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Em homenagem a cinegrafista, profissionais destacam legado dos precursores da televisão

Por: Edmir Conceição, da Agência 24h –

Almoço de confraternização e homenagem ao cinegrafista Jeferson Parra reuniu dezenas de profissionais que vivenciaram a chegada da televisão e os primeiros anos do Jornalismo da TV Morena, que teve suas transmissões iniciadas em 25 de dezembro de 1965. Parra foi um dos primeiros cinegrafistas e registrou eventos icônicos que marcaram não só a história da televisão, mas também fatos importantes da história de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Organizado pelo jornalista Marcelo Câncio e a jornalista Ecilda Stefanelo, ambos professores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) que passaram pela redação da TV Morena nos anos 1980, o encontro contou com a presença do primeiro cinegrafista da emissora, Marcos (Marcão) Silveira, que chegou a Campo Grande em 1970. Entre 1965 e 1968 a emissora foi retransmissora da antiga TV Tupi até se tornar afiliada da TV Globo. A ideia do reencontro de antigos profissionais deixou Jeferson Parra emocionado. “Encontro que jamais esperava um dia acontecer, não tenho palavras para agradecer tanto carinho, rever as pessoas que comigo dividiram os difíceis tempos do início da televisão é de uma felicidade incrível”.

Em homenagem a cinegrafista, profissionais destacam legado dos precursores da televisão
Marcão Silveira, Bosco Martins, Marcelo Câncio, Ecilda Stefanelo, Rosinei Bigatão e Waléria Leite

Jeferson Parra, junto com a esposa Cecília, recebeu o carinho dos amigos e pôde relembrar de coberturas de fatos marcantes do jornalismo antes e depois da divisão de Mato Grosso. As coberturas e o “jornalismo feito na raça” foram um divisor da comunicação em uma época de efervescência política e transformações sociais e econômicas na chamada “fronteira do Centro Oeste”.

A homenagem reuniu Marcos Silveira, que mora dos Estados Unidos e estava revisitando amigos em Campo Grande, Cézar Roriz, Bosco Martins, Marcelo Câncio, Wilson Bisol, Carmem Cestari, Luiz Carlos Rodrigues (Babão), José Cáfaro, Rosinei Bigatão, Valéria Leite, Emerson Lopes, Edval Quiomido, Gilberto Juvenal (Gibinha), Gilberto Fagundes, Ecilda Stefanelo, Eduardo Almeida, Nelson Mandú e Edmir Conceição. Vários outros profissionais não puderam estar presentes, mas enviaram mensagens e justificaram a ausência, entre eles o primeiro repórter-cinegrafista Pio Lopez (naquela época o repórter entrevistava e operava a filmadora ao mesmo tempo, com apoio do motorista, que atuava como auxiliar técnico e iluminador.

MEMÓRIA

Em homenagem a cinegrafista, profissionais destacam legado dos precursores da televisão

No encontro, a principal preocupação manifestada pelos precursores e profissionais que chegaram na fase de implementação do jornalismo televisivo, é a de resgatarem e preservar a memória da TV Morena, que nasceu de uma ideia que foi amadurecendo em encontros informais do empresário Eduardo Elias Zahran com Mendes Canale e Plínio Barbosa Martins, que considerava audacioso um projeto “nos confins da pátria”, um investimento de “alto risco”, como contou Tokuei Nakao. Tokuei Nakao chegara a Campo Grande aos 28 anos, logo no início da década de 1960 e por vezes ouviu Eduardo Zahran falar da ideia de instalar uma emissora de televisão.

Tokuei Nakao lembra que as reuniões entre Eduardo Zahran, Mendes Canale e Plínio Barbosa ocorria na farmácia na esquina da Avenida Afonso Pena com a Rua 14 de Julho. Mendes Canale era prefeito de Campo Grande e na inauguração da TV, em dezembro de 1965, destacou o “espírito empreendedor” de Eduardo Zahran. “Campo Grande precisa de uma novidade”, dizia o empresário. Para colocar em prática o projeto, Eduardo convenceu o irmão Ueze a abandonar um outro projeto fora de Campo Grande, no setor de alimentos, e chamou também outro irmão, Jorge Zahran, para a empreitada.

“A televisão era um projeto que Eduardo Zahran pretendia executar, mas sem nenhum propósito de ganhar dinheiro”, disse Nakao em um documentário apresentado pelo primeiro repórter da emissora, Pio Lopez. “Era um visionário, ele via perspectiva de oportunidades”. A concessão da emissora não foi fácil, foram quatro meses de negociação e reuniões com a direção da TV Tupi, que já estava 15 anos com programação aberta, no ar.

