Sul, bem como o surgimento de novas variantes aqui no nosso Estado.

Ainda falando em vacinação, quais os índices atuais de imunização em Mato Grosso do Sul e as expectativas para esse final de ano?

Mato Grosso do Sul foi e é um exemplo do processo vacinal. Mas precisamos atingir 100 por cento, que é a nossa meta nos vários grupamentos nos quais é permitida a imunização. Se nós atingirmos esse percentual em relação à segunda dose naqueles que só tomaram a primeira, certamente, vamos evitar essas mutações. Porém queremos avançar nos idosos, nos quais ainda não atingimos 60 por cento do quantitativo de doses que precisam ser aplicadas. Com a vacinação das pessoas com menos de 60 anos também precisamos correr, para que possamos, até o final do ano, concluir a imunização em todo esse grupamento com a dose de reforço. Queremos terminar a vacinação entre os adolescentes, nos quais temos mais de mais de 80 por cento com a primeira dose e mais de 50 por cento com a segunda. Precisamos chegar a 90 por cento dos adolescentes com a primeira e a segunda doses. Essa é a nossa meta.

Sobre a nova cepa, a Ômicron, identificada na África do Sul, preocupa a entrada dela em MS? O que está ou será feito para evitar isso?

A variante surgida na África do Sul preocupa o mundo todo. E vamos redobrar nossa vigilância nas fronteiras e também verificar a entrada de quem seja oriundo da África do Sul ou de países que fazem divisa ou venham de regiões próximas do país africano, com a coleta de exames dessas pessoas, mesmo que não apresente sintomas, para que possamos fazer o sequenciamento. O objetivo é retardar o processo de entrada dessa mutação aqui no Brasil. É importante salientar que se intensificarmos vacina vamos evitar o sucesso de variantes aqui no Brasil como também o surgimento de mutações em qualquer lugar do país.

Carnaval em MS. Será autorizado? Em que condições?

Em relação ao Carnaval ou qualquer outro evento que propicie aglomerações, as autoridades sanitárias em todo o mundo estão preocupadas. Minha posição é a de que não haja a liberação do Carnaval em Mato Grosso do Sul. Aqui nós temos uma tradição mais forte desse evento em Corumbá, e o aproveitamento dos feriados do período, no qual os sul-mato-grossenses são chamados a se deslocarem às cidades que tem um forte apelo do ecoturismo.  Mas vamos discutir com as prefeituras desses municípios, dentro do comitê do “Prosseguir” qual a posição a ser tomada. Nós da Saúde temos uma posição, mas é preciso construir consenso para quer seja um posicionamento de todo o governo.

Secretário, quais as lições que a pandemia nos deixa, tanto para o momento atual quanto para o futuro?

A pandemia está trazendo prejuízos não apenas na área de saúde como as milhares de mortes em todo o mundo. Não foi só o desastre econômico que atingiu todas as nações, independente de governos de direita, de centro e de esquerda, do país mais pobre ao mais rico, mas mostrou claramente que precisamos construir mecanismos para não sermos dependentes de um só país, como aconteceu durante o enfrentamento. Faltaram equipamentos, desde aparelhos para a montagem de leitos de UTI’s até os de proteção individual. Faltaram medicamentos porque o mundo todo ficou muito dependente de insumos fabricados por um país, apenas. Isso mostra que temos que construir uma política de visão global. Não adianta os países mais ricos comprarem milhões de doses de vacina para aplicar na sua população e deixar as nações mais pobres, porque a doença vai persistir. Isso está acontecendo com mutações do vírus na região africana, onde há um pequeno percentual da população que foi vacinada. Além disso, temos o enfrentamento de uma parcela da população mundial que nega o avanço da ciência, os avanços da humanidade, marcas civilizatórias, que é a vacina, medicamentos, avanços na área de tecnologia. Para tanto, é necessário um processo de reeducação da população mundo afora. Essas pessoas têm que ser colocadas em seu gueto. Nós, democratas do mundo todo e os adeptos da ciência, temos que fazer esse enfrentamento com mais altivez. Além disso, entendemos que a pandemia nos possibilitou identificar lacunas históricas no Brasil, principalmente nos Estados, para as quais temos que ter um olhar mais atento. Aqui no Mato Grosso do Sul estamos fazendo esse enfrentamento na construção de estruturas, com reformas, revitalizações, equipamentos e, acima de tudo, na montagem de condições que possam levar a saúde mais perto da nossa gente. Também iremos lançar projetos, como estamos fazendo nesse dia 2 de dezembro com o início do “Opera MS” e “Examina MS”, para enfrentarmos represamento de cirurgias, de exames especializados que possibilitem à nossa gente dar solução a seus problemas de saúde.

(Matéria publicada originalmente na edição especial impressa da Folha de Dourados)

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