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EUA bombardeiam instalações nucleares do Irã, que alerta para ‘consequências duradouras’

Os Estados Unidos atacaram três grandes instalações nucleares no Irã nas primeiras horas deste domingo (22/6).

Isso coloca o país diretamente no conflito entre Israel e Irã.

O presidente dos EUA Donald Trump afirmou que os ataques “obliteraram totalmente” as instalações de enriquecimento nuclear do Irã.

Ele também pediu que o governo iraniano “faça a paz” ou enfrente ataques “muito maiores” no futuro.

O secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, assegurou que os ataques foram planejados para “degradar” e “destruir” as capacidades nucleares do Irã.

Ele afirma que a ação militar americana “devastou” o programa nuclear iraniano, mas não afetou tropas ou civis do país.

O ministro das Relações Exteriores do Irã alertou para “consequências duradouras” dos ataques, que ele classificou “ultrajantes”.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou no sábado (21/6) para o risco “crescente” de o conflito sair “rapidamente do controle, com consequências catastróficas para os civis, a região e o mundo”.

“Apelo aos Estados-Membros para que reduzam a tensão e cumpram suas obrigações sob a Carta da ONU e outras normas do direito internacional. Neste momento perigoso, é fundamental evitar uma espiral de caos. Não há solução militar. O único caminho a seguir é a diplomacia. A única esperança é a paz”, declarou Guterres.

O presidente de Israel disse à BBC que o programa nuclear iraniano foi atingido “substancialmente”, mas os detalhes completos da ação militar ainda não foram divulgados.

Já as Forças de Defesa de Israel (IDF) disseram que ainda estão avaliando a situação e a extensão dos danos causados ​​pelo ataque americano.

O órgão de vigilância nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU) assegurou que nenhum aumento nos níveis de radiação foi detectado.

Nas últimas horas, Irã e Israel também trocaram mais uma nova onda de ataques com mísseis.

O que sabemos sobre os ataques dos EUA

Ainda na noite de sábado (21/6), no horário de Brasília, Trump fez o anúncio oficial de que os EUA realizaram ataques a três instalações nucleares no Irã.

Os locais atingidos foram Fordow, Natanz e Isfahan (veja a localização das instalações no mapa abaixo).

Poucas horas depois, o Irã confirmou que as três instalações nucleares foram de fato atacadas.

Na sequência, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, emitou um comunicado afirmando que “o presidente Trump e os Estados Unidos agiram com muita força”.

Por volta das 23h, no horário de Brasília, Trump fez um pronunciamento à nação, em que alertou que o Irã “deve agora fazer a paz” ou enfrentará ataques “muito maiores”.

Nas primeiras horas do domingo (22/6) Israel afirmou que o Irã lançou uma nova onda de ataques contra o seu território.

Informações preliminares divulgadas pela Agência Internacional de Energia Atômica asseguraram que não há “aumento” nos níveis de radiação em instalações nucleares iranianas após os ataques.

Por volta das 2h40 da madrugada (no horário de Brasília), o exército israelense iniciou uma nova operação contra “alvos militares” no oeste do Irã.

Mapa dos ataques dos EUA no Irã

‘Qualquer retaliação será respondida com força’

Numa declaração direto do Pentágono em Washington, Hegseth afirmou que muitos presidentes “sonhavam em desferir o golpe final no programa nuclear do Irã, mas nenhum conseguiu até Trump”.

Ele acrescentou que a operação no Irã foi “ousada e brilhante”.

O secretário de Defesa dos EUA defendeu que o presidente Trump “busca a paz”.

Hegseth leu uma série as postagens de Trump nas redes sociais feitas durante o sábado (21/6), que alertavam que qualquer retaliação do Irã seria respondida com uma força “muito maior”.

“O Irã seria inteligente se prestasse atenção a essas palavras, ele disse isso antes, e ele fala sério”, alertou Hegseth.

Hegseth também descreveu o equipamento militar que os EUA usaram em seu ataque ao Irã.

Segundo ele, os bombardeiros furtivos B-2 “entraram, saíram e voltaram das instalações nucleares do Irã sem que o mundo soubesse”.

Esses grandes grandes jatos são considerados as únicas aeronaves com capacidade de transportar armas capazes de atingir a instalação nuclear mais segura do Irã, em Fordow, que fica enterrada nas profundezas de uma montanha.