No dia da inauguração, em meio a cortes de energia, fato que se repetia diariamente naquela época, o então prefeito Mendes Canale disse que “ninguém acreditava que teríamos um canal de televisão, as pessoas só acreditaram tempos depois, todo mundo falava que era um circuito fechado, uma invenção, fruto do espírito criativo de Eduardo Zahran”.

“Apesar das imagens no ar, os incrédulos seguiam zombando e foi quando fui procurado pelos irmãos Zahran para que eu falasse e assim todos puderam ver que não se tratava de um circuito fechado, as imagens eram ao vivo”, disse Mendes Canale.

Em depoimento ao repórter Pio Lopez, a filha de Eduardo, Laila Zahran, fala com entusiasmo sobre a obra do pai. “Foi uma experiência incrível, porque todos esperavam novidades e queriam ver Campo Grande prosperar. Não eram todos que podiam ter um aparelho de televisão. A gente colocava uma televisão na varanda e as crianças vinham assistir aos desenhos animados. Tudo foi muito importante para aquela época de descobertas, havia uma curiosidade imensa de saber como aquilo funcionava. Ele (Eduardo) foi o pai de todos, admirado pela inteligência, criatividade e dedicação, índole e humildade na relação com as pessoas.”

Antes que o corte de energia interrompesse momentaneamente as transmissões naquele 25 de dezembro de 1965, a TV Morena colocou no ar a mensagem:

“Família e Juventude de Campo Grande, recebam estas imagens que vão lhes proporcionar conhecer e acompanhar as notícias e as novidades do mundo todo. Portanto, é um presente de Natal que oferecemos”. 25 de dezembro de 1965. Eduardo Elias Zahran”.

A MARCA DO TELEJORNALISMO

Em homenagem a cinegrafista, profissionais destacam legado dos precursores da televisão

O Jornalismo da TV Morena moldou sua marca logo depois de se tornar afiliada da Rede Globo, que foi a escola e depois, segundo os funcionários mais antigos, a emissora passou a formar seus profissionais, técnicos, jornalistas e cinegrafistas, “profissionais que aprenderam fazendo, superando desafios”, como diz Ecilda Stefanelo, a primeira editora do jornal da emissora e que liderou a equipe de rede, quando as equipes locais produziam reportagem para o Jornal Nacional, transmitido à noite, no horário nobre. Era o único telejornal da emissora.

“A TV Morena foi a primeira a ter um jornal no meio do dia, nem a TV Globo tinha”, lembra Marcão (Marcos Silveira), primeiro cinegrafista, ao lado de Pio Lopes e Jesus Pedro. Marcão operava os equipamentos internos e Pio Lopez e Jesus Pedro faziam as “externas”, reportagens em que o repórter e o cinegrafista era a mesma pessoa”.

Marcão lembra que naquela época quem filmava era chamado de “operador de mini-tape” e cinegrafista era denominação de quem filmava em película, com equipamento de cinema. A TV Morena chegou a usar esse equipamento por pouco tempo no início, inclusive montou um laboratório para a revelação dos filmes”, lembra Marcão, ressaltando que a TV Morena e a equipe de técnicos e jornalistas enfrentaram todos os desafios tecnológicos e “com muita garra” superaram as inovações, sem perder “o time” das mudanças que vieram a seguir.

Entre os fatos noticiados e que tiveram grande repercussão os antigos profissionais lembraram da cobertura do tratamento do então governador Ramez Tebet, em São Paulo, diagnosticado com câncer. Bosco Martins era o repórter e Wilson Bisol o cinegrafista.

Outro fato de grande repercussão nacional foi o episisódio da revolta dos kadiwéu em Bodoquena, quando o repórter Bosco Martins e o cinegrafista Jeferson Parra foram feitos reféns. Bosco acabou liderando o acordo em que a Funai se dispunha a acelerar o processo de retomada das terras indígenas, na época acupada por arrendatários.

Os índios mantinham quatro reféns e a TV Morena enviou equipe para a área, ocupada por aproximadamente cem indígenas. Bosco, Parra e o piloto do avião da TV Morena ficaram por duas horas dominados pelos kadwéus, que reivindicavam a posse de mais de 300 mil hectares de terras entregues em pagamento à atuação dos índios na Guerra do Paraguai. Bosco Martins intermediou o acordo, sendo liberado para buscar o presidente da FUNAI, Gerson Alves, e o deputado Mário Juruna. O acordo garantiu o pagamento pelo arrendamento das terras e desocupação das fazendas no prazo de 90 dias.

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