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Elairton Gehlen: ‘Livros, uma ameaça no shopping’

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Elairton Gehlen – escritor 

Eu já sabia que livros são uma arma perigosíssima na mão de pessoas comuns, mas só hoje percebi o quanto! Eu já publiquei dois livros e o terceiro deve ser editado logo, então eu pensei em distribuir gratuitamente alguns que ficaram comigo, das publicações anteriores. De vez em quando pego alguns livros e distribuo nas ruas ou em algum comércio e isso é muito legal porque as pessoas perguntam se é de graça, aí eu digo que sim e isso parece algo incrível, inacreditável. Como alguém pode distribuir livros de graça? 

Eu tenho plena consciência da rebeldia dessa atitude. O livro é um produto comercial, nele há um grande investimento de trabalho do autor, muitas horas de revisão e o custo da gráfica. Não é difícil calcular o custo individual e então acrescentar um percentual de lucro e vende-lo por um preço final. Disso o capitalismo não pode me acusar, tudo eu fiz e até vendi uma boa quantidade de livros, o suficiente para cobrir as despesas de produção. 

Hoje eu decidi que ia distribuir gratuitamente alguns livros, poucos na verdade, uns vinte, dentro do Shopping Center daqui de Dourados. Entreguei um para a moça que media a temperatura na porta, daí outro para a vigilante e continuei andando pelos corredores entregando um exemplar para cada cliente que encontrava. Mal distribui meia dúzia de exemplares e a vigilante me alcançou, pediu que eu parasse imediatamente a distribuição e até me devolveu o livro que recebera com alegria minutos antes. 

– O senhor não pode distribuir livros aqui no Shopping. 

Desculpou-se várias vezes, mas foi bastante enfática ao dizer que o chefe da segurança lhe havia solicitado providências imediatas quanto a minha atitude. Parecia ser algo muito perigoso! Confesso que fiquei bastante confuso, acho que ela também, mas a ordem era expressa para eu parar a distribuição imediatamente ou ela teria que fazer com que eu me retirasse do ambiente. 

– Foi o chefe da segurança, pediu para eu devolver até o livro que o senhor me deu, é uma questão da segurança do Shopping. 

Me dirigi até a porta de saída do empreendimento, devidamente acompanhado pela segurança e antes de sair ainda tentei mais alguns esclarecimentos, ao que a moça da guarda acionou pelo rádio o chefe que veio para me dizer que livros não podem mesmo ser distribuídos, não é seguro permitir isso nesse lugar! 

Numa última tentativa de ganhar a simpatia do chefe da segurança, perguntei se podia deixar alguns exemplares para que, ao final do expediente ele pudesse distribuir aos funcionários da vigilância, seus subordinados. 

– O senhor está querendo saber informações sobre a segurança? Não posso se quer receber seu livro, são normas do Shopping! 

O Shopping Center é o Outdoor do capitalismo, um lugar onde as pessoas podem comprar de um tudo que de alguma forma gere lucro no sistema, até livros, desde que sejam comprados, mas quando eles chegam de graça, para pessoas que não os comprariam, isso parece muito perigoso. Livro são uma ameaça, são muito perigosos! 

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