“O ataque incluiu a mais longa missão com o bombardeiro Spirit B-2 desde 2001 e o primeiro emprego operacional do MOP (Massive Ordnance Penetrator)”, acrescentou ele.

Hegseth enfatizou que “esta missão não era e não tem sido sobre mudança de regime” no Irã.

“O presidente autorizou uma operação de precisão para neutralizar as ameaças aos nossos interesses nacionais representadas pelo programa nuclear iraniano e pela autodefesa coletiva de nossas tropas e de nosso aliado, Israel.”

Dan Caine, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA detalhou que a missão foi “altamente sigilosa”. De acordo com o relato dele, , com pouquíssimas pessoas em Washington sabiam o momento ou a natureza deste plano.”

Caine confirmou que todos os três alvos de infraestrutura nuclear iraniana foram atingidos.

“Parece que os sistemas de mísseis terra-ar do Irã não nos avistaram”, relata ele, acrescentando que, durante a missão, os EUA não tiveram conhecimento de nenhum contra-ataque iraniano.

Caine ponderá que levará algum tempo para que seja possível avaliar a extensão completa dos danos sofridos pelo Irã.

“Os danos finais da batalha levarão algum tempo para serem conhecidos, mas uma avaliação inicial indica que todos os três locais sofreram danos e destruição extremamente graves”, afirma ele.

Pete Hegseth
Reuters
Pete Hegseth disse que a operação foi ‘ousada e brilhante’

‘Consequências duradouras’

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, afirmou que tanto Israel quanto os EUA decidiram “explodir” a diplomacia.

Em uma publicação no X (o antigo Twitter), ele questionou: “Para o Reino Unido e o Alto Representante da União Europeia, é o Irã que deve ‘retornar’ à mesa. Mas como o Irã pode retornar a algo que nunca deixou?”

Araghchi também classificou os ataques dos EUA de “ultrajantes” e afirmou que o Irã está analisando “todas as opções para defender sua soberania”.

“Os eventos desta manhã são ultrajantes e terão consequências duradouras. Todos os membros da ONU devem estar alarmados com esse comportamento extremamente perigoso, ilegal e criminoso”, escreveu ele no X.

Araghchi acrescentou que os EUA “cometeram uma grave violação” da Carta da ONU, como membro do Conselho de Segurança do órgão.

Ao fazer uma declaração pública direto de Istambul, na Turquia, onde participa de negociações diplomáticas, Araghchi acusou Trump de ter traído tanto o Irã quanto o povo americano.

“Embora o presidente Trump tenha sido eleito com a plataforma de pôr fim ao custoso envolvimento dos Estados Unidos em guerras intermináveis ​​em nossa parte do mundo, ele traiu não apenas o Irã ao abusar de nosso compromisso com a diplomacia, mas também enganou seus próprios eleitores ao se submeter à missão de um criminoso de guerra procurado, acostumado a explorar a vida e a riqueza de cidadãos americanos para promover os objetivos do regime israelense”, afirmou ele.

Araghchi foi questionado se o Irã está considerando atacar bases militares americanas na região ou fechar o Estreito de Ormuz — uma estreita rota de navegação na região do Golfo considerada uma das mais importantes do mundo.

O local tem profundidade suficiente para os maiores navios-tanque de petróleo bruto do mundo e é usado pelos principais produtores de combustível do Oriente Médio.

“Há uma variedade de opções disponíveis para nós”, respondeu Araghchi.

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi
EPA
Araghchi falou em ‘consequências duradouras’ após ação dos EUA

Irã faz ataques em Israel

No bairro nobre de Ramat Aviv, em Tel Aviv, há grandes pedaços de estilhaços espalhados por uma praça arborizada.

No centro, moradores, seguram animais de estimação e malas, enquanto se misturam às equipes de resgate sob o sol escaldante.

Através das árvores, é possível vislumbrar a devastação deixada pelo bombardeio de mísseis iranianos que aconteceu nas últimas horas.

Essa foi a primeira resposta do Irã ao ataque americano às suas instalações nucleares.

Maquinários pesados trabalham para remover os destroços dos prédios mais atingidos, cujos telhados desabaram e cujas paredes se transformaram em escombros.

O Irã bombardeia cidades israelenses há dez dias. Nesse meio tempo, a campanha militar de Israel no Irã também não arrefeceu.

