Artigo – 06/01/2009
Gabiru belo e formoso
*Elecir Ribeiro Arce
A palavra gabiru vem sendo usada com certa freqüência aqui na cidade de Dourados. Em vários locais onde há qualquer grupo reunido é comum alguém se dirigir a outro mencionando: oi gabiru. Tem até um radialista que menciona com freqüência a palavra na hora de caracterizar os seus desafetos, geralmente amigos do alheio.
Porém, acho-me na obrigação de esclarecer um pouco sobre a popularização da palavra gabiru aqui em nossa cidade. Ressalte-se que não estou tratando do sentido etimológico da palavra. No final da década de 80 do século passado, eu exercia a função de repórter/jornalista da TV-Morena na sucursal da emissora em Dourados.
Fazia parte de nossa equipe um grupo de trabalho muito bacana, dentre os profissionais, destaco o jornalista José Henrique Marques, hoje proprietário do jornal “Folha de Dourados”.
Numa manhã de domingo cheguei para o trabalho, por volta das oito horas da manhã, logo em seguida o Zé Henrique ligou perguntando se já havia sido entregue o jornal “Folha de S. Paulo”; disse a ele que não. Aí ele falou quando chegar leia a matéria sobre o homem gabiru, depois discutiremos o assunto. Desliguei o telefone e em seguida o jornaleiro entregou o jornal. Na capa do primeiro caderno a manchete estampava o titulo da matéria especial do jornal naquele domingo “O Homem Gabiru”.
Li atentamente todo o material e fiz algumas anotações de caneta numa folha de papel. A “Folha” foi muito feliz na matéria, pois num país “rico” como o nosso ela tratou da miséria, enfatizando o nanismo gerado pela fome, desnutrição e ignorância no sertão de Alagoas. Depois o jornal fez outras matérias destacando o gabiru de outras regiões do país. Posteriormente a revista “Veja” trouxe uma entrevista nas páginas amarelas com o homem que havia servido de inspiração da matéria publicada pela “Folha”. Veja você que o raquítico de pouco mais de um metro e trinta de altura e com uma “renca” de filhos foi destaque em dois órgãos da imprensa nacional. Lembro-me muito bem que na entrevista concedida à revista ele declarou em quem havia votado para Presidente da República, havíamos saído da primeira eleição direta para Presidente, após os anos de chumbo da ditadura militar. “Votei no Lula”, disse ele.
Recomendei as reportagens para muitos amigos meus, principalmente professores. E o vocábulo foi se difundindo pela cidade. Os professores Elizeu Bastos de Oliveira o popular “Brodrer”, Claudio Freire, Pedro Alcântara e tantos outros que logo trataram de personalizar o gabiru. Vou aqui enumerar alguns, sem entrar no mérito, antes de encerrar esse texto. Tem o gabiru “mixilão”, “pidão”, “lumbriga”, “babão”, “beijoqueiro” dentre outros. Mas estou tratando do gabiru do título do artigo.
A palavra estava tão comum entre um grupo de amigos, que certa vez esse grupo estava reunido no SINTED, o sindicato dos trabalhadores na educação. O professor José Carlos Batista fazia uma análise conjuntural da política brasileira. Era uma fala maçante e cansativa que já durava mais de meia hora, quando ele resolveu encerrar. E encerrou dizendo “não sou mais gabiru, agora eu sou belo e formoso”.
Veja você que gabiru é pejorativo e pega bem em quem nem aparenta ser belo e formoso. Para eu, gabiru encaixa-se como um o sujeito bonachão, aquela pessoa do seu meio e que não esquenta muito com o apelido. Eu já acostumei com o termo, não estou nem aí quando alguém se dirige a mim com a palavra “e aí gabiru, tudo jóia”. Respondo “meu irimão gabiru, estou ótimo.
*professor da rede estadual de ensino
Fonte: Folha de Dourados