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Desde 1968 - Ano 56

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Elairton Gehlen escreve: ‘O ouro verde e as estatísticas do geborenhaus’

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José Carlos Geborenhaus é um sujeito pacato que vive em uma localidade pequena do Paraná, na fronteira com o Paraguai, onde trabalha como cartorário. Parece que tem uma praga nesta região, ele me disse quando conversávamos na feira livre em Marechal Cândido Rondon, quando lhe entreguei um panfleto do meu Poesia Verde. Os poetas entendem melhor as coisas, disse gesticulando ao ar como a querer pegar algo até então invisível, pelo menos aos meus olhos. Só então deu mesmo atenção ao panfleto: Verde! É isso, tem uma praga e ela é verde, os agricultores chamam de Ouro Verde. 

Cartorário de longa data, há pelo menos trinta anos, Geborenhaus é um daqueles sujeitos que busca por respostas o tempo todo. À quais perguntas? Não importa! Seus pensamentos estão buscando informações que ‘talvez possam ser úteis’. Assim, passara a dedicar tempo e esforço em pesquisar nos arquivos cartoriais de sua pequena cidade sobre o porquê de haver cada vez menos registros de nascimentos e casamentos enquanto que o de propriedades aumentava ‘aproximadamente’ na mesma proporção. Mais propriedades para menos proprietários!  

Uma conversa dessas pede mais tempo, então saímos do meio daquele tumulto de gente que rodeava as bancas da feira e fomos para o outro lado da rua onde tem um barzinho e ali ficamos vendo o movimento de longe, enquanto comíamos pastel e meu amigo tomava uma cerveja, não me arrisquei, na volta teria que passar pelo posto da polícia federal na rodovia entre Marechal Rondon e Quatro Pontes. Pedi um café com leite que bebi em goles pequenos, estava bem quente, ótimo para uma tarde fria de inverno. 

Meu novo amigo mal tocou nos pasteis, bebeu cerveja e falou na mesma empolgação com que trabalhava no cartório buscando informações para suas perguntas. Não citava números específicos, não me interessa quanto, mas por quê! Franziu a testa, olhou para o movimento da feira do outro lado da rua, balançou a cabeça de um lado para o outro informando um ‘não’ dos seus pensamentos, tomou o pastel, do qual comeu a primeira de duas mordidas que daria, tomou mais um bom gole de cerveja, pôs o copo sobre a mesa e, com o dedo indicador diretamente ao meu rosto disse: Esses caras estão virando relíquias! É isso! Esse verde das verduras e legumes não é o ouro! Então calou-se, abaixou a mão que me indicava, mas continuou com o dedo indicando um lugar qualquer no chão, aleatoriamente conforme respirava. Ficou alguns segundos em silêncio olhando para o infinito atrás de mim, encheu o copo de cerveja que tomou de um gole só, encheu outra vez, ergueu o copo em minha direção com movimentos mais expansivos que fizeram a cerveja derramar abundantemente por sobre a mesa, tomou o que restou e pôs o copo outra vez na mesa, sobre a qual apoiou as duas mãos para se erguer. Em pé, olhou em volta e, com os braços abertos finalmente revelou seu surpreendente entendimento acerca dos números cartoriais: 

– Commodities, isso, são as commodities! 

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