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Elairton Gehlen escreve: ‘Conversa de namorados pelo WhatsApp’

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Elairton Gehlen – escritor 

Sabe o que eu quero agora? Perguntou a moça pelo WhatsApp. Não sei, disse o rapaz, mas se você me der uma dica… Não posso, respondeu a moça fazendo suspense como dever ser quando o relacionamento está perto de um compromisso maior e vale mais o desejo do desconhecido que a certeza da insegurança. Hummm… escreveu o rapaz no WhatsApp enquanto pensava em como escolher uma entre as mil possibilidades do querer da moça.  

Apaixonados tem essas conversas desentendidas e parece que quanto mais desentendido mais eles se entendem porque os signos que realmente dão sentido não são os códigos linguísticos mas as sensações que o não entendido das palavras provoca fazendo com que esta ou aquele fique absolutamente envolvido com o não saber do outro e o desejo de realizar o desejo. Oi, disse a moça esperando pela resposta do rapaz. Oi, disse o rapaz e perguntou se o que ela queria era medido em centímetros ou em valores monetários. 

Não querendo dar a dica, para a brincadeira continuar, mas tendo que responder à pergunta, ela disse que o comprimento existia, mas tinha outros valores de medida e que dinheiro era importante, mas usado de outra maneira que em pagamento direto. 

Taí a simplicidade das coisas de quem ama! Se o amor pode ser descrito em cinco linguagens, talvez essa do WhatsApp seja a que vem antes da primeira. Não é uma linguagem propriamente dita, é mais uma espécie de murmúrio quase ininteligível à comunicação verbal, mas tão agradável que é capaz de manter nesse diálogo um casal de namorados por horas a fio. 

Tentando racionalizar o pedido, o rapaz pensou em comprar uma pulseira com pedras brilhantes, mas a mesada que recebia dos pais não seria suficiente e a moça sabia disso, de modo que não deveria estar pedindo isso. Talvez um boné de marca que custa cem reais ou um anel. Pensou em quase tudo que ela demonstrara algum interesse na última semana, mas racionalizou que tudo seria pago diretamente com dinheiro, condição descartada por ela quando perguntou sobre o valor monetário. 

Com o celular ligado na tomada e o pai chamando da porta para que fosse dormir, a moça chamou o rapaz de meu bobo e completou dizendo que tinha que desligar, mas mandou ainda uma última mensagem para decifrar a charada: O que eu quero, ela disse, já está dentro de mim! 

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