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‘Escola de meninos e meninas’, por Elairton Gehlen

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Elairton Gehlen – escritor –

Uma escola é sempre uma escola, esse lugar onde a educação se dá por professores miseravelmente assalariados trabalhando na esperança da libertação intelectual de seus pupilos. Me perdoem a expressão, mas alunos parecem tão abandonados pelas famílias que, ao adentrarem pelos corredores das escolas, em regra, cabe-lhes perfeitamente pensar que estão em um orfanato, tutelados por professores inquietos e sofridos, vigiados pelos bedéis de plantão, alimentados por cozinheiras famintas e dirigidos por algum orgulhoso diretor que se acha o Rei da Cocada Preta! 

Uma das coisas mais impressionantes nas escolas, é a de que os alunos nunca crescem, entra ano, sai ano, mudam professores, elegem-se novos diretores e os alunos tem sempre a mesma idade. Estou passando este ano de 2.021 na mesma localidade onde estudei as séries iniciais a mais de cinquenta anos, esta semana passei em frente da mesma escola onde fiz o quinto ano escolar e lá estavam os mesmos alunos, seus uniformes e a idade que eu tinha a mais de meio século atrás. O curioso é que quando mudam os políticos, parece que o sistema educacional vai mudar; não muda, educação continua sendo uma forma de preparação para o mercado, onde os ricos exploram os pobres. 

É dessas escolas, desse sistema educacional que saem a maioria dos professores, políticos, líderes espirituais, profissionais liberais, trabalhadores, e até escritores! que vão se distribuindo proporcionalmente entre explorados, a maioria, e exploradores, ambos bitolados num sistema capitalista reprodutor de miséria e hedonismo.  

Não se pode esperar muito mais do que isso que temos, de uma sociedade onde quem deveria educar já sai deseducado da escola, ou políticos que aprendem logo cedo pelo exemplo dos pais que quanto menos qualidade tiver o ensino mais fácil iludir o eleitor, ou o líder espiritual que, de bíblia na mão apoia político fascista, ou o profissional liberal que cobra pelo serviço que não fez e até pelos erros que cometeu; todos simples mortais. E os escritores? Ah, estes têm a Academia! 

Quando escrevi meu primeiro livro, ainda na década de 1.980, já me achava um imortal, até guardava rascunhos para futuros pesquisadores que desejassem publicar minha biografia. Mal sabia eu que era de leite que me alimentava, alimento sólido não podia suportar, era ainda uma criança brincando de intelectual. O livro nunca ganhou uma publicação e foi parar na churrasqueira onde se queimou junto com meu passado infantil. Quatro décadas depois, estou publicando meu terceiro livro e fui convidado para ocupar uma cadeira na nascitura Academia de Letras do Brasil de Dourados, um orgulho! 

Academias de Letras são instituições sólidas onde o saber, a cultura e a pesquisa acadêmica são consolidadas e a produção intelectual se dá constantemente por escritores pesquisadores, intelectuais comprometidos com desenvolvimento da escrita, que divulgam suas produções literárias e as tornam acessíveis à população, sem bajulação deste ou daquele poderoso de plantão, mas transformando em letras sensíveis os sentimentos do povo, fazendo do rude o suave, da tristeza a esperança e da ignorância o saber revolucionário que empodera o fraco e sensibiliza o forte… 

Me perdoem ter sonhado! Não, as Academias não são isso, em geral não vão além de Escolas de Meninos e Meninas que se alimentam de leite e brincam de Super-homem e Mulher-Maravilha. 

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