A família de Dhiogo Melo Rodrigues, de 19 anos, encontrado morto nas dependências do Comando Militar do Oeste (CMO), em Campo Grande, no dia 27 de outubro, protocolou um pedido formal de apuração de responsabilidade e acompanhamento do inquérito que apura as circunstâncias da morte do jovem soldado.
O documento, apresentado nesta semana, solicita o acesso integral ao laudo de necropsia, relatórios internos, prontuários médicos, registros psicológicos e ao inquérito policial militar. A família também pede a oitiva de colegas de pelotão, oficiais e praças que tiveram contato direto com Dhiogo no dia da ocorrência, além da análise das condições psicológicas, ambientais e disciplinares impostas aos recrutas do CMO.
Inconsistências e suspeitas de omissão de socorro
Em entrevista ao TopMídiaNews, o irmão da vítima, Thiago Melo, afirmou que há inconsistências nos registros desde o momento da morte até a chegada do corpo ao IMOL (Instituto de Medicina e Odontologia Legal).
“Ele foi encontrado com um tiro de fuzil na cabeça por um colega. Um perito me disse que o tiro não atingiu a massa cerebral, então não houve morte instantânea. Mas o CMO alega que ele chegou ao Hospital Militar às 13h20, e o óbito foi confirmado às 13h22. Como realizaram o protocolo de reanimação completo em dois minutos?”, questionou Thiago.
O irmão também relatou demora na liberação do corpo para o IMOL. “Minha mãe ficou mais de duas horas ao lado do corpo do filho, dentro de um saco, esperando liberação. O que estavam tentando esconder?”, lamentou.
Laudos psicológicos e falhas de acompanhamento
Em nota, o Comando Militar do Oeste informou que realiza “testes psicológicos periódicos” nos recrutas, mas a família contesta a afirmação. Segundo Thiago, nenhum laudo ou documento foi apresentado que comprovasse a capacidade psicológica de Dhiogo para o manuseio de armas.
“Ele entrou sem preparo mental e tinha medo de reclamar, por medo de represálias. Era constantemente ameaçado”, declarou o irmão.
O celular do jovem segue apreendido para perícia, e a família afirma que não tem recebido informações oficiais sobre o andamento das investigações.
“Descaso e capacitismo”, relata mãe da vítima
A mãe de Dhiogo, Christiane Melo dos Santos da Silva, de 57 anos, relatou que o filho vinha enfrentando pressão psicológica e situações de humilhação dentro do quartel. Segundo ela, o jovem apresentava traços de autismo e sofria deboches e capacitismo por parte de superiores e colegas.
“Ele voltava machucado das atividades e dizia que zombavam dele, que diziam que ele ‘não tinha jeito para o operacional’. Pedi várias vezes para mudarem o setor dele, para colocá-lo em algo de tecnologia ou logística, mas nunca deram assistência”, contou emocionada.
Christiane também afirmou que o celular do filho foi confiscado e teme que informações importantes sejam ocultadas. “Enterrei meu filho no dia do meu aniversário. Passei mais de duas horas com o corpo dentro de um saco esperando liberação. Foi um descaso total. Hoje, o que resta é a dor e a indignação diante da omissão e da falta de humanidade”, desabafou.
Investigação em andamento
A morte de Dhiogo Melo Rodrigues segue sob investigação. A família cobra transparência e medidas efetivas para esclarecer o que aconteceu dentro do quartel e responsabilizar possíveis culpados por negligência, omissão de socorro e falhas institucionais.