Membros das forças israelenses trabalham em um local atingido após um ataque de mísseis do Irã em Tel Aviv
Reuters
Membros das forças israelenses trabalham em um local atingido após um ataque de mísseis do Irã em Tel Aviv

A reação dos países árabes

O Omã, que mediava as negociações nucleares entre Washington e Teerã, condenou veementemente os ataques americanos a instalações nucleares no Irã.

O sultanato do Golfo expressou “profunda preocupação, denúncia e condenação da escalada resultante dos ataques aéreos diretos lançados pelos Estados Unidos”.

A Arábia Saudita, que mantém fortes laços de segurança com os EUA e é um de seus aliados regionais mais próximos, declarou condenar “a violação da soberania do Irã e enfatizou a necessidade de moderação”, conclamando a comunidade internacional “a redobrar os esforços nessas circunstâncias extremamente sensíveis para alcançar uma solução política”.

O Ministério das Relações Exteriores do Catar alertou que as atuais “tensões perigosas levarão a repercussões desastrosas nos níveis regional e internacional”. O país ainda afirmou que “espera que todas as partes exerçam sabedoria e moderação neste momento”.

O Egito alertou sobre “os perigos de a região mergulhar em mais caos e tensão”, enfatizando que “soluções políticas e negociações diplomáticas, e não uma solução militar, são a única saída para a crise”.

Enquanto isso, o presidente libanês, Joseph Aoun, afirmou que “o bombardeio de instalações nucleares iranianas aumenta o medo de uma escalada de tensões que ameaçaria a segurança e a estabilidade em mais de uma região e país”.

Um carro passa ao lado de um outdoor com os dizeres "Resposta Severa", em Teerã
EPA
Um carro passa ao lado de um outdoor com os dizeres “Resposta Severa”, em Teerã

‘Os próximos dias podem ser delicados e desafiadores’, diz presidente de Israel

O presidente de Israel divulgou um comunicado em que classifica o ataque de Donald Trump ao Irã como “histórico”.

Isaac Herzog afirmou que as palavras de Trump demonstram a “profunda e corajosa aliança” entre os EUA e Israel.

Mas ele também alertou que “a campanha não acabou”.

“Os próximos dias podem ser delicados, complexos e desafiadores”, disse ele.

Numa entrevista à BBC, Herzog disse não saber os detalhes, “mas está claro que o programa nuclear iraniano foi substancialmente afetado”.

Ele também foi questionado se Israel solicitou diretamente a Trump que atacasse o Irã.

Herzog respondeu que “decidimos deixar isso para os americanos”, antes de acrescentar que não sabia se os EUA iriam atacar as instalações nucleares do Irã.

“Eu acordei quando aconteceu”, detalhou ele.

Questionado se Israel vai parar de atacar o Irã, Herzog não deu uma resposta direta, apenas declarou que o Irã está disparando mísseis contra território israelense e que “temos que fazer o que for preciso para nos defendermos contra eles”.

“A maneira de fazer isso é, obviamente, lidar com a situação em nível internacional e garantir que haja uma estratégia de saída”, acrescenta.

Israelenses dançam e cantam perto de um local residencial afetado, após um ataque de mísseis do Irã na cidade de Haifa
Reuters
Israelenses dançam e cantam perto de um local residencial afetado, após um ataque de mísseis do Irã na cidade de Haifa

O que se sabe sobre instalações nucleares do Irã

Escondida na encosta de uma montanha ao sul de Teerã, a instalação nuclear de Fordow estaria em um subsolo mais profundo do que o Túnel do Canal da Mancha que conecta o Reino Unido e a França.

Fordow foi construída estrategicamente embaixo da montanha justamente para evitar ataques aéreos de adversários militares.

Acredita-se que a instalação subterrânea consista em dois túneis principais que abrigam centrífugas usadas para enriquecer urânio, bem como uma rede de túneis menores.

Algumas das instalações mais sensíveis de Fordow podem estar enterradas ainda mais profundamente, a até 800 metros de profundidade.

A profundidade é muito maior do que a de outro local subterrâneo de enriquecimento de urânio do Irã, em Natanz, que analistas acreditam estar a cerca de 20 metros abaixo da superfície.

No dia 15 de junho, Israel atingiu dezenas de alvos em todo o Irã, danificando a instalação. Especialistas acreditam que ela esteja agora “severamente danificada, se não completamente destruída”.

Já a cidade de Isfahan, terceiro local atingido, segundo o presidente americano, é um importante centro da indústria militar iraniana.

