fbpx

Desde 1968 - Ano 56

18.2 C
Dourados

Desde 1968 - Ano 57

InícioColunistaEduardo Martins: 'A baleia' e o amor

Eduardo Martins: ‘A baleia’ e o amor

Fonte: https://www.em.com.br/app/noticia/diversidade/2023/02/27/noticia-diversidade,1462421/o-preconceito-por-tras-da-sensibilidade-de-a-baleia.shtml. Acesso em 03 fe, 2023.

Já falaram sobre o amor, definiram, divagaram, poetizaram, e demais coisas sobre essa coisa/sentimento singular do ser humano. Todo mundo já falou e fala, todos têm uma definição, uma explicação empírica, teórica ou escabrosa, ou uma história dele.

Sendo assim eu também vou falar, afinal eu também amo, portanto, tenho lugar de fala. Falo que deveria ser proibido por decreto definir o amor. Decreto 01/23 “a partir de hoje está expressamente proibido definir o amor em palavras faladas e escritas, sob pena de 200 chibatadas em praça pública aplicadas com amor”. Cumpra-se.

Acho que foi o Platão que começou com essa história de definir o amor; um negócio da alma, idealizado, depois o São Paulo de Tarso vai fazer uma missa católica entorno do amor, falando que é caridoso, disse que é paciente, é bondoso, depois foi o Camões que teorizou falando que é fogo, na verdade revela um tipo de amor oximoro.

Tantos e tantas pessoas escreveram alguma coisinha em seus livros ou tratados; Romeu e Julieta seria o ápice do amor romântico que se morre por essa coisa, temos a lenda britânica de Tristão e Izolda que também tem fins trágicos, a lenda de Drácula da Transilvânia é também uma história de amor de um cristão, cruzado, vai pra batalha contra os muçulmanos com a promessa da Igreja de abençoar o seu amor o que não aconteceu e o coitado amante foi condenado pela eternidade a beber sangue humano. Histórias e mais histórias são contadas sobre o amor e suas facetas; macabras via de regra, vide Capitu e Bentinho; ou no Sertão Diadorim e Riobaldo, por que Rosa não deixou Diadorim homem?

Poetas, literatos, filósofos, santos, loucos escreveram sobre o amor, pra quê e pra quem? Por quê? Afinal se chegou a alguma conclusão? Não.

Cada pessoa acha que sabe suficientemente sobre o amor a ponto de dar longas lições; explanar, expor, jurar de pés juntos que sabe o que é essa maluquice ou desvario ou sandice ou loucura ou bobeiragem, etc., podem chamar também de beleza, pureza, divindade, algo que o valha, sentido positivo, otimista e bom.

Eu vou defender meu decreto 01/23 ninguém mais deve tentar definir isso por escrito ou fala.

É tudo sobre amor, canto de Ossanha falou que amor só é bom se doer, nisso eu tendo a acreditar, saravá.

Mas, se acaso for uma um fio, qual é a sua tensão? Se for fogo de fato, qual a sua temperatura máxima? E se gelo for, qual sua temperatura mínima? No entanto, se for escada, qual a sua altura? Por fim, se for tempo, qual sua idade, séculos, eras? Ele depende da moral ou mais de fatos concretos, ou apenas palavras bastam? Digo isso porque um belo dia se ama intensamente, o amor máximo e esplêndido, mágico e maravilhoso, porém uma simples atitude do ser amado, um “derrapão”, um “deslize”, uma pequena “falha”, ou lapso, como se esquecer de tomar o café da manhã ou uma conversa num celular pode jogar o intenso amor água abaixo, no ralo. Amor de meses e anos se esfumaça física e materialmente, deixando em seu lugar o não-amor, o amor sofrido, a dor no coração; aqui acho que existe consenso, o lugar do amor é o coração; fisicamente ele dói quando o amor aperta, correto? Portanto, ainda assim defendo que o fim do amor é amor, aqui sem querer definir, senão cairia em contração no meu raciocínio, explico; é amor em ausência.

Acho meio estranho o amor que se mata e se morre, o tal do crime passional, e tem até atenuante! Vossa excelência minimiza a pena do condenado que mata por amor, curioso, né? Mas, é a lei e neste caso ela é branda confronta o dito romano da “dura lex, sed lex”. O magistrado sabe que amanhã pode ser a vez dele que confrontar a lei neste caso de amor traído, justiça em causa própria. Já vi juiz falar em “crime por honra”, trocando em miúdos, um corno bravo mata sua esposa e não é punido pelos rigores da lei de femicidío, corno manso é outra vibe, acho que este ama de verdade, a ponto de dividir o amor, de confraternizar com o próximo, será?

Mas, ainda não para por aí, tem sempre mais alguém dando um belíssimo pitaco, apalavrando ou rogando o saber sobre Ele; desta feita vai mais uma “esse desconhecido o amor”, ou “não existe amor, só provas de amor” e por aí segue a saga.

Quero deixar claro que essas são meras divagações sobre o amor, não tem finalidade nenhuma e só vale para mim, até porque cada um tem a sua teoria e vale igualmente para si.

Finalmente, ontem vi o filme “A baleia” (2022), direção de Darren Aronofsky, trata-se de um filme sobre amor, o amor em suas faces cotidianas doloridas, sofridas e dramáticas, num enredo forte e realista que amarra realismo, em tons cinza, num cenário “que fede”, e que exala o amor nas personagens, o amor e sua essência mortal, podem chamar de loucura, doença, entre outras palavras do gênero, mas é amor. O cenário novamente é parado, é mórbido, é lento, sujo. “A baleia” retrata a busca de nós por nós mesmos, ao mesmo tempo em que nos afasta de nós mesmos, por amor, sempre; é a saga de um homem em busca de uma “baleia” (amor) é uma metáfora da condição humana e da caça a um animal, a baleia, ser gigante, imponente, forte, destruidora; o próprio amor? No filme os personagens, sete, se revezam em seus dilemas de amor.

Bom filme.

Eduardo Martins, aos 2 dias de março, do ano 523 da invasão portuguesa contra as terras indígenas e massacre do povos originários pela Igreja e pela Coroa Portuguesa.

- Publicidade -

ENQUETE

MAIS LIDAS