Início Colunista Elairton Gehlen: ‘Um lugar no mundo: Natal’

Elairton Gehlen: ‘Um lugar no mundo: Natal’

Elairton Gehlen – escritor –

Eu estava resistindo a escrever sobre a viagem que fiz em outubro, já me bastavam os três ou quatro textos que publiquei antes de voltar, mas, afora a caipininha bebida pela vozinha de oitenta anos no restaurante Caranguejo e as Loucuras do Mercado Imobiliário que busca convencer turistas comuns a fazer investimentos em Resorts que não existem, acho que nenhuma referência a mais eu fiz, então, aqui vão algumas curiosidades que julgo úteis de alguma maneira para a literatura. 

Fundada há mais de quatrocentos anos, é de se esperar que os políticos tenham conhecimento e sabedoria suficientes para planejar adequadamente os projetos importantes para a cidade. Começando por onde se chega, o aeroporto, que ficava em Natal, relativamente próximo do centro urbano, foi substituído, por ocasião dos jogos da Copa do Mundo de Futebol, por um novinho que fica no município de São Gonçalo do Amarantes, a quarenta quilômetros de Natal! Excelente localização, para as empresas de turismo que fazem o transfer dos passageiros e aproveitam para vender pacotes de passeios.  

Embarquei numa dessas Vans e fui ouvindo as histórias do guia por quase uma hora até chegar no hotel onde ficaria hospedado por catorze dias. Não demorou e as gracinhas começaram. Guias parecem ser treinados para fazer graça e animar os turistas, o de plantão, de nome Tiago, na Van do transfer, não fugiu à regra. Moreno, cabelos pretos e olhos escuros, dizia ter sido loiro, branco e olhos verdes antes de ser guia de turismo em Natal. O motivo? O Sol! Por estar muito próximo da linha do equador, o sol de Natal é mais intenso que nas demais regiões do Brasil. Taí, para quem ama a negritude, Natal é um bom lugar para a alemoada descontente! 

Talvez eu ainda diga por quê, mas demorei uns três dias até fazer o primeiro passeio turístico. O porquê não tem tanta importância, o passeio, talvez. O Rio Potangi, que significa rio de camarão, é por onde os portugueses adentraram o território brasileiro no século XV. Os Potyguares, denominação dada aos cidadãos do Rio Grande do Norte, juram que o descobrimento do Brasil se deu lá, nos arredores de Natal. Esse mesmo rio, o acesso ao mar e o porto, foram entregues à Marinha dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, foi ali que os Norte Americanos instalaram a primeira base militar na América Latina. Os natalenses tem um certo orgulho disso, cá entre nós, não consigo entender o orgulho de se ter uma base das Forças Armadas gringas em nosso país, sei lá! 

A praia mais famosa é a Dos Artistas, imprópria para o banho, muito poluída, quem se hospeda por ali deve procurar outras praias mais próximas, e têm! Fiquei na praia de Ponta Negra, onde o principal atrativo é o Morro do Careca, lá não se pode subir, é proibido! Me disseram que o local mais bonito para se visitar em Natal eram as praias de Pipa, eu fui. Assim como o aeroporto, Pipa também não fica em Natal, mas em Tibuaçu a oitenta e cinco quilômetros de distância. Fora esse, acho que o que mais me chamou a atenção foi São Miguel do Gostoso. Antes de chegar lá fizemos uma parada charmosa onde a BR 101 inicia, no meio do nada, ali tem um arco em homenagem a obra, desenhado por ninguém menos que Oscar Niemayer! 

 Por ter permanecido isolado por muito tempo e frequentado principalmente por turistas estrangeiros, o comércio de São Miguel do Gostoso teve grande dificuldade de vender produtos para os turistas por falta de moeda corrente, daí surgiu a ideia de inventar uma moeda própria para o comércio local, o “Gostoso”, até hoje aceito no comércio local, apesar de estar em desuso, não há quem não queira tirar uma foto de uma nota valendo dez gostosos, quem não quer?  

Se este texto serve de alguma maneira para a literatura, os “três dias” que demorei para fazer o primeiro passeio, e mais alguns dos catorze da viagem, gastei com três motivos em especial: Finalizar meu livro de Contos, Crônicas e Poesias que desejo publicar em breve, vagabundear pelas praias e encontrar um sujeito meio louco chamado Elairton Gehlen, que se intitula ‘escritor’. Fiz quase tudo! 

Sair da versão mobile