Terceira maior cidade do Irã, Isfahan é um centro de fabricação de drones e mísseis balísticos.

Ela foi alvo de ataques anteriores pelos quais Israel foi responsabilizado.

Em janeiro de 2023, o Irã culpou Israel por um ataque de drone a uma fábrica de munições no centro da cidade. O ataque teria sido realizado usando quadricópteros, que são pequenos drones com quatro hélices.

Painel luminoso na cidade de Nova York noticia ataques dos EUA ao Irã
Reuters
Painel luminoso na cidade de Nova York noticia ataques dos EUA ao Irã

O programa nuclear do Irã

O Irã sempre afirmou que seu programa nuclear é totalmente pacífico e que nunca procurou desenvolver uma arma nuclear.

No entanto, uma investigação de uma década realizada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão de vigilância nuclear global, encontrou evidências de que o Irã conduziu “uma série de atividades relevantes para o desenvolvimento de um dispositivo explosivo nuclear” do final da década de 1980 até 2003, quando os projetos conhecidos como “Projeto Amad” foram interrompidos.

O Irã continuou com algumas atividades até 2009 — quando as potências ocidentais revelaram a construção da instalação subterrânea de enriquecimento de Fordow — mas depois disso não houve “nenhuma indicação confiável” de desenvolvimento de armas, concluiu a agência.

Em 2015, o Irã fechou um acordo com seis potências mundiais, segundo o qual aceitou restrições às suas atividades nucleares e permitiu o monitoramento rigoroso pelos inspetores da AIEA em troca de alívio das sanções paralisantes.

Os principais limites abrangiam sua produção de urânio enriquecido, que é usado para fabricar combustível para reatores e também armas nucleares.

Mas Trump abandonou o acordo durante seu primeiro mandato em 2018, dizendo que ele fazia muito pouco para impedir o caminho para uma bomba, e restabeleceu as sanções dos EUA.

O Irã retaliou violando cada vez mais as restrições, principalmente as relacionadas ao enriquecimento.

De acordo com o acordo nuclear, nenhum enriquecimento foi permitido em Fordow por 15 anos. No entanto, em 2021, o Irã voltou a enriquecer urânio com 20% de pureza.

O conselho de governadores da AIEA, formado por 35 países, declarou formalmente que o Irã violou suas obrigações de não proliferação pela primeira vez em 20 anos.

O Irã disse que responderia à resolução estabelecendo uma nova instalação de enriquecimento de urânio em um “local seguro” e substituindo as centrífugas de primeira geração usadas para enriquecer urânio por máquinas mais avançadas, de sexta geração, na usina de enriquecimento de Fordow.

Um outdoor com uma ilustração de iranianos demonstrando apoio ao país em uma rua de Teerã
Reuters
Um outdoor com uma ilustração de iranianos demonstrando apoio ao país em uma rua de Teerã

Como israelenses e iranianos reagiram ao ataque

Num hotel localizado na cidade de Van, na Turquia, a 96 km da fronteira com o Irã, a maioria dos hóspedes é iraniana.

Nas últimas horas, as pessoas ficaram grudadas às telas para receber atualizações, enquanto conversam sobre os ataques dos EUA às instalações nucleares do Irã.

“Estamos muito irritadas”, diz uma hóspede à reportagem da BBC News.

“Donald Trump acha que pode fazer o que quiser”, diz ela, antes de perguntar “por que ninguém conseguiu deter Israel e os EUA”.

Ela chegou de Teerã na manhã de domingo (22/6) para acompanhar a filha, que fará uma viagem ao Canadá.

“Acho que as pessoas estão realmente preocupadas e em pânico, porque não sabem o que vai acontecer no país”, acrescenta a filha.

Já o britânico-israelense Simon King, que sobreviveu aos ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, disse acreditar que o presidente dos EUA fez “uma coisa muito boa pela humanidade”.

“Estou feliz que ele tenha feito o que fez, mesmo que isso possa custar muito em recursos humanos”, acrescentou ele.

Enquanto isso, um morador da cidade de Haifa, no norte de Israel, disse esperar que “este fosse o passo que levaria ao fim da guerra”.

Uma pesquisa recente do Instituto Israelense de Democracia revelou que a grande maioria dos judeus israelenses apoia os ataques de Israel ao Irã, enquanto a maioria dos cidadãos árabes se opõe à ação militar.

(Com informações BBC)